Orquídeas e Vinho Suave

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"Boa é a vida mas melhor é o vinho"
Fernando Pessoa

Soraya Thronicke

Ainda era quarta-feira e eu contava as horas para o plantão terminar, a semana não estava fácil e tendia a piorar. O caso que Helena trouxe não saiu do lugar e quanto mais nós procurávamos, mais nebuloso tudo aquilo ficava. Ao que tudo indicava, a chefe da quadrilha chegaria ao Brasil no final desta semana, então estávamos com a cabeça a mil, planejando tudo para que nada saísse do controle e resultasse em uma operação falida.

Durante esses dias, eu não tinha visto Simone e nem recebido telefonemas. Depois da nossa noite, quando cheguei em casa, ela havia mandado flores e chocolates e isso me fez pensar se aquilo era um sinal de que ela abusaria da proposta, mas me surpreendeu quando não apareceu na em casa a noite e a semana seguiu sem sequer uma notícia a seu respeito.

Pelo visto não foi só eu e Simone que nos acertamos depois da festa de Leany, Helena e Renata estavam se conhecendo melhor e isso me deixou muito feliz, há muito tempo Renata não se envolvia com ninguém, e a meu ver, ela e Helena formavam um belo casal.

Após muito pensar sobre casais e como as pessoas são feitas umas para as outras, uma vontade súbita de falar com Simone tomou conta de mim. Não sabia se era uma boa ideia e nem havia decidido se chamá-la para a minha casa mais uma vez era uma boa ideia, mas a vontade crescia minuto a minuto dentro de mim, queimando meu peito e me impulsionando a fazer uma ligação. 

— A pergunta que não quer calar — Déborah apareceu com um café, me tirando do mundo dos pensamentos — A Simone já deu as caras? — Me entregou a caneca.

— Ainda não, mas assim está ótimo —  Beberiquei o líquido, mentindo sobre estar tudo bem com aquela ausência quase gritante de minha ex mulher. 

— Você fez uma proposta daquela, ela ainda não apareceu e você diz que está ótimo? Mente tanto que acredita na própria mentira — Me encarou —  Eu no seu lugar acharia muito estranho.

— Não estou mentindo, só acho que assim está bom — Desviei o olhar, não queria que ela enxergasse a minha fragilidade — Pelo menos ela não invadiu o meu espaço e outra, com a loucura que está isso aqui, eu não teria cabeça pra lidar com Simone, sentimentos e tudo o que a nossa relação envolve.

— Mesmo assim — Déborah continuou.

— Ta, pensei em chamá-la para ir lá em casa hoje — Respondi como quem não quer nada, esperando uma aprovação de minha amiga. Dei um gole generoso no café, a observando por cima da caneca.

— Finalmente, dona Soraya — Agora vai!

— Como assim, agora vai? Não entendi

— Amiga, você vai me desculpar, mas só a Simone corre atrás de você — Me encarou, fazendo-me entender que o assunto acabara de ficar mais sério — Não acha que está na hora de você fazer alguma coisa por ela? Melhor, por vocês.

— Não tem vocês!

— Não tem porque você não quer! — Sentou-se na minha frente — Posso te fazer uma pergunta? — Concordei, sabendo que viria bomba — Você realmente não voltaria com ela?

— Eu e Simone já não somos um casal há muito tempo e eu não vejo isso acontecendo outra vez — Me levantei, inquieta demais. Odiava como sempre alguém precisava rotular a nossa relação. Será que não havia uma forma das pessoas entenderem que a gente curtia se pegar, mas que casamento não era uma opção?! Ter que explicar isso todas as vezes me deixava cansada. Me deixava ainda mais exausta o fato de que precisava repetir o mesmo internamente para mim mesma todas as vezes que ela amanhecia na minha cama.

Veredito de Uma PaixãoWhere stories live. Discover now