O Amanhã

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Simone Tebet

"O amor é igual o dia seguinte, você sabe que ele vai vir, você não sabe como ele vai ser, ele simplesmente vem, às vezes são bons, às vezes maus, às vezes normais demais."

O dia seguinte chegou e com o amanhecer algo que eu já tinha esquecido me trouxe a certeza de que valeria a pena tentar mais uma vez. Não que eu tivesse dúvidas, mas ter o meu amor de volta, em seus braços, na cama onde por 28 anos foram feitas juras de uma paixão eterna, me trazia algo diferente e tão familiar ao mesmo tempo.
Soraya dormia tranquilamente em meus braços, iluminada pelos raios de sol que adentravam a janela, e que deixavam sua pele ainda mais bonita. São esses pequenos detalhes que me fazem amá-la ainda mais. Em mim, não havia vontade de levantar, mas havia uma vontade ainda maior de fazê-la se sentir amada. Com cuidado, me levantei e peguei seu robe na cabeceira da cama. Fui em direção a cozinha para preparar nosso café mesmo sabendo que Neide já havia cuidado disso, eu queria fazer uma coisa que só eu sabia fazer, a minha salada de frutas vermelhas.

— Bom dia, coisa mais linda da minha vida — Cheguei na cozinha assustando a mais velha.

— A senhora quer me matar, dona Simone? — Disse, colocando a mão no coração, me fazendo rir.

— Jamais faria isso com a minha maior cúmplice — Pisquei para ela — Preciso da sua ajuda!

— Antes eu posso fazer uma pergunta? — Falou meio receosa e eu apenas assenti — Eu sei que não é da minha conta, mas a senhora dormiu aqui?

— Sim, eu dormi aqui! — Ela sorriu

— Então vocês se acertaram? — Perguntou esperançosa quase batendo palminhas.

— Ainda não, mas sinto que estamos no caminho — Sorri de lado — Já foi um grande passo eu ter passado a noite aqui. Aqui, tudo tem gosto de amor, do nosso amor. — Suspirei, quase me esquecendo o que fui fazer.

— Eita, como é romântica. Dona Soraya tem tanta sorte — Ela disse rindo — Mas diga, o que a senhora precisa?

— Junta pra mim todas as frutas vermelhas da geladeira

— A senhora vai matar a dona onça com isso — Neide me interrompeu — Ela mata e morre por essa salada, eu já disse pra ela falar pra senhora fazer, mas ela disse que não pede nem sob ameaça — Me entregou as frutas — E eu não sei fazer igual a senhora.

— Hoje ela vai comer e nem vai precisar pedir. Sabe Neide, o segredo de tudo é o amor — Pisquei e a mais velha sorriu de volta — Arruma uma bandeja pra mim, por favor — Ela concordou e saiu me deixando sozinha, preparando o que Soraya jurava ser a oitava maravilha da culinária.

Dez minutos depois tudo já estava pronto e eu analisava a bandeja: suco de maracujá, torradas, iogurte com granola, um café sem açúcar, suas vitaminas e a sua salada de frutas vermelhas. O mais difícil vem agora, eu não sabia como seria acordá-la, mas esperava que Soraya cumprisse a promessa de ontem. Peguei a bandeja indo em direção ao quarto e ouvindo ao fundo Neide me desejar boa sorte. Mas eu não queria contar com a sorte, queria contar com o amor. Entrei, e lá estava ela, abraçada ao travesseiro que eu havia dormido, com o lençol até a cintura, expondo sua pele bronzeada. Me aproximei, colocando a bandeja aos pés da cama e me deitando ao seu lado.

— Eu te deixaria dormir o dia todo se não tivesse uma salada de frutas te esperando — Sussurrei em seu ouvido, fazendo com que a minha loira despertasse manhosamente.

— A sua salada? — Se mexeu — Isso é melhor que bom dia!

— Bom dia, meu amor! — Tirei o cabelo do seu rosto — Eu acho que seu beijo é melhor do que a salada — Ela abriu os olhos e pude ver o quão claros eles estavam, sinal de que ela estava calma. Ponto pra mim!

Veredito de Uma PaixãoWhere stories live. Discover now