1. safe zone

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Essa manhã estava sendo agitada. Porchay pulou da cama antes do seu alarme tocar, e a primeira coisa que fez foi olhar o celular para ver se tinha qualquer notificação dele. Quando desanimou ao não encontrar nada, apenas enviou alguns emojis, e se animou novamente, correndo em direção ao armário a procura da roupa perfeita para aquele dia especial.

Desde que se lembra, ou, pelo menos, durante a maior parte de sua infância e adolescência, era Porchay por Kimhan e Kimhan por Porchay.

Quando o pai de Porchay veio a óbito após se envolver em um acidente feio de carro, e sua mãe decidiu voltar para a casa de sua família, levando seus dois únicos filhos pequenos, foi que sua vida mudou completamente.

Porchay Kittisawasd tinha oito anos quando conheceu o jovem mestre, Kimhan Theerapanyakul. O filho mais novo do irmão mais velho de consideração de sua mãe, senhor Korn Theerapanyakul.

A primeira coisa que sua mãe havia explicado antes de se mudarem para aquele lugar enorme, era que eles não eram parentes de verdade, já que sua mãe foi adotada pela família Theerapanyakul quando era pequena. Não havia laços de sangue, e após anos morando na mansão, Porchay nunca conseguiu sentir que era parente daquelas pessoas. Mas os respeitava muito.

Assim como seu irmão Porsche, Kim era cinco anos mais velho. Ele também tinha irmãos mais velhos, Kinn e Tankhun. Mas por algum motivo, desde que se conheceram, Porchay se apegou mais a ele.

Desde pequeno, Kim tocava vários instrumentos musicais, e cantava. Quando Chay se escondia e chorava, com saudade do pai, somente Kim conseguiu encontrá-lo encolhido na sala mais distante e silenciosa da mansão. Ele cantava e tocava para Porchay, e apenas isso era capaz de consolar o pequeno.

Kim ensinou a Chay como segurar corretamente o violão e a postura a se tomar em frente ao piano, ele o orientou em seus primeiros acordes desengonçados, e levou Porchay a um festival de música pela primeira vez. Ele ajudou Porchay a escrever sua primeira música, chegou até a compor uma canção para ele. Quando Porchay estava passando por perrengues na escola, Kim o ajudou. Quando Porchay se sentia triste ou magoado, Kim conseguia animá-lo, e vice-versa.

Chay se tornou o maior admirador de Kim, e se apegou a ele como nunca tinha se apegado a ninguém. Mas acima de tudo, eles nutriram uma grande amizade. Ele sabia que eram o porto seguro um do outro. O próprio Kim lhe disse isso uma vez. Ele se lembra com riqueza de detalhes, e é uma das lembranças que mais tem medo de esquecer.

Aconteceu meses atrás, quando Porchay havia concluído sua formatura do ensino médio. Após a festa, Kimhan o levou de carro até o seu novo apartamento. Em parte foi um momento triste, porque Porchay descobriu que Kim deixaria a grande casa onde moravam juntos. Mas na maior parte, foi bom, principalmente depois que foi assegurado o seu passe livre para visitar seu apartamento sempre que quisesse.

Chay lembra de ter se sentido muito convencido quando Kimhan confessou que era a primeira pessoa que contava a noticia de sua mudança, e a primeira que conhecia o seu novo lar.

Quando se deitaram lado a lado no tapete da sala praticamente vazia, Porchay se lembra da coisa engraçada que sentiu na barriga quando Kimhan acariciava com o polegar os seus dedos entrelaçados, e se virou para olhar para ele.

As lâmpadas do apartamento estavam desligadas, mas a luz da janela batia no rosto dele, e Porchay não conseguia parar de olhar de volta.

- Zona segura. - Kim havia dito baixinho, e Porchay se virou para olhar melhor pra ele.

- O que? - Ele perguntou, para ter certeza se tinha escutado direito. Kim o observou por um momento antes de responder.

- Você é a minha zona segura. - Ele disse, não tão baixo dessa vez, mas no tom certo para fazer um milhão de borboletas voarem pelo estômago de Porchay. Os dedos dele continuavam acariciando os seus. - Se eu te disser que pode estar dando tudo errado, mas só de olhar para você, ou falar com você, só isso já parece certo o suficiente para tudo ficar bem de novo. Eu não me sinto mal com você, só consigo me sentir bem. Estranho, né?

Depois de dizer tudo isso, ele riu, e desviou os olhos para o teto. Porchay fez o mesmo, com uma sensação quente no peito. Eu também, ele queria dizer, eu sinto exatamente o mesmo.

Mas de repente ficou tão nervoso que não conseguiu encontrar voz para dizer nada, torcendo para Kim entender quando se aconchegou para mais perto dele.

Meses depois Kim deu a pior-barra-melhor notícia de todas. Ele recebeu uma proposta irrecusável de trabalhar com uma gravadora americana famosa, que poderia alavancar sua carreira.

Ele já fazia algum sucesso nas redes, com músicas autorais e alguns covers, houve propostas antes dessa, de produtoras locais e estrangeiras. Mas essa era uma oportunidade boa demais para se recusar. Kim teria que ir embora, e ficaria lá trabalhando por, pelo menos, um ano.

Porchay odiou saber que Kim iria, e se odiou por se sentir tão mal com isso. Mas mesmo assim, com o coração apertado, apoiou e incentivou o seu melhor amigo.

Hoje fazem mais de 9 meses desde a ida de Kimhan, desde a despedida deles.

Hoje também é o dia em que Kim finalmente voltaria para casa.

that way [kimchay]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin