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       Meu pai, Juan, era gerente de uma empresa na Colombia, que propôs que nos mudássemos para Toronto, no Canadá. Agora, eu deixo para trás meus amigos, minha escola, e a minha vida construída.
       Na nova vizinhança, as casas são próximas uma das outras, e não possuem arquitetura latina, algo que sinto falta. Nossa casa tem o estilo americano: dois andares, cinza, porta de madeira, bastante janelas, três quartos e um quintal atrás.
       ― Não fique triste, mami, com o tempo você se acostuma ― Diz minha mãe, Gloria, tentando me reconfortar ― Vou fazer uma comida gostosa para te deixar animada.
       ― Tudo bem, mãe ― Me esforço para dar um sorriso.

        Apesar dos meus pais tentarem me deixar entusiasmada com a nova vida, eu não podia evitar de pensar na minha rotina antiga. Tem uns momentos que me esforço para ver o lado bom, mas me pego lembrando dos bares com músicas latinas, dos costumes e gírias dos próximos à mim, das casas antigas com senhorinhas na janela, dos patacones da vizinha Rosa... Eu amava aqueles patacones.
 

  ― Porém, eu preciso que você vá na casa branca ao lado pedir um pouco de sal. Nos apresentamos aos vizinhos hoje de manhã e já nos conhecem, só falar que é nossa filha.
       ― Eu nem sei quem mora lá. Não vou pagar esse mico! ― Cruzo os braços protestando.
       ― Então, nada de janta para você, Ana! ― Respondeu balançando a cabeça. Ela sabia que eu estava com fome.
       Passo pela porta e o frio atinge minhas pernas como atingia as árvores. A diferença é que elas não ficavam com frio. Andei apressadamente até a casa do lado e toquei a campainha.

       Talvez fosse a mudança de fuso horário. Talvez fosse porque eu estava com fome. Talvez fosse porque o cara que abriu a porta era daquele jeito, mas eu quase esqueci como se pronunciava decentemente uma palavra.
       ― Quem é você? ― sua voz ríspida me desperta.
       ― E-eu sou a vizinha nova ― Me anuncio trêmula, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. A coisa estava estranha. Ou eu estava. Ele descia o olhar para minhas pernas e deu um sorriso de lado ― Tá olhando o quê?
       ― Estou olhando o que você está mostrando.
       ― Pra você não estou mostrando nada ― Sinto minhas bochechas arderem. Esse cara é um tremendo idiota.
       ― Meu Deus, você deve estar congelando, entre! ― Uma mulher mais velha fala de trás da porta e eu sorrio aliviada.
       Dentro da casa estava tão quente, respirei fundo por não precisar mais abraçar meu próprio corpo. A casa possuía luzes amarelas, e a quantidade de móveis e cores a deixava pequena, porém familiar.
       ― Pelo sotaque posso adivinhar que você é a nova vizinha colombiana ― Ela diz de uma forma divertida e me dá uma piscadela ― Prazer, me chamo Karen Mendes, e esse é o meu filho Shawn ― Aponta com a cabeça para O Idiota, que estava escorado na parede olhando a situação.
       ― Prazer, eu sou a Ana Ramirez. Perdão incomodar, mas pode me emprestar um pouco de sal? Por causa da mudança nem fomos ao mercado ― Karen assentiu e foi à cozinha enquanto eu esperei na sala.
       Fiquei rígida. Qualquer um por perto conseguia sentir o olhar dele à quilômetros. Era como um peso invisível, onde você não sabe o local, só sabe que seu corpo está emitindo um alerta de: "Garota, tem algo errado".
       ― Para de olhar para as minhas pernas, pervertido. ― Exclamo baixo cerrando os dentes.
       ― Só estou admirando ― Ele diz com um tom íntimo folgado, me fazendo revirar os olhos.
       ― Outra, Shawn? Já é a quarta só essa semana ― Diz uma garota de cabelo liso escuro descendo as escadas.
       ― Não tô saindo com ela, Aaliyah ― dá uma risada despretensiosa.
       ― Bom, sorte dela ― Ela diz com deboche ― Me chamo Aaliyah, sou irmã do Shawn. Tem um tipo de gente por aqui que é melhor ignorar ― Diz e sai olhando ele de cima a baixo.
       ― Eu não sou tão ruim assim ― Coloca a mão no peito fingindo que ficou ofendido.
       Realmente não era. Shawn era um garoto de pele clara, cabelos escuros e os olhos do mesmo tom. E era alto. Bem alto. Julgando pelo jeito despretensioso e os comentários da irmã, eu diria que não era alguém que seria definido como bom caráter e respeitoso.
       ― Aqui está, Ana. ― me entrega um Tupperware, e retribuo dizendo "Muito obrigada" com um sorriso.

A história original foi feita pela Dani_do_Mendes, eu pedi autorização há um tempo, porém ela não respondeu. Provavelmente não escreve mais histórias.
Porém, os créditos são todos dela, apenas reescrevi a história com detalhes a mais e uma escrita melhorada <3

O IDIOTA DA CASA AO LADO | RemakeWhere stories live. Discover now