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       Mamãe disse ontem que a escola começaria no dia seguinte, segunda-feira. Bom, cá estou eu, 5:00 da madrugada esgotada gritando na janela pro idiota do vizinho parar de tocar guitarra.
       ― Os outros vizinhos não reclamam ― Responde do seu quarto.
       ― São idiotas igual você! ― Fechei a janela com raiva e puxei as persianas. Claro que à essa hora, não adiantaria mais tentar dormir. O que me restava era levantar e me arrumar para ir para a escola.
       ― Boa sorte fazendo amiguinhos, mami ― Minha mãe me dá um beijo no rosto na porta de casa.
       ― Você sempre teve boas recepções nas escolas, agora não vai ser diferente ― meu pai diz bagunçando meu cabelo.
       Seguindo o Google Maps, vou indo para a escola com o celular no bolso do moletom, mas olhando o mapa às vezes.
       ― Decidiu cobrir as pernas hoje? ― Uma voz masculina fala ao meu lado me fazendo saltar de susto.
       ― Maldito sea, idiota! ― Me surge a vontade de dizer todos os palavrões existentes em espanhol quando vejo ele.
       ― Que graça ― Dá um sorriso de lado ― Não me diga que tá brava porque toquei guitarra a noite toda?
       ― O que você queria? Que eu te aplaudisse? ― ele sorri.
       Olho de soslaio e percebo suas roupas: moletom rosa, calça de treino da Adidas e chinelo da Nike, o cabelo dele estava um tanto bagunçado. À essa hora eu já não olhava mais o GPS e ficava um passo e meio atrás para segui-lo, torcendo que não percebesse que eu não sei o caminho ainda.
       Quando passamos por uma última esquina, já dava-se para perceber a minha nova escola. Era um prédio com três andares, bem maior que a minha antiga.
       ― Cê tá com outra, Shawn ― diz um garoto dando risada cumprimentando-o quando nos aproximamos.
       ― Com ela? Não ― Ele responde rindo e fico com vontade de dar um tapa naquela cara convencida ― Ela é minha vizinha nova, chata pra caralho.

 ღ

       Meu plano B é concluir a faculdade, arranjar um emprego e trabalhar das 9h às 16h com o intuito de não morrer de fome. O plano A era nascer filha da Shakira.
       Eu quero continuar não passando por situações traumáticas na minha vida acadêmica, e quero continuar focando apenas em mim, eu, e eu mesma, mas me esqueço disso quando lembro que ele existe. Ter Shawn Mendes por perto ― especificamente na mesma sala de aula, é como uma tatuagem mal feita na sua pele: dolorido e incômodo.
       ― O que acha de irmos na final de boliche? ― Taylor perguntou, fazendo-me perceber que eu estava olhando para Shawn como uma cobra vingativa.
       ― O quê?
       ― Hoje à noite um time de boliche do 2° ano vai disputar a final, todo mundo vai.
       Eu realmente sou boa em conhecer pessoas novas. Eu apenas sentei em uma cadeira nos fundos da sala de aula e a Taylor Colins, que sentava na frente, começou a falar comigo. Sempre estou com cara que acabei de descobrir que comeram meu bolo que deixei guardado na geladeira, mas mesmo assim pareço estar com um convite aberto para falarem comigo.
       ― Pode ser. ― Ela dá um sorriso com a resposta

       Não sou profissional em boliche. Na verdade, não sou profissional em nada. Mas sou boa em muitas coisas. Agora, como explicar que o Shawn me convenceu à apostar uma partida?
       ― Revisando, se você perder, vai ter que desfilar de biquíni pra mim, certo? ― Pergunta entre sorrisos.
       ― E se você perder, vai fazer o que eu quiser, por uma semana ― Concluo.
       Eu posso ter apostado alto, mas meu ego se sentiu ofendido com ele falando "Vou pegar leve", "Tá com medo?". E los Ramírez-Delgados nunca tienen miedo!
       Estávamos empatados, e a próxima seria eu a jogar a última rodada. E à essa altura metade das pessoas do local estavam em volta assistindo. Fiquei apavorada, confesso. Mas uma das minhas coisas preferidas é decepcionar quem pensa que sou fraca.
       ― Você não vai acertar ― Ele disse em tom baixo e sinico.
       Quando a máquina disse strike, todo o peso nas minhas costas começou a flutuar pelo salão.
       ― Vai se foder ― Ele diz me mostrando o dedo do meio, me fazendo rir vitoriosa.



       Uma semana. Uma semana fazendo o que eu quisesse. Uma oportunidade grande, já que borbulho de raiva só de pensar naquele sorrisinho sínico da cara dele, mas o que eu faria ele fazer?
       ― Eu gosto do showzinho que você está dando ― A voz masculina surge, me fazendo perceber que eu estava dançando bem em frente à janela.
       ― Só consigo enxergar um idiota que vai fazer tudo o que eu quiser por uma semana.
       Shawn estava simplesmente lindo, sem se esforçar. Vestido com uma camiseta branca da My Chemical Romance e com os cabelos bagunçados, conseguia me deixar encantada. Não posso evitar de admitir.
       Depois de me arrumar, desço as escadas e vejo que meus pais não estão na cozinha. Provavelmente dormindo.
       ― Pensei que não fosse mais sair ― É. O idiota tava me esperando na porta.
       ― Eu não pedi pra me esperar. O que você tá fazendo aqui?
       ― Eu quero te acompanhar minha querida vizinha.
       Quase reviro os olhos, mas me lembro das oportunidades de ouro da aposta vencida. Meu sorriso malicioso se igualou ao da Cobra quando Eva comia a maçã.
       ― Quer saber? Você pode ir comigo ― Ele dá um sorriso divertido ― Mas você vai ter que me levar nas costas.

O IDIOTA DA CASA AO LADO | RemakeWhere stories live. Discover now