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Quarta-Feira, 18:03

       Hello Kitty Coffe Shop.
       Esse é o nome da cafeteria que minha mãe me colocou para trabalhar. Ela sabe que eu amo Hello Kitty, e quando viu um estabelecimento com uma foto da dita cuja em tamanho Outdoor escrito 'ESTAMOS CONTRATANDO' não podia perder uma oportunidade. Agora eu trabalho todos os dias em meio-período atendendo dois tipos de clientes: os que vêm no horário de almoço do trabalho, e os adolescentes curiosos que pedem o milk-shake sabor Algodão Doce com foto da Hello Kitty. Mas tem um em particular que me irrita profundamente. E ele é o pior de todos. O pior.

       ― Eu vou querer três mini hambúrgueres temáticos da Hello Kitty acompanhados da batata frita média, Sushi Hot Roll colorido, um mini brigadeiro, e um suco de morango pra combinar com o rosa do sushi. ― Shawn pede e eu reviro os olhos.
       ― Deu $48,45. Qual a forma de pagamento?
       ― Débito. E vou levar para viagem!
       Poucas coisas eu fazia com mal vontade, mas ele fez questão de entrar na loja faltando um minuto para eu ir embora. Um minuto. Eu tinha até tirado o avental kawaii! Já quero pedir demissão e esse é o meu segundo dia.
       ― Ana! Que coincidência te encontrar aqui! ― Shawn exclama em sorrisos quando me vê enquanto come o brigadeiro do lado de fora da cafeteria ― Sabe, a comida e estética dessa loja até que são agradáveis. Mas não posso dizer o mesmo da atendente, achei ela muito rude, sabe? Sem vontade de trabalhar. ― Que descarado.
       ― Você jura? Acho melhor não vir nunca mais então ― Digo tentando persuadi-lo enquanto andamos em direção à minha casa.
 

     ― De jeito nenhum! Com certeza vou voltar mais vezes. Adoro a Hello Kitty. ― Sorri.
       ― Te juro por Dios que eu tenho certeza que você nem sabe o que ela é.
       ― Para, ela é um ícone pop ― Diz com a voz engraçada igual o Jake de Brooklyn Nine-Nine de um jeito que me faz rir ― Quer? ― Me oferece um mini hambúrguer ― Você vai poder roubar e comer essas coisinhas quando quiser.
       ― Se eu não quiser receber salário, sim, eu vou.
       Paramos um do lado do outro em frente à minha casa. A despedida é sempre estranha. Às vezes nem tem uma, eu apenas viro as costas.
       ― Gosto da sua risada.
       O quê?
       Como ele diz isso assim?
       Do nada?

       O que eu deveria responder?
       Penso um pouco e respiro fundo.
       ― Gosto que me faça rir ― Ele me encara ― Tchau, Shawn. ― Ouço ele dizer um tchau bem baixo. Mas eu saí correndo.
       Fiquei com vergonha.

       Preciso encarar os fatos.
       Estou caidinha por Shawn Mendes.
       Caidona.
       Caidassa.
       Caídissima.

       Isso é ruim. Eu nunca gosto de ninguém, e quando gosto, quero ficar com a pessoa o tempo todo, falar com ela, tocar, abraçar. Mas não é do meu feitio implorar atenção. Bom, não seria implorar, iria ser uma demonstração de que gosto, mas eu sou tão insegura.
 

   ― Eu acho que aquele trabalho vai ser bom para você se acostumar com o jeito das pessoas daqui, mami. ― A voz da minha mãe aparece de fundo, como se fosse uma música ambiente tentando entrar nos meus pensamentos.
       ― Urum. ― Não sei com o que concordei. Só consigo encarar a janela do quarto dele esperando ele aparecer.
       ― Ana Ramirez! ― Mamãe dá um grito que me faz desviar o olhar na direção dela na mesma hora.
       Ela percebeu que eu estava olhando para a janela do idiota. Droga.
       ― Eu acho... ― Diz se sentando na cama e me faz revirar os olhos, já sabendo o que vai acontecer ― Que você gosta do vizinho. ― Minha boca se abriu formando um O. Eu estava pronta para negar. Mas pra quê?
       ― Quem sabe ― Dou de ombros ― Eu não gosto, é só uma quedinha porque ele é bonito.
       ― No puedes engañarme, chica. ― Ela forma um sorriso com boca fechada ― Eu olhava do mesmo jeito para o seu pai.
       Acho que isso fez minhas pupilas dilatarem.
       ― Como vocês se conheceram?
       ― Começamos a conversar no fim do ensino médio.
       ― Nada extraordinário.
       Ela me olha.

       ― Não mesmo. Quem fez ser fomos nós ― Ela dá de ombros ― Sabe que não vamos proibir, mas sabe das regras: Não se deixe enganar pelas aparências. Hasta la mujer más linda del mundo ha cagado alguna vez. ― Diz se levantando convencida. Quando mamãe diz seus provérbios antigos eu caio na risada.
Dou um sorriso.
 

      ― Gracias, mami.

O IDIOTA DA CASA AO LADO | RemakeOnde histórias criam vida. Descubra agora