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J I S O O

Estar de volta em Seattle depois de uma maratona é cansativo, eu gostaria de ficar lá mais tempo, mas infelizmente a vida não funciona assim.

Agora estou sentada no carro da Rosé após ela me buscar no aeroporto, fiquei surpreendida quando ela realmente apareceu após dizer que faria isso, mas não pensei que fosse verdade. Meus pais ficaram encantados com ela, raramente apresento minhas amigas, então não é de se surpreender que eles tenham ficado felizes com essa evolução.

Fico sem jeito quando, em meio a neblina e escuridão do carro, os olhos pequenos e amendoados de Rosé encontram os meus. A cabeça dela está encostada no banco assim como a minha, uma de cada lado, mas olhando para ela assim eu sinto como se estivéssemos a dois centímetros uma da outra e nosso corpo estivesse irradiando ondas de eletricidade através do ar. Prendo o fôlego, assistindo-a com atenção, sentindo o silêncio que me engole profundamente em meio ao emaranhado de sentimentos confusos que me consomem. Olhar para Rosé é como enxergar um sentimento novo em personificação, como me sentir acolhida em um abraço maternal durante a infância, como a brisa fresca de outono. Gosto muito da companhia dela, tem sido agradável ter alguém como ela por perto já que raramente tenho com quem contar. É complicado explicar, não consigo entender muito bem, mas a presença dela me causa conforto, um conforto que nunca senti antes com absolutamente ninguém.

Ficamos nos olhando em silêncio, tendo como trilha sonora as buzinas e o barulho noturno da cidade em horário de pico. Não enxergo direito, mas através do vislumbre percebo como as pupilas dela estão dilatadas, e ao mesmo tempo sinto que as minhas estão iguais, porque é aquela velha sensação de sentir os olhos brilhantes como pequenas estrelas, quando se olha para algo ou alguém que faz o coração bater mais forte, que dá aquela adrenalina gostosa de sentir... é tão gostoso.

Em meio a tantas confusões na vida da Jennie, acabo me esquecendo de olhar pra mim mesma, para a minha própria vida. O fato da Rosé ter me buscado no aeroporto e me deixado na porta de casa é acolhedor.

— Obrigada, Rosie — sussurro, ainda com os olhos fixos nela. Rosé segura minha mão e sorri de uma forma linda, deixando-me tímida — sério.

— Pelo que está agradecendo?

— Em primeiro lugar por você ter entrado na minha vida, e em segundo por ter me buscado no aeroporto e passado o Natal comigo.

— Acha que foi algum sacrifício? — ela acaricia por cima de meus dedos, mantendo os olhos bem atentos nos meus — quem deveria agradecer pelo Natal sou eu, porque foi eu quem te convidou, e fiquei realmente surpresa por você ter aceitado o convite.

— Mesmo?

— Uhum... você sempre me evita, Jisoo — ela ri, mas sei que no fundo há um pontinho de verdade em sua voz abafada — as vezes sinto que estou atrapalhando sua rotina, sabe? Fico tentada a mandar mensagens, mas me privo porque...

— Você não me atrapalha em nada, Rosé.

— Ainda sim sinto que faço isso as vezes... — ela abaixa a cabeça, olhando para lugares distantes — e me desculpe se for verdade.

— Não é.

Ela está me observando com atenção, cada movimento que faço, cada pincelada do meu dedos sobre os dedos dela, ela sempre presta atenção em tudo que faço.

— Para de me olhar assim, Kim Jisoo — ela murmura baixinho após uma fração de incontáveis segundos em silêncio, e só então me dou conta que estou vidrada nela tanto quanto ela parece estar por mim. Não consigo sorrir, tudo o que sinto me incomoda um pouco por ser intenso demais, nem sequer sei descrever.

— Ou o que? — antes que consiga impedir, me pego dizendo isso — hm...

— Ou eu vou ser obrigada a cometer uma loucura que não sei se você irá gostar.

— Deveria tentar.

Ela me olha espantada, certamente sem acreditar no que acabei de falar. Sorrio e solto a mão dela, virando-me para a janela para olhar os carros e as decorações de Natal. Natal é uma época tão mágica, na minha família sempre foi assim, e é divertido ver que continua sendo. A única coisa que muda é eu não acreditar mais em papai Noel, mas de resto...

— Jisoo?

— Hum?

— Pode olhar aqui por favor? — Antes que eu consiga raciocinar, sinto a boca dela tocar a minha de uma forma muito macia que me tira um suspiro — foi você que pediu.

Ela sussurra enquanto seus lábios finalmente se chocam contra os meus e me tiram de órbita. Ela desliza sua língua dentro da minha boca e suga meu lábio com fome, puxando-me mais para perto até meu corpo monte por cima do dela e sem querer minhas costas esbarrem na buzina, fazendo-nos rir. Estamos literalmente na frente de casa, tudo o que pode acontecer é um de meus vizinhos fofoqueiros aparecerem aqui fora para se certificarem do que está acontecendo e nos verem dentro do carro feito duas loucas.

Solto um gemido baixo quando Rosé pega meu lábio com os dentes e esfrega a língua de lado a lado, molhando-o. Agarro os cabelos dela e mergulho em sua boca outra vez, rebolando em seu colo macio enquanto ela apalpa meu quadril e me segura com força em seu colo, beijando-me como se sua vida dependesse disso para continuar existindo. Os cabelos dela são macios contra meus dedos, e o cheiro do shampoo me inebria com a proximidade, assim como o gosto de goma em sua boca.

— Meu Deus... — múrmuro contra o lábio dela ao escutar uma batida no vidro do carro e dar de frente com um maldito policial. Rosé começa a rir quando se dá conta da situação e me espera descer do colo dela para enfim descer o vidro. Posso sentir meu rosto queimando de vergonha quando o policial nos encara.

— Boa noite — ele murmura super mal humorado — houve uma denúncia da vizinhança sobre o carro estar parado aqui a muito tempo e viemos conferir. Está tudo bem?

— Ah sim — Rosé responde com um sorriso brincalhão. A boca está está toda vermelha. Eu quero me matar — tudo ótimo.

Desço do carro, tremendo de vergonha.

— Ela veio me trazer em casa! Obrigada, policial. Boa noite! — aceno para ambos os dois e entro correndo em casa, ainda trêmula quando tenho um ataque de riso.

Meu Deus.

Meu Deus

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La Danseuse | Jenlisa.Onde histórias criam vida. Descubra agora