18 - Posso te dar um conselho? Para de respirar

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Lar doce lar

Ponto Chique - Nova Iguaçu

2005

Por volta das 14h00

Querido amigo, 

Minha mãe sempre me odiou. Talvez ela quisesse fazer um aborto mas quando viu que ela tava correndo risco de vida, deixou aquele negócio rolar e resolveu me expelir mesmo pra esse mundo terrível. Talvez fosse melhor que o aborto desse certo, isso pouparia toda energia que eu tô gastando nessa carta. Eu seria ecologicamente correto e a natureza ia me dar uma medalha de bom garoto.

Porém, não se preocupe com esses pormenores agora. Eu te contaria os detalhes de tudo o que eu sofri, mas você não merece escutar tamanha maldade. Por isso, eu vou resumir tudo num único flash. 

Quando eu era criança, teve uma vez que minha mãe chamou uma visita lá em casa pra jantar. O nosso convidado era chique, coisa e tal, então eu e minha irmã tinha que se comportar muito bem na mesa. A gente se sentou, cada um num cantinho, e fomos todos comer. Mamãe olhou pro prato cheio de comida e, ia perguntar se o convidado queria mais sal, se queria mais suco, se estava se sentindo bem. Mas ela resolveu fazer o passatempo favorito dela. 

Me destruir. 

— Max, senta direito — ela bateu na mesa tão forte que fez os pratos de todo mundo tremer. — se ajeita aí, você senta que nem uma moça, garoto! 

Minha bochecha ficou vermelha. Eu olhei pro convidado. Ele parou com a colher a meio caminho da boca e observou. Talvez estivesse estranhando a minha família. Talvez estivesse se perguntando se aquilo acontecia todo dia. Eu desviei o olhar, me ajeitei na cadeira e escondi meus olhos no arroz e feijão. Fiquei remexendo a comida com o garfo e a faca pra lá e pra cá. 

E a mulher não sossegou. 

— Max, segura esses talheres direito, coisa feia, parece que tá apontando a faca pra sua irmã. Cê tá aprendendo isso aonde? 

Minha irmã comia que nem uma porca esfomeada. Ela se ajeitou também com medo de ser a próxima vítima. O convidado sorriu, louco pra dar o fora daquele hospício. 

— Mãe, mas eu não fiz nada. 

— Max! — ela bateu na minha boca. — Pra você falar assim é melhor ficar quieto. Fala direito, moleque. Você tá falando fino. Homem tem que falar grosso, entendeu?! 

Então, eu parei de comer, de sentar, de falar, de me mexer e fiquei que nem uma estátua, do jeito que minha mãe gostava de ver. E, mesmo assim, ela explodiu. 

— Max, pelo amor de deus! Você não faz nada certo. Respira direito, menino. Olha como você tá respirando. Parece uma galinha com asma. 

— Mãe, mas não dá pra mim controlar minha respiração. Só falta você querer que eu pare de respirar.

E mamãe disse algo que eu nunca esqueci. 

 — Talvez seja melhor.

Eu não sei o nome do meu melhor amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora