Eighty

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— A [Nome] está dormindo, Izana. Deixe ela descansar! – Ouço Emma falar.

— Ela está aqui? – O garoto pergunta, ao mesmo tempo ouço a porta do quarto ser aberta.

— Izana! – A loira aumenta a voz, diria que ela está bem irritada.

Passos ligeiros invadem o cômodo, logo a porta foi violentamente fechada e trancada. Levanto o corpo para olhá-lo. Ele está do lado de dentro, um pouco à frente da porta, olhando-me com uma expressão de cansaço. Emma bate várias vezes na porta, suas reclamações e xingamentos chegam aos meus ouvidos.

Imaginei que ele iria se aproximar e tentar conversar comigo, mas nada fez. Ele só sabe me encarar, chega a ser constrangedor. Voltei a me deitar, na intenção de desviar meus olhos dos dele.

— Você voltou... – Minha voz é quase um sussurro, meus olhos presos no teto branco.

— Desculpa. – Ele pede, quase cortando minha fala.

— Pelo o quê? – Virando o rosto para a esquerda, o encontro do meu lado. Foi tão rápido que quase me assustei.

— Se eu não permitisse que você viajasse, talvez as coisas seriam diferentes com sua irmã. Nada disso teria acontecido. – Seu jeito de falar é triste, tanto como seu rosto agora. – Me desculpa.

É verdade. Se eu não viajasse nada disso teria acontecido. Eu não permitiria, protegeria minha irmã. Mas, não tinha como adivinhar. Se nem eu, que sou irmã, fazia ideia que algo terrível assim poderia acontecer, quem dirás Izana.

— Não é sua culpa. – Falei, enquanto enxugo as lágrimas em meu rosto.

— Mas, se-

— A culpa é toda minha! – Fui rápida ao interromper sua fala, fazendo-o calar a boca. Minha cabeça virou para direita, voltando meus olhos ao teto. – Se eu não tivesse parado de vigiar ela, teria evitado tudo isso.

Não é algo que eu deveria contar a Izana — sobre o que aconteceu e o por quê da culpa ser minha —, mas, sei lá, minha cabeça me obriga a desabafar com alguém. Estou à pouco para explodir. Também não me importo, não é algo que eu deva me preocupar, já que pretendo dar um fim à tudo em breve.

— Como assim? – Ele indaga. – Vigiar?

— Sabe Hayato? – O olhei de canto, logo vendo-o balançar a cabeça em sinal positivo. – Eu falei para você que não gostava dele porque ele era ruim para minha mãe. Mas, esse não é o único motivo. Hayato me abusou e não foi só uma vez. Eu tinha medo de acontecer com minha irmã o mesmo que aconteceu comigo. Por isso, eu meio que vigiava ela, principalmente quando minha mãe morreu e Soso se afastou de mim. Eu passava horas atrás da porta de qualquer quarto onde os dois estavam, para ouvir se tinha algo suspeito. Instalei câmeras no quarto dela e sempre tentava conversar com ela. Mas aí chegou um tempo em que deixei outros assuntos falarem mais alto que a segurança de minha irmã.

Contava, olhando nos olhos do homem ao meu lado. Meu coração parte a cada palavra, a vontade de chorar só aumenta. Porém, ao mesmo tempo, sinto uma leveza, é como se eu precisasse mesmo falar com alguém.

As expressões de Izana são complicadas de entender. Não sei se ele está com raiva, triste, com pena, confusão, ou algo do tipo. Mas não ligo, continuo falando sem parar.

— Eu meio que abandonei minha irmã. Ela tentava conversar comigo algumas vezes, teve dias que a encontrei em meu quarto me esperando. Mas, eu sempre a tratava com ignorância, a evitando. Fui um monstro ao não perceber que ela precisava de minha ajuda. Shopia queria desabafar, tenho certeza disso. Só que... – Dei uma pausa quando a falta de ar me pegou. Desviei os olhos, as lágrimas chegaram com força e fui obrigada a colocá-las para fora.

𝙊𝘽𝙎𝙀𝙎𝙎𝙀𝘿 𝘽𝙊𝙔; Izana Kurokawa  Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt