Emily (XXIII)

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  A meio da viagem, o James voltou a afastar as nossas mãos, o que é perfeitamente normal. No entanto, consigo perceber que ele se sente culpado por isso. Algo que me fez reparar mais no James, inicialmente, foi o comportamento peculiar que ele tinha comigo de parecer que estava a cumprimentar contra a sua vontade. À medida que o tempo foi passando essa atitude mudou positivamente, mas ainda é algo em que não consigo não pensar. Tento ser mais observadora, mas admito que esse não é o meu forte, então não consigo perceber ou pensar em nenhum motivo para tal acontecer. Um dia tentei abordar esse tema numa das nossas chamadas noturnas, que se tornou a nossa rotina quase diária, mas, como ele desviou de assunto, eu fiz de conta que me tinha esquecido, e no fim da chamada fiz uma pesquisa sobre o assunto. Li que uma das causas podia ser eventuais traumas durante a infância, que, embora banalizado, é um dos principais motivos de os adultos terem transtornos, medos ou inseguranças. Se for esse o caso, só ele me poderá dizer. Se o fizer, eu vou querer ajudá-lo da melhor forma que conseguir. Só espero que ele venha a ter essa abertura para me permitir fazê-lo. Ele é diferente, e tem de perceber que isso não é mau. Na verdade, é isso que o faz ser tão especial.

  Ao chegarmos ao destino, saímos da carrinha queixando-nos, porque os bancos não eram propriamente confortáveis.
- Onde estão os outros? – pergunta o Rick, que foi o primeiro a sair.
- Já deviam estar cá, nós vínhamos atrás. – diz a Jenny.
- Pelo que me disseram, os vossos colegas vão estar algures por aqueles lados... – informa o condutor, apontando para este. - ...e os vossos professores do outro lado do lago. – diz, apontando para norte.
- Achava que íamos ficar juntos. - digo.
- Convenhamos que assim é melhor. Evitamos pessoas indesejadas e podemos fazer o que quisermos sem ser chateados pelos professores. - responde a Lis.
- Vão precisar de ajuda para montar as tendas? - pergunta-nos o condutor.
- Acho que conseguimos montar. – responde o Ron.
- Assim sendo, vou ter com o outro grupo e já volto.
- Até já! – dissemos todos, em coro.
  Quando o James abre a bagageira da carrinha, reparamos que é maior do que parecia e está cheia de sacos e caixas. Quatro tendas para duas pessoas cada que, pela imagem da caixa, são enormes, seis cadeiras portáteis de madeira, uma fogueira portátil, provavelmente porque tiveram medo que incendiássemos a floresta, dois sacos de pellets de madeira, cobertores, colchões e alguns sacos de comida. Quando acabamos de tirar tudo da carrinha, o condutor aparece e pergunta:
- Então, já decidiram onde vão meter as tendas?
- Não propriamente, tivemos a ver o que tinha nestes sacos todos. – respondo.
- Só não percebemos o porquê de ter quatro tendas quando somos seis. – diz o Rick.
- Pelas ordens do diretor duas raparigas vão dormir numa tenda, dois rapazes noutra e os outros dois vão ter de dormir sozinhos em tendas separadas. – informa-nos.
- Mas qual é o mal de dormirmos com quem quisermos? – pergunta o Rick.
- Acho que eles não querem ser responsáveis por nada, então é uma maneira de minimizar os riscos, se é que me entendem.
- Não vai acontecer nada que não tenha já acontecido. – diz o Ron. Todos olhamos para ele. – Não disse nenhuma mentira. – completa.
- Isso soou muito mal. – digo.
- Soou mesmo. – concorda o James.
- Também achei. – diz o condutor, rindo-se. – Mas, o que eu vos aconselho, porque é óbvio que não vão respeitar as regras do diretor, é abrirem as quatro tendas e colocarem nelas as coisas durante o dia e à noite quando se deitarem vão para onde quiserem. Assim não se arriscam a levar nas orelhas e eu não perco o meu querido trabalho.
- Acho uma ótima ideia. – digo. Todos concordam.

  O que parece uma hora depois, temos as quatro tendas montadas em forma de "X", e a fogueira portátil colocada no meio com as cadeiras à volta. Enquanto as fomos montando, também decidimos qual é a tenda de cada um. Novidade: Vou dormir com o James.
- Está feito, daqui a pouco vem uma equipa montar umas luzes, casa de banho e um localzinho para vocês cozinharem. – diz o motorista.
- Que chique! – diz o Rick.
- Esta é a minha deixa para me ir embora. Divirtam-se e até quinta! – despede-se.
- Até quinta, obrigada! – agradeço.

Moonsland (PT)Onde histórias criam vida. Descubra agora