Capítulo Dez

275 38 36
                                    

Chegando no quarto, Rhaella e Athenais encontraram as gêmeas espectros e pelos rostos tristes elas já sabiam o que tinha acontecido no salão principal.

–Sentimos muito, milady –Nuala disse indo até Rhaella e segurando sua mão. Cerridwen fez o mesmo.

–Obrigada –a garota agradeceu sorrindo fracamente.

–Que audácia é essa? Uma criada tocando-a assim tão intimamente? –Athenais agarrou os ombros da filha e a puxou pra trás –Não fiquem paradas, sirvam a sua senhora!

–Não fale com elas assim –Rhaella impôs se colocando na frente da mãe. –Elas são minhas amigas.

–Amigas? Não podemos ser amigas de nossos criados.

–Melhor do que se aliar a tiranos –Um brilho frio instalou no olhar de Rhaella.

–Rhaella! –Athenais olhou pros lados, como se um soldado de Amarantha pudesse se materializar ali e ouvi-las.

–O que tenho a temer? O pior que tinha pra acontecer comigo já aconteceu.

–Fora, as duas! –Ordenou Athenais as criadas.

Antes de Rhaella contestar as espectros saíram do quarto. A femêa mais velha segurou o rosto da filha com força.

–Menina tola, olhe ao seu redor, olhe a suas vestes. Acha que alguém como você sabe o que é pior? Bem, pois saiba que os miseráveis que estão abaixo nessa montanha dariam tudo pra ser você. Eles sequer podem ter tempo pra chorar a morte de alguém, antes que outro chegue à cova.

Rhaella sustentou o olhar pra mãe, mas dessa vez não contestou. Ela sabia que havia pessoas em situação pior, ela escutou a dor através das paredes e toda a montanha se afogava no sangue de inocentes.

Mas sua mente estava em Syrax. Estava só no ódio que sentia por ter o amigo naquela situação.

–Agora sente e me deixe concertar você –Athenais guiou-a como marionete e a fez sentar na frente da penteadeira.

A mãe limpou o rosto com cuidado, depois organizou os fios soltos. Logo Rhaella voltara a sua figura etérea do início do jantar, exceto pelo vazio em seus olhos.

–Por que deixou que ele trouxesse Syrax? –Ergueu os olhos para encarar o rosto da sua mãe.

Athenais terminava de limpar o rosto da filha e então parou ao ver a dor em seu olhar.

–Aquele animal estava insuportável desde que partiu. Ele rasgou sua cama, as cortinas, destruiu tudo que encontrou quando cansou de te esperar. Tivemos que o trancar na torre. Aqueles barulhos irritantes... –Athenais esboçou careta.

–Ele pensou que eu estava em perigo. –Conseguia imaginá-lo se perguntando onde estava, porque não o procurou assim que chegou, porque ninguém mais se preocupava em alimentá-lo além dela... Ele provavelmente pensou que ela o abandonou.

–Ele foi um tormento, isso sim. Seu pai se cansou dele.

Claro. O pai dela odiava qualquer vida que não fosse de serventia a seus interesses.

–Syrax não matou Padma –Rhaella garantiu.

Aquela história estava tão enterrada na sua cabeça. Como pensaria nos poderes que ganhou e perdeu em menos de uma semana? Como pensar em qualquer coisa além daquele pesadelo sem fim?

Agora viu que alguém seria culpado pelo sumiço da criada. E que culpariam o único inocente da Cidade Escavada.

–Como pode ter tanta certeza, menina?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 06 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Corte de Estrelas e TormentoOnde histórias criam vida. Descubra agora