Capítulo 3

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Heloísa




Com as pernas trêmulas e a sensação de que os meus joelhos irão ceder a qualquer momento, me aproximo da porta da garagem agora fechada. Fico imaginando que esse seja mais um daqueles momentos onde o cansaço te faz ver coisas. Como quando está muito quente e você olha pro asfalto, com a impressão de ver a imagem trêmula e borrada, mas, na verdade, é só ilusão de ótica.

Isso me faz respirar um pouco, mesmo que eu esteja buscando ar praticamente em lufadas dolorosas.

"Só pode ser ilusão, eu vi errado... só pode!"

E mesmo tentando me convencer de que é apenas uma ilusão, não consigo ir embora, todo o resto é esquecido momentaneamente. Fico de frente para a porta da garagem, ainda meio sem reação, pensando em quanto tempo será necessário esperar até que o carro conhecido saia novamente.

Em determinado momento, um segurança me aborda. Ele está com cara de desconfiado e, ao mesmo tempo, tem um olhar de pena. É como se ele já entendesse a situação em que estou.

— Senhora, não é permitido ficar aqui na porta da garagem. Isso pode atrapalhar os clientes. — Sua voz e tanto firme quanto pesarosa.

— Bom, e-eu... só estou esperando uma pessoa, não pretendo atrapalhar ninguém. — Respondo sem saber muito o que falar, afinal de contas o que se diz num momento como esse? Digo que estou esperando para ver se realmente vi o carro do meu marido entrando no motel com outra?

"Moço, espere aí! Só estou tentando confirmar o tamanho da minha galhada. Já, já vou embora, não se preocupe."

Ele percebe o meu desespero e me dá um sorriso amarelo, tímido, como se estivesse envergonhado.

— Eu sei, mas mesmo assim, são as normas da casa. Você não pode ficar aqui, parada na porta da garagem. Por que você não vai ao restaurante que fica na outra quadra? Lá você liga para a pessoa que você está esperando e vocês se encontram lá.

— Tudo bem... — Falo ainda meio dormente com toda essa situação.

Não consegui, nem mesmo, olhar no rosto do segurança. Notei apenas que ele está com um terno, mas as suas feições, o seu rosto... tudo me escapou. Os meus pensamentos são uma confusão entre o medo e o desespero de que isso possa estar novamente acontecendo em minha vida...

Por um instante olho pro semblante do senhor que aparenta estar na casa dos 50 anos, muito bem-vestido, cabelo com corte alinhado, a pele negra tentando me mostrar um sorriso gentil e assinto com ele.

— Tudo bem... é tudo que consigo pronunciar.

Me afasto, indo na direção que ele me indicou. E, assim que vejo ele voltar ao seu posto de trabalho, esquecendo de mim, eu me escondo o mais próximo possível, procurando o momento certo para tirar a limpo toda essa história.

A ansiedade e o nervosismo fazem as horas parecerem intermináveis. Não consegui me atentar há quanto tempo fiquei esperando escondida. Do outro lado da rua, atrás de uma árvore, fiquei até que vi o carro sair.

No momento de desespero, nem olho para atravessar a rua, apenas corro em direção ao carro, me jogando na frente dele que para bruscamente com uma freada alta. Consigo sentir a dor em minhas costelas pelo baque repentino e o calor do veículo em minha pele fria pelo nervosismo.

— Você está louca? — O motorista grita, antes de se dar conta de quem eu sou.

Olho em sua direção e assim que os nossos olhos se encontram, Felipe me reconhece. Primeiramente ele fica branco de pânico, como se não soubesse o que fazer. Mas, logo em seguida, o seu pânico cede lugar à raiva e posso ver nos seus olhos o ódio por ser pego em flagrante.

Por trás do Espelho - Spin-off de O feitiço da lua - Degustação Where stories live. Discover now