Tudo Que Tenho

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Antônio On:
Nunca foi segredo para ninguém o quanto eu queria ter mais filhos. A Irene é quem nunca quis. Ela sempre achou que nossa família já estava completa com os dois filhos que ela me deu ao longo dos nossos trinta anos juntos. Daniel foi aquele filho que me tirou da depressão mais profunda que eu poderia sentir. Descobri de forma tardia, que ele não era meu filho de sangue. Mas, mesmo depois de saber, nunca deixei de amá-lo como alguém que me trouxe tanta alegria e tanto orgulho. A Petra iluminou a minha vida. Trouxe muita felicidade. Trouxe muito companheirismo. E seguiu com o meu amor e o meu legado pela Agronomia. Caio foi desejado por mim, como o meu mais profundo desejo. Mas, a Ágatha estragou tudo quando decidiu me enganar e ir embora. Ela quebrou algo dentro de mim, que eu pensei que ninguém, nunca mais, fosse capaz de consertar. E agora, que eu pensei nem merecer mais nada de bom nessa vida. Quando achei que tinha perdido a Irene pra sempre, e junto dela, qualquer possibilidade de ser feliz de novo, ela me traz mais uma vez, um grande presente. O mesmo presente de trinta anos atrás. O melhor de todos.

- E chuta forte né?! Encarou a mulher, deslumbrado.
- Chuta. Sorriu, animada. Mas, é a sensação mais gostosa de sentir na vida. Fechou os olhos, enquanto se deliciava com os chutes da filha. Tinha me esquecido de como era bom sentir a vida assim... Tão de perto. Lembrou.
- É a manifestação da vida. Resumiu. Cuidado aí. Alertou. Deixa que eu pego pra você, tá um pouco quente, você vai acabar se queimando. A ajudou com a panela do doce. Aí oh. Acho que tá pronto. Colocou sobre a bancada da cozinha, enquanto a entregava uma colher e a ajudava a se sentar em uma das cadeiras do balcão. Seguindo até a entrada da cozinha, logo em seguida.
- Antônio?! Chamou. Onde você vai? O encarou, enquanto se deliciava com o doce.
- Eu vou pro quarto. A encarou, pensativo. Não quero que você se sinta mal. Não quero te incomodar. Vou deixar você aí quietinha, comendo o seu doce.
- Fica. Pediu, enquanto o encarava, apaixonante. Fica mais um pouco. Pediu. O doce tá uma delícia, não quer provar? Reagiu, generosa. Além do mais, ela ainda tá mexendo... Você não quer mais sentir? Ofereceu a barriga, enquanto continuava rapando a panela.
- Quero. Se aproximou. Eu quero sim. Abraçou o ventre da mulher. Quero muito.

Irene On:
Eu nunca quis mais filhos. Sempre achei que a família que construí ao lado de Antônio estava completa. Mas, desde que eu acordei naquele hospital, ainda sem entender como havia sobrevivido aquela noite que eu posso dizer ter sido a pior da minha vida, e soube que tinha mais vida dentro de mim, tudo mudou. E mudou porque, tem uma coisa que ninguém sabe sobre estar grávida. Algo que eu posso dizer perfeitamente porque, eu já estive por duas vezes antes. Daniel não veio de uma noite de amor. Nem é filho biológico de Antônio. Mas, me proporcionou a convivência com ele. E foi daí, que surgiu o amor. Petra, é fruto e raiz desse amor. Sequência que veio depois de um porre de Antônio e a minha disposição em cuidar dele, após ouvi-lo me chamar pelo nome de sua primeira esposa, e pedir aos céus que um dia fosse amada assim. A filha que eu carrego agora, é o raiar do dia. A esperança e a materialização de uma nova chance. Uma chance pra ambos. E aí sim, eu posso dizer sobre estar grávida: A magia da maternidade vem junto com uma sensação única que só é possível sentir quando você engravida do amor da sua vida e faz dele um pai.

- Acho que ela cansou. Gargalhou, enquanto a fazia rir junto. Tá bom esse doce? A encarou, fascinado, enquanto se aproximava dela. Matou o seu desejo? Indagou, próximo de sua boca, e com as mãos ainda sobre sua barriga.
- Matei. Passou a mão sobre a testa, antes de jogar os cabelos para trás. Cheguei a suar. Encarou, fascinada. E você? Tem algum desejo? Não quer mesmo provar o doce? Permaneceu misteriosa, enquanto dava a deixa que o homem precisava.
- Tenho. Eu quero provar, mas de um jeito diferente. Afirmou, antes de beija-la. A mulher não resistiu ao beijo. Nem se assustou com ele, fugindo em seguida, como da primeira vez. Pelo contrário, iniciou um novo beijo, logo depois que se separaram para tomar um pouco de ar.
- A gente continua encaixando. Afirmou, enquanto ela parecia deseja-lo como antes. Ambos se recostaram sobre o balcão e Irene sentiu as mãos de Antônio percorrerem seu corpo e isso congelou sua espinha. O frio na barriga e o desejo por ele a trouxeram do paraíso. Se soltou de seus braços, leve, e crente de que não deveriam seguir com as carícias.
- Eu acho melhor parar por aqui. Pediu, sendo prontamente atendida. Não vamos prolongar essa noite. Tocou o rosto do homem, amorosa. Eu quero que esse momento termine assim, desse jeito. Sorriu, enquanto o parava com as duas mãos. Acho que já nos aventuramos demais por uma noite.
- Tudo bem. Entendeu. Posso ao menos te oferecer uma companhia até a porta do quarto? Ofereceu sua mão, enquanto a aguardava.
- Pode. Aceitou, antes de seguirem até o corredor do andar superior.
- Boa noite... Desejou. Quer dizer... Encarou a luminosidade. Bom dia. Sorriu, enquanto seguia até o antigo quarto do casal.
- Irene?! Chamou, antes de ir.
- Humm?! Sorriu, enquanto segurava a maçaneta da porta, olhando novamente para trás.
- Se cuida. Pediu. Você tem o meu mundo inteiro aí dentro. Apontou, enquanto a mulher segurava firmemente o ventre. Esse pedacinho meu, que tá crescendo em você, é tudo o que eu ainda tenho. Bom dia. Declarou, antes de entrar para o quarto de Petra e deixar a mulher pensativa, no meio do corredor.

Antorene: The After Kde žijí příběhy. Začni objevovat