Capítulo 19 💘

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A primeira semana foi a pior. Devo ter perdido uns 5 quilos, não só pela minha falta de apetite, mas porque eu realmente desidratei. Eu fazia no máximo dois lanches por dia, e somente porque minha mãe me obrigava levando a comida até a mim, porque eu mal saia da cama. Então no domingo eu acordei com uma dor martelando na minha cabeça, depois comecei a ficar muito fraca, até que eu caí durinha no chão quando me levantei para ir ao banheiro.

Meus pais, extremamente preocupados, me levaram ao hospital, onde eu recebi soro intravenoso e fui melhorando. Voltei para casa no mesmo dia, e no caminho de volta passamos perto da casa de Gustavo. Às vezes me dava vontade de mostrar para ele todo o sofrimento que ele me fez passar.

Eu não tive nenhuma notícia dele, apenas que ele foi embora da casa do Rafael no sábado, junto com Gabi e Paulo, porque a viagem "morgou", na linguagem de Gabi. Ela veio me visitar domingo, depois da minha mãe ligar para ela contando que eu tinha batido no hospital porque não estava comendo. Então ela me trouxe hambúrguer, batata frita e milkshake, que era o trio perfeito, assim como eu, Nanda e Gabi, e ela sabia que era impossível eu negar.

Basicamente ela me fez companhia, me distraiu falando das fofocas do pessoal da escola (vale salientar que eu não conhecia nem metade das pessoas que ela estava falando), de quem reprovou de ano e de quem já tinha passado no vestibular, enquanto comíamos o lanche que ela trouxe. Depois fizemos uma chamada de vídeo com Nanda, que estava em Brasília. Ela mesmo distante não parava de mandar mensagem perguntando se eu estava bem. Eu só chorei nesse momento porque eu amava aquelas meninas, nem era por causa de Gustavo.

Eu perguntei para Gabi se Paulo e Rafael sabiam do que tinha acontecido e ela me deu a triste notícia que sim; Gustavo havia contado para eles do seu plano também, mas ela disse que os fez prometer que não falariam isso para ninguém, e que se alguém perguntasse, era só dizer que foi uma briga, o que não era mentira. Foi o que disse para os meus pais também, e por incrível que pareça, meu pai não foi tirar satisfação com Gustavo.

Todo mundo ao meu redor estava me tratando muito bem, com muita paciência comigo, sem me encher o saco, porque sabiam que terminar um relacionamento de dois anos não era moleza, com exceção de uma pessoa. Na terça-feira eu já estava me alimentando, mesmo que ficasse trancafiada no meu quarto, mas depois que eu disse para meus pais que não queria mais ir para a viagem de Natal com minha família, eles resolveram chamar a pessoa que menos tinha pena de mim no mundo: Clarisse.

Eu estava deitada na minha cama, no escuro, já tinha acordado, mas ainda estava no conforto dos meus lençóis e travesseiros, quando Lisse simplesmente abriu a porta do meu quarto violentamente, abriu as cortinas deixando toda a luz entrar, me fazendo cobrir a cabeça com meu lençol, e disse:

"Acabou essa palhaçada agora. Pode levantar, tomar um banho, comer uma refeição de verdade e resolver qual é a decoração que faremos no Natal desse ano."

Eu não falei nada. Fingi que estava morta, e realmente eu estava morta de raiva da minha mãe por deixar minha prima entrar assim me tirando da minha zona de conforto. Como viu que eu não me movi, ela puxou meu lençol, me deixando descoberta, e eu me deitei de bruços e escondi meu rosto no travesseiro, até que ela subiu na minha cama e começou a pular.

"Sai daqui, Clarisse!! Me deixa em paz!!", falei tentando ignorar sua tentativa de me tirar da cama.

"Você não está em paz, criatura! Só está remoendo e isso não ajuda em nada!" Ela parou de pular e sentou do meu lado.

Ela estava falando a verdade. Sim, eu estava remoendo, repassando na minha mente tudo o que aconteceu por repetidas vezes. Óbvio, eu ainda estava muito machucada tentando ainda processar o fato de que Gustavo terminou comigo depois de dois anos de namoro.

As Palavras Não DitasWhere stories live. Discover now