Capítulo 23 💘

44 16 55
                                    

Uma semana depois do primeiro dia de aula eu já estava me sentindo melhor. As pessoas ao meu redor já sabiam que eu não estava mais namorando e pararam de encher o saco. Percebia que os cochichos estavam diminuindo e que meu nome não estava mais na boca do povo (graças a Deus).

Em casa as coisas foram ficando mais difíceis. Como esperado, meu pai foi demitido do seu emprego, o que o fez ficar louco procurando entrevistas em outros escritórios de advocacia, e por isso estava sempre fora de casa. Sem a minha mãe conosco, era somente eu e meu irmão na maior parte do tempo.

Por isso, eu não estava conseguindo estudar direito. Toda vez que abria o livro e o caderno eu lembrava de tudo o que estava acontecendo, me perguntando o que aconteceria com nossa família, sem falar da saudade que eu estava da minha mãe. Volta e meia eu ligava para ela, mas não tinha coragem de dizer tudo o que estava sentindo para não fazê-la se sentir mal.

Já era a segunda semana de aula e eu já estava atrasada nos estudos. Sempre me disseram que no terceiro ano aula dada é aula estudada, no entanto eu simplesmente não estava conseguindo estudar. O primeiro simulado aconteceria em uma semana e eu precisava me ficar pelo menos na média da minha turma. Sendo assim, eu tinha que estudar.

Cheguei na escola antes mesmo de estar aberta, e eu, meu irmão e meu pai ficamos esperando no carro até dar a hora de abrir.

— Hoje eu tenho uma entrevista importante. — Meu pai disse olhando o horizonte. — Eu queria muito essa vaga. É perto de onde moramos, perto daqui da escola... O único problema é que eu só sairia de 19h.

— O salário vale a pena? — Perguntei. Nós vivíamos bem confortáveis antes, mas agora tudo poderia mudar.

— Não é o mesmo que eu recebia antes, mas é um bom salário.

Não que dinheiro fosse a coisa mais importante do mundo, mas se ficaríamos numa situação mais apertada eu precisaria saber.

— Acho que você vai conseguir, pai. — Miguel disse enquanto jogava no seu nintendo.

— Eu também. — Falei.

Meu pai sorriu e até pareceu que ele estava um pouco emocionado. Nessa mesma hora abriram o portão da escola. Eu e Miguel nos despedimos do meu pai, desejamos boa sorte e fomos para nossas salas. Como sempre, fui a primeira a chegar na minha sala, tive até que ligar as luzes.

Como eu estava sozinha, resolvi abrir o livro e tentar entender um pouco de física, matéria que eu tinha bastante dificuldade. Enquanto eu mergulhava no assunto de movimento retilíneo uniformemente variado, levei um susto ao ouvir a porta sendo aberta. Era apenas o rapaz da informática segurando um cabo de internet.

— Desculpa. — Ele disse baixo, quase que eu não escutava.

Sorri sem mostrar os dentes para mostrar que estava tudo bem e voltei a me concentrar nos estudos. Não sei o que acontecia com o computador lá da sala que quase todo dia precisava ajeitar.

Depois de um tempo as pessoas lá da sala foram chegando e fazendo barulho, tanto que desisti de estudar.

Depois tivemos algumas aulas, e mais uma vez eu tentei me concentrar a todo custo, por mais que fosse difícil. Gabi sentou do meu lado, e passou a última aula antes do intervalo inteiro querendo me falar alguma coisa e eu só pedia pra ela dizer quando a aula acabasse.

Quando finalmente acabou eu já fui me levantando para ir lanchar, mas Gabi segurou meu braço.

— Clara, espera! — Ela disse, com uma expressão de preocupação no rosto.

— O que foi? Você passou a aula toda me desconcentrando. — Falei e cruzei os braços de frente para ela.

— O resultado do Sisu saiu... Gustavo passou em engenharia civil. — Ela disse. Eu ergui as sobrancelhas. Estava feliz por ele, mas não sabia porque isso era importante.

— Que bom para ele. — Falei me dirigindo ao corredor e Gabi veio atrás.

— Clara! — Ela disse, mas eu só segui andando, até que eu o vi.

Gustavo estava há alguns metros distante de mim, todo sorridente abraçando os professores e alguns alunos. Não só ele, mas toda a turma que se formou no ano passado estava ali. Eu fiquei estática o observando e dei um suspiro. Eu não o via desde o nosso término, e ali ele parecia o mesmo Gustavo de antes. O meu Gustavo.

— Ele veio comemorar a aprovação com a turma, para raspar a cabeça, tirar aquelas fotos... Era isso que eu queria te contar. — Gabi disse. Se eu soubesse eu não teria saído daquela sala.

Continuei olhando para ele, e confesso que por um minuto até pensei em ir lá e parabeniza-lo só por educação. Eu acompanhei esse processo e sabia o quanto ele tinha se esforçado. Mas nesse momento Bárbara saiu correndo disparada até chegar nele para lhe dar um longo abraço, e depois um beijo. Meu estômago até revirou. Gabi soltou um palavrão e de repente Nanda surgiu na nossa frente e saiu nos arrastando para o lado contrário da onde eles estavam.

— Controle de danos! — Ela disse enquanto nos arrastava para longe daquela muvuca, e só parou quando chegamos à lanchonete.

De onde estávamos ainda dava para ouvir as pessoas aplaudindo a turma que se formou ano passado, mas pelo menos não dava para ver ninguém.

— O que foi aquilo?! — Gabi perguntou boquiaberta.

— É... Parece que eles estão ficando... — Disse tentando não me importar tanto.

— Eu sabia, mas ela beijou ele na frente de todo mundo! Tenho quase certeza que Gustavo odiou.

Eu tinha esquecido que Paulo era amigo de Gustavo, e deveria contar tudo o que ele sabia para Gabi. Resolvi fingir plenitude e pedi um pastel na lanchonete para lanchar.

— Ela deve estar tentando forçar a barra para ele assumir ela. — Gabi disse se sentando em uma das mesinhas.

— Ou então deve estar só se amostrando mesmo. É a cara dela pegar macho recém solteiro. — Nanda disse enquanto pedia um suco na lanchonete.

— Não importa. — Falei me sentando em junto a Gabi, abocanhei meu pastel e elas olharam para mim, provavelmente se perguntando se tinham falado algo errado. Eu só não queria mais ficar pensando em nada relacionado a Gustavo.

— Nanda, como ficou a história do Rafael? — Soltei essa de graça enquanto ela se sentava conosco para tomar seu suco. Eu só queria mudar o tópico.

— Ah... Ele me deixou em paz. — Ela parecia contente. — Acho que viu que eu não queria e eu nem precisei falar nada.

— E eu aqui fazendo de tudo para vocês ficarem juntos. — Gabi cruzou os braços.

— Não estou procurando por um relacionamento agora. Quero me dedicar aos estudos apenas. — Ela disse convicta.

— Eu também! — Falei e demos um high five. Gabi arregalou os olhos para nós.

— Quando você não está esperando é quando o amor acontece... — Ela disse maliciosamente.

— Vira essa boca pra lá. — Nanda disse tomando o suco.

— Eu hein! Acabei de terminar, quero ficar solteira por enquanto.

Gabi deu de ombros parecendo muito certa do que tinha acabado de dizer. Pra mim era extremamente improvável, porque eu ainda estava muito machucada e nem tinha alguém para entrar em um relacionamento. Eu não estava nem com cabeça para pensar nisso.

— Vamos esperar para ver. — Ela disse por fim.

💘

Ihh, gente, será que é verdade isso que Gabi disse? Eu espero que sim!!

Vou tentar ficar publicando dois capítulos por semana, já que eu estou mais animada para escrever ultimamente...

Votem, comentem e compartilhem com seus amigos!

Um beijo, querido leitor! 💘

As Palavras Não DitasWhere stories live. Discover now