Contágio

Temporada 9 - Sinais

- Pai? Espero que esteja me ouvindo - Robert mandou uma mensagem de voz no celular - Bel, ou Ozzy. Estamos pensando em ir atrás de vocês.

Michigan

Vasili acordou às cinco da manhã. A temperatura no Michigan havia despencado durante a madrugada e uma neva fraca caía pela região. O russo saiu do refeitório depois de encontrar um casaco nos achados e perdidos - visivelmente saqueado - e acendeu um cigarro, aguardando o dia amanhecer enquanto sentia o vento frio bater contra o seu rosto. O frio a cada minuto parecia ficar mais intenso e ele podia sentir os próprios ossos congelarem.

- Quem diria, Vasili - Disse para si mesmo, assistindo a neve cair e aos poucos cobrindo o chão do parque - Um cara foda e que botava o terror em Las Vegas, hoje está em uma espelunca abandonada e sem perspectiva do futuro - Apagou o cigarro em uma madeira podre que recém caída do telhado do refeitório - Mas um dia você vai voltar a ser grande... -

- Quem vai voltar a ser grande? - Kei encontrou Vasili falando sozinho - Ficou maluco?

- Vai cuidar da sua vida - Vasili falou sem olhar para a oriental.

- Vasili, até quando a nossa relação passivo agressiva vai continuar? - Kei perguntou com vontade de rir.

- Até quando você parar de ser intrometida - O russo se virou para Kei - Não vejo você pegando no pé do pessoal.

- Eu costumava irritar a Bel, mas você é mais engraçado - Kei admitiu - Se estressa rápido demais com a minha presença, e tenho que admitir, é a única coisa que me faz rir durante essa viagem.

- E falando nessa viagem, vamos acabar com isso hoje mesmo - Disse Vasili, com um tom sério.

- Fica de boa - Kei um sinal de calma com as mãos - Também não vejo a hora disso acabar. Estou mais agoniada em saber se Robert e todos os outros estão bem, do que encerrarmos essa viagem.

- Não consegue falar com eles? - Vasili perguntou, preocupado.

- Não. Sem sinal nenhum nesse lugar - Kei tinha o celular nas mãos, mas praticamente inútil devido a disponibilidade de rede - Também tentei falar com o Zachary, mas nada. O que me deixa menos preocupada é que a Pilar foi até eles, então prefiro acreditar que está a essa altura as coisas podem ter sido resolvidas por lá.

- Também prefiro - Disse Vasili. A incerteza de saber se todos no Mississippi tinham sobrevivido era horrível.

Kei e Vasili passaram a próxima hora inteira conversando sem saber que estavam sendo vigiados. Os primeiros sinais de que iriam de fato encontrar Charlotte começariam a aparecer e até o momento nenhum deles havia percebido. Toda a área metropolitana de Detroit era vigiada durante o dia, incluindo as cidades vizinhas, e qualquer andarilho ou grupo estranho que fosse avistado estaria sendo acompanhado até o momento que saíssem. 

Ou que causassem algum tipo de transtorno.

- Eles parecem inofensivos, Fatima - Disse Samir, abaixando o binóculos e olhando para a mulher de cabelo preto e com um enorme comprimento liso. A dupla estava em um prédio que ficava próximo do parque e desde a madrugada os vigiavam - Os zumbis estão se amontoando no portão. 

- Acho que esse grupo não vai aguentar por muito tempo - Fatima julgou pela quantidade massiva de zumbis nos quarteirões do parque - Não é algo que devemos nos preocupar.

- Tem certeza? - Samir percebeu um zumbi se agarrando com dificuldade nos ferros do portão, como se tentasse escalar.

- Eles estão cercados, Samir. Você mesmo está vendo que os mortos-vivos estão mais inteligentes - Fatima insistiu - Olha aqui, o zumbi está escalando o portão sozinho, é uma questão de tempo até que derrubem tudo. Vamos voltar para Detroit.

- Não é melhor avisar os rapazes que tem pessoas por perto da cidade? - Mais uma vez Samir questionou e Fatima revirou os olhos.

- Cara - Fatima encarou Samir, indignado - Que medo da porra é esse? Já enfrentamos grupos gigantes e você está com medo de cinco pessoas? 

- Killian era um só e mesmo assim ele matou quase cem pessoas na cidade, não é atoa que a Charlotte continua o procurando - Afirmou Samir.

- O Killian não é problema nosso. A própria Charlotte diz que buscaram ele por semanas e ninguém o encontrou e ela não quer que toque mais nome dele - Disse Fatima - Esqueça esse cara de uma vez por todas. Vamos esperar os zumbis invadirem o parque para conseguirmos passar pela rua. Também estamos tão presos aqui quanto eles.

Com dois grupos isolados naquela região por conta dos zumbis, quem mais corria risco naquele momento era Kei, Bel, Vasili, Ozzy e Gina. Uma espécie de variante causada pela Trioxina causou uma mutação até então desconhecida por quem não era da região, tornando alguns mortos-vivos mais ágeis e suscetíveis a atacarem humanos com objetos cortantes e de grande impacto para enfim mordê-los.

- Kei - Vasili chamou pela oriental, que comia algumas barras de cereais e tomava água. Ozzy, Bel e Gina já haviam acordado e arrumavam as coisas para seguir viagem - Olha aquilo - Percebendo o zumbi pulando o portão depois de escalá-lo, percebeu enorme risco que corriam naquele lugar. Mais criatura repetiam o feito, tentando acesso ao parque com os portões fechados - Nós estamos fodidos.

- Não pode ser verdade uma coisa dessa - Kei se aproximou de um dos zumbis com a sua arma, atirando no seu peito. Se fosse uma pessoa, ela já teria caído, mas o cadáver se manteve de pé - É verdade sim... Sabe sair desse lugar, Bel?

- Sim! - Bel colocou todos os suprimentos na mochila na maior velocidade possível - Me sigam e... PORRA! - Um zumbi com vestimenta de palhaço saiu de trás de uma das paredes do refeitório de tentou atacar a mulher. O visual misturado com sangue e carne podre tornaram a criatura extremamente assustadora, a ponto de derrubar Ward no chão - ME AJUDEM!

Imediatamente Ozzy e Vasili correram para salvar Bel, tirando o zumbi de cima dela. Em total descontrole, a criatura correu para cima do russo e tentou morder o seu ombro, mas foi empurrado pelo mesmo e bateu as costas contra uma das janelas do refeitório, as quebrando e fazendo com que ele caísse dentro do local. Enquanto isso, os zumbis se aproximavam do grupo e Kei percebeu o mesmo zumbi com a pedra no dia anterior chegar perto dela.

Como esperado, o zumbi tentou atacar Kei com a pedra e ela desviou com prontidão. Retirou a sua faca da bainha e avançou contra a criatura, cravando a lâmina contra a sua testa e o jogando para cima dos outros zumbis atrás dele, derrubando-os. Sem poder usar armas, Gina foi obrigada a conter dois homens infectados batendo neles com um extintor de incêndio e com muito custo destruindo seus crânios.

- Bel, precisamos sair daqui! - Kei disse e em seguida esfaqueou mais um zumbi na cabeça - AGORA!

- Está bem! - Em pé, Bel acelerou o passo e o grupo a seguiu, cruzando praticamente o parque inteiro até chegar em outro portão - Ah não...

Mais uma vez, cercados por zumbis.

- Estamos fodidos... - Ozzy olhou para o outro lado, percebendo a horda se aproximar - Vamos pular o muro mais uma vez?

- Como? - Bel perguntou, ansiosa - Eles também estão lá fora nos esperando com alguma pedra ou um tijolo - Suspirou, sendo obrigada a matar outro zumbi com visual de palhaço que foi para cima dela - Meu Deus, nós vamos morrer! 

Tiros foram disparados e então o grupo inteiro se abaixou a medida que todos os zumbis que se aproximavam deles eram destruídos e eliminados. Em poucos minutos as criaturas haviam sido dizimadas e corpos estavam espalhados por toda a parte. Kei protegia o rosto e depois de ver o que havia acontecido, deu de cara com diversas pessoas armadas na sua frente. O quinteto inteiro se colocou em pé, visivelmente rendido.

- Argh, que nojo - Fatima viu sangue na sua bota e então voltou sua atenção ao grupo - Espero que salvar a vida de vocês tenha valido a pena - Disse, com um claro tom de desdém.