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*Alice

Dinho me encara quando o rapaz se afasta, seu rosto estava com expressão indecifrável, seus olhos estavam mais escuros e era possível ver a veia de seu pescoço.

- O que aconteceu que meu irmão 'tá com essa cara de ódio? - Kelly pergunta e eu nego.

- Não faço a mínima ideia.

- Pessoal, música nova para vocês. - Dinho fala ainda com o olhar sobre mim. Atrás dele os meninos trocam olhares confusos. - Bento, faz aquele arranjo que estávamos vendo uns dias atrás e os outros vão acompanhando.

- Ainda não está pronto, Dinho. - Bento fala meio irritado.

- Só vai, japonês. - é a única resposta que ele dá para o amigo.

As pessoas começavam a se acumular em frente ao palco, só para ver a "treta" que estava acontecendo com os músicos. Logo o ronco da guitarra de Bento inicia com o japonês bem insatisfeito tocando, Sérgio não demora para o acompanhar.

Dinho começa a cantar uma música nova a qual eu nunca tinha visto a letra, mas foi no refrão que eu senti o meu coração acelerar.

"Não sei ao certo a distância entre nós

E a profundeza da minha dor

Agora o que posso fazer é esquecer

Jurar sem te entender"


Ele cantava palavra por palavra com os olhos fixos em mim e por um momento é como se só existisse nós dois ali e a única distância física entre nós fosse o palco.

Meu coração batia tão forte que eu sentia como se ele fosse sair pela boca, as pontas dos meus dedos formigavam e ter o olhar dele sobre mim era como se eu estivesse pegando fogo.

Sou dispersa de meus pensamentos quando alguém me empurra, olho para Kelly e ela já estava sendo levada pela multidão de jovens que pulavam conforme a batida da música. Estendo a mão para minha amiga, mas era tarde demais e ela já estava no meio da multidão.

Subo no palco e permaneço no canto do mesmo ainda com a sensação do coração querer sair pela boca. Eles finalizam a música e Samuel tinha um sorriso surpreso no rosto, ele olha para os amigos e depois se aproxima de Dinho e da um tapa na cabeça do mesmo.

- Boa, cabeção.

...

Os meninos já estavam desmontando as coisas e a praça já estava praticamente vazia, apenas com algumas poucas pessoas conversando sentadas na grama.

Ajudo Sérgio a desmontar a bateria e meu irmão me olhava como se quisesse falar alguma coisa, mas sempre que eu o encara ele desviava o olhar.

- Você está me deixando nervosa, Sérgio. - falo cruzando os braços.

- E esse número aí no braço? É do ator bonitão?

- Você viu? - pergunto e ele dá risada.

- Eu e o cecap inteiro, pitchula. - ele guarda as baquetas no bolso. - O cara abre caminho e atrai olhares por onde passa.

- Foi igual cena de filme. - Samuel fala se aproximando e nos ajudando. - Vai ligar para ele?

- Eu não sei. - respondo e Kelly que estava conversando com Dinho se vira e me encara incrédula.

- Não sabe? Se um ator famoso e bonito como ele te passa o número dele é sua obrigação de ligar para o mesmo. - ela fala e eu reviro os olhos. - Deus não dá asas para cobra mesmo, né? Se fosse eu tinha lascado o beijão nele ali mesmo.

Dessa vez é Júlio que fecha a cara e Sérgio da risada.

- Vamos sair para comer? - Bento pergunta. - Estou com fome.

- Temos dinheiro? - Samuel pergunta e como sempre nós tiramos o que cada um tem no bolso, entrego para ele e ele conta. - Temos quarenta reais, da para comprar duas pizzas, topam?

- Eu topo! - Kelly responde animada.

- Então vamos. - Júlio fala e desce do palco, acompanhado de Kelly e Bento.

Colocamos os instrumentos no nosso fusca velho, o qual fazemos milagre para caber tudo e decidimos pegar as pizzas na pizzaria ali perto mesmo.

Júlio e Kelly caminhavam na frente, conversando animadamente sobre um programa de TV. Sérgio e Sam falavam sobre o problema no motor do fusca e Bento trocava farpas com Dinho.

- Não age assim na impulsividade e ainda mais em um show como aquele, poderia ter dado merda. - ele fala irritado e Dinho o encara.

- Mas não deu! - ele retruca.

- O arranjo ainda não estava pronto e nem sabemos se vamos adicionar essa música ao repertório.

- Nós vamos. - Samuel fala me abraçando de lado. - Porra Bento, para de ser chato.

- O pessoal curtiu demais a música nova e eu achei que ficou perfeito a combinação do arranjo. - Sérgio fala assim que paramos em frente a pizzaria.

- Mas ainda não estava pronto. - o japonês perfeccionista resmunga. - 'Tá, tá, vamos logo que eu estou com fome.

Ele entra na pizzaria e Júlio e Kelly vão atrás dele.

- Eu vou junto porque se não vão escolher o sabor errado e eu quero de calabresa. - Samuel fala indo atrás dos mesmos.

- Vão querer o quê? - Sérgio pergunta.

- Frango com catupiry. - respondo e ele assente.

- Qualquer uma tá bom. - Dinho fala e meu irmão o encara confuso, mas ignora e entra na pizzaria.

- Então essa é a música nova? Eu gostei. - puxo assunto e ele apenas assente. - Você começou de novo.

- Comecei o quê?

- A me ignorar e me tratar com frieza, quer saber? Vai pra merda, Alecsander. - falo irritada e ele me encara com raiva.

- Você não percebe não, é? Porra, Alice! - ele chuta a roda de um carro que estava estacionado. - Não vê o que faz comigo?

- O que eu faço com você? Ficou louco? Você que começa a me ignorar e... - sou interrompida por ele me puxando e me deixando em sua frente, tão próximos que eu sentia a sua respiração em meu rosto. Seu peito subia e descia rapidamente e seus olhos se encontram com os meus.

- Não entende que eu não consigo ficar perto de você? Que eu não posso ter os meus olhos sobre a sua pessoa? Por que toda vez que você passa por mim ou eu ouço a sua voz a única coisa que eu quero fazer é... - seu olhar desce para os meus lábios. - Te beijar.

Sinto um frio no estômago e meu coração acelera novamente, seus olhos se encontram com os meus novamente e quando dou por mim, já havia falado.

- E por que não beija?

Pelos poucos segundos em que ele continuou me olhando, eu pude ver surpresa brilhando em seus olhos, mas logo seus lábios avançam contra os meus e eu sinto suas mãos fortes me puxarem contra seu corpo, entrelaço meus braços em seu pescoço. Seus lábios macios devoravam os meus e nossas línguas travavam uma guerra onde não tinha vencedor. Se eu pudesse morar em um momento, eu moraria naquele momento onde eu estava em seus braços. Se eu tivesse apenas um minuto de oxigênio, eu gastaria ele ali, beijando seus lábios.


Mas tudo que é bom dura pouco.

- Alice?

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Capítulo escrito: 30.01.2024

Capítulo postado: 30.01.2024

Em seu sorriso - Dinho Alves (Mamonas Assassinas)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora