Capítulo II

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Apesar de a aristocracia¹ vitoriana gostar de fingir estar libertando-se de seus prejulgamentos hostis, muito ultrapassados eram os conceitos de relacionamentos amorosos aceitáveis. Havia uma enfermidade, descrita pelos médicos com o termo pouco utilizado "homossexualidade", que acometia um ou outro homem fraco de espírito. Esses adoecidos, os sodomitas, sentiam o desejo carnal de deitar-se com outro homem, e diversos tratamentos eram ofertados para libertar essas almas imundas do pecado.

Naruto não estava preparado para ver-se diante de um que deliberadamente assumia sem nenhuma hesitação suas escorregadelas.

— O q-quê? — O lorde deu um passo para trás, de olhos arregalados.

Ele nunca conheceu em pessoa um homem que tivesse essas preferências antinaturais... que ele mesmo tinha. Ouviu falar de alguns manicômios onde supostamente haviam os doentes com a intenção de praticar sodomia internados, mas ele achava que eram apenas boatos. Nunca esteve frente a frente com um cavalheiro que partilhasse do mesmo desejo sujo e pecaminoso que ele...

E que não considerasse uma vergonha, um absurdo que não deveria ser dito em voz alta.

No entanto, declarar-se abertamente um criminoso a um estranho assim? Um conde verdadeiro não mancharia a própria honra com alguém que acabara de conhecer, principalmente um filho de duque! Se Naruto fosse um criado até poderia estar dizendo-lhe isso por planejar usá-lo para o servir às escondidas, como sabia que alguns senhores faziam na falta de meretrizes. Mas sendo um nobre, o que aquele tal senhor falava não passava de...

— Insensatez! Que insensatez está dizendo, senhor? Não teme ser ouvido por alguém que mal interprete a brincadeira e acredite que o senhor é mesmo um...?

— Não há mal entendidos.

Naruto tentou identificar alguma ironia ou humor em suas palavras, mas seu tom e seu rosto eram completamente sérios. Sem sorrisos curvando seus lábios, sem tremores em suas pálpebras, o contato visual era firme e intenso, os ombros dele estavam relaxados. O Uchiha também não estava voltando atrás nem envergonhando-se. O Uzumaki estremeceu por um instante, e ateve-se a dizer:

— Não deveria falar isso tão levianamente. O conde deseja ser levado à forca ou preso em um manicômio para o resto da vida? — Com relutância, levou seus olhos para longe do mais alto.

— De forma alguma.

Sasuke deu um sorriso de lado e se aproximou, encurralando o pequeno Naruto na cerca viva de murtas, até que seus narizes estivessem a poucos fôlegos de distância. O coração dele tamborilava contra suas costelas, forçando passagem para sua garganta. O feitiço daquele homem o estava deixando tentado a...

— Nossa constituição precisa de mudanças, sejamos francos. Como podem dizer que estamos fazendo progresso se em pleno século XIX ainda há tolos ignorantes que condenam os relacionamentos entre dois homens? Pois eu não me abalo. Não me sinto nem um pouco inadequado por me deleitar com rapazes doces e pequenos como você — falou, mirando os lábios carnudos do Uzumaki.

Naruto lembrou-se de suas instruções de etiqueta e decoro, lembrou-se por um instante, apenas um mísero instante que seu pai estava há alguns metros de distância e poderia decidir aparecer no momento errado na pior hora. Então, ele mostrou-se ultrajado enquanto enchia o peito de ar. Sasuke, prevendo que este berraria aos quatro ventos em horror e repreensão, já que ele o estava pressionando demais, deixou que seu demônio viesse à tona.

Seus olhos tornaram-se absolutamente negros, sem esclera branca ou írises, veias escuras se ramificaram de seus cílios às bochechas e com sua persuasão emanando como um perigoso gás venenoso, entoou:

Vampire's Delight | SasuNaru VersionWhere stories live. Discover now