capítulo 01

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Treze de março, domingo.

Mayle Connelly.

O agudo caco de vidro cravou-se em meu pé, e cada passo, uma dor pulsante. Angústia apertava meu peito, lágrimas se acumulavam nos cantos dos meus olhos. O receio dela descobrir que quebrei a xícara que seu marido deu-lhe de presente.

Implorava silenciosamente por ajuda.

Em desespero, corri, ignorando a dor intensa, em direção à porta da cozinha. Agarrei a vassoura, esquecida na quina, e retornei rapidamente. Com cuidado extremo, varri o chão, ansiosa para não fazer qualquer ruído. Ao encarar um fragmento de vidro, deparei-me com o rosto de Roger, meu padrasto. aquela parte deveria estar irremediavelmente despedaçada.

Juntei tudo e, quando ia começar a andar para pegar a pá, ouvi passos vindo em minha direção. Minha respiração disparou, meu peito se apertou; os passos são dela, minha mãe, a mulher que vai me matar se ver isso.

— Mayle, o que diabos você acha que está fazendo? — sua voz, ligeiramente rouca, ressoou pela cozinha. — De onde vêm esses cacos? — inquiriu, erguendo um lado do nariz.

Ela sempre faz isso.

Lentamente, virei-me, encarando os olhos azuis penetrantes dela, que me estudavam como se eu fosse carne fresca.

Engoli em seco, arrumando os cabelos atrás da orelha.

— Mãe, eu... — uma pausa, engolindo novamente, minha garganta seca. — Eu acidentalmente quebrei uma xícara sua, mas foi um acidente, eu juro — Meu olhar caiu para meus pés, ardendo e pegajosos de sangue.

Ela andou até onde estavam os cacos que eu tinha juntado, eu segui ela com os olhos vendo a merda da cara do Roger estampada virada para cima.

Me ferrei.

— Quebrou minha xícara favorita? — Seu olhar cravou-se em mim, a voz adquirindo uma sombria intensidade. — Fale, garota!

— Foi um acidente. Peguei o outro copo e ele escapou, caiu, eu... — Recuei, inclinando a cabeça para trás, tentando impedir as lágrimas.

— MAYLE, JURO QUE...

— Deixa pra lá, linda. Fale logo o que precisa ser dito, eu compro outra — Roger interrompeu, exibindo um sorriso largo.

Seu rosto angular e expressivo, com maçãs do rosto bem definidas, me encaram. Seus olhos azuis são notáveis pela intensidade e expressividade. Sua postura mostra que é um cara sério, mas na verdade é insuportável. O corpo magro, que minha mãe tanto ama, me parece ridículo.

— Garota, você costumava ser mais esperta — Minha mãe observou. — O que está acontecendo? Desatenta? Preste mais atenção a partir de agora, vai precisar — Ela se moveu pelo balcão em direção à geladeira.

— Desculpa, mãe — meu queixo se entorta sozinho, querendo chorar, mas eu hesito. Não irei chorar que nem uma criança. — Posso terminar de limpar e depois subir?

— Não. Deixe isso aí. Preciso conversar com você, então, sente-se. — Ela se acomoda do outro lado do balcão, dando uma golada na água.

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