Capítulo 22

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Entrar na vida de Cedar fora fácil para Clara. Há duas semanas ele a acompanhava durante o desjejum, porque o tomara mais cedo. Levava-a até a clínica, apesar da presença de Emerald. Almoçava com ela e a levava de volta para a clínica.
Ela voltava para o dormitório até o horário do jantar. Às vezes ele conseguia jantar com ela.
As noites eram muito especiais. Revezavam-se entre dormir no dormitório feminino ou a cabana dele. Cedar reclamava que ela deveria morar com ele, porém Clara não se sentia confortável com isso ainda.
Seus relacionamentos anteriores não a prepararam para a intimidade que tinha com Cedar. Faziam amor todas as noites e ela ficava esgotada, pois ele era insaciável. Depois ele a estreitava nos braços e ela dormia, sentindo-se querida.
A clínica acumulava o atendimento aos animais da floresta e os da criação. Painting a cada dia se apropriava da veterinária.
Desde a primeira vez que ela e Cedar apareceram juntos em público, Painting se tornara mais reservado. Trabalhava muito atento, porém mal conversavam. Ela sentia falta da camaradagem, das conversas que tinham.
Cedar não perguntava nada sobre Painting e o máximo que fazia era levá-la e buscá-la na clínica.
Emerald também mudara. Não brincava mais e sempre que Cedar a acompanhava se mantinha distante.
Clara também passara a conviver mais com a liderança da colônia. Creek, Blade e Sky a receberam muito bem.
Naquela tarde, ela e Painting arrumavam o armário de medicamentos. O homem conferia alguns medicamentos em silêncio. Clara o olhou, lindo, os cabelos presos num coque alto, os pés descalços.
— Painting?
— Hum?
— Você está chateado comigo? - ele virou-se para ela. — Por causa do meu namoro com Cedar?
Ele ficou um instante em silêncio, observando seu rosto atentamente.
— Você está acasalada com ele. Eu respeito isso.
— Acasalado e ser casado, não é?
— Os humanos chamam assim.
— Nós namoramos, não estamos casados.
Painting franziu as sobrancelhas.
— Você não é sua fêmea?
— Sou a namorada.
— Não está mesmo acasalada?
— Eu tenho um relacionamento sério com Cedar, não sei se um acasalamento como você diz.
— Você não é dele?
Clara enrubesceu.
— Sou dele pelo que sinto e ele sente por mim.
— Cedar não gosta de humanos; não entendo o interesse dele em uma.
— Você é contra humanos?
Ele a encarou duramente e Clara corou com a intensidade do seu olhar.
— Não posso responder isso, porque eu respeito o Cedar. É meu amigo.
Clara não soube o que dizer. Mexeu na caixa de medicamentos que organizava. Sabia do que Painting falava e se sentia constrangida por ele.
Ela guardou a caixa no armário usando um tempo maior do que necessário. Gostava muito de Painting e reconhecia que dera motivos para ele querer tê-la.
Painting se aproximou por trás dela.
— Eu sei que não deveria, mas preciso ficar perto de você. Se Cedar souber ele lutará comigo. - ela se virou e ele estava muito próximo. — Não precisamos conversar, só quero ficar perto.
Clara balançou a cabeça, num gesto de entendimento.
Painting voltou a arrumar o armário como se não tivesse se declarado para ela. Se pudesse, Clara riria da ironia de ter dois maravilhosos Novas Espécies apaixonados por ela. Mas... Ficou em dúvida: Cedar estaria apaixonado por ela?
Deu uma olhada em Painting. Era lindo do jeito de um Nova Espécie e a valorizara desde que a conhecera. Não fora assim com Cedar; ele a fizera sentir-se inferior apenas por ter se apaixonado por ele. Por que escolhera ele e não Painting?
Porque ele me enlouquece...
Este era o fato. Sentia-se excitada só em pensar  em Cedar. Apreciava a liderança dele; era eficiente, justo e lutava pela igualdade entre Novas Espécies e humanos. E  amava o seu corpo e tudo que ele a fazia sentir. Porém o que Painting falara era verdade? Ele não gostava de humanos? Por isso fora tão desagradável com ela?
Respirou fundo, ao sentir que a mágoa que sentira por Cedar ainda estava ali. Seu celular tocou, tirando-a daqueles pensamentos. Pegou o aparelho e viu que era Cedar.
— Alô.
Boa tarde, pequenina. Você está bem?
— Estou.
— Muito trabalho?
Bastante.
Eu também. Não poderei te buscar hoje. Terei uma videoconferência com as Homeland s. Te encontrarei no dormitório.
— Vou com Emerald.
Vá direto para o dormitório.
— Por quê?
Por que não iria?
— Estou pensando em visitar Estela.
Posso ir com você mais tarde.
— Quero pegar Peace acordado.
Ele fez silêncio por um momento.
— O que foi?
— Nada.
Sua voz está estranha.
Clara mordeu o lábio inferior.
— Não é nada.
— Preciso mesmo participar da reunião.
— Não é isso.
Então o que é?
— Depois a gente conversa.
Agora.
— Você não está ocupado?
Estou.
— Não quero te atrapalhar.
— Venha para cá.
Não, Cedar. Vou tomar um banho e depois vou na Estela.
Ele fez outra pausa.
Eu vou te encontrar.
— Não, por favor.
Clara...
— Eu te esperarei, então.
Certo. Terminando a reunião eu te encontrarei.
Está bom.
Estou sentindo a sua falta. Preciso estar com você o tempo todo.
Clara sentiu um quentinho no coração.
— Eu também.
Até mais tarde.
Ele encerrou a ligação e ela ficou olhando para o celular. Ouvir a voz dele a bagunçava toda.
Virou-se e viu Painting parado, observando-a. Sentiu seu rosto pegar fogo, como se estivesse fazendo algo errado.
— O que foi?
— Você está acasalada.
— Não sei, Painting.
— Como os humanos dizem: você ama o Cedar.
Clara respirou fundo. Ela sabia o que sentia.
— Eu amo.
Ele balançou a cabeça.
— Espero que ele mereça isso.
— Você acha que não?
EPainting pareceu pensar por um instante.
— Cedar é um Conselheiro. É meu líder, confio que é justo e eficiente.
— Mas...
— Mas meu ciúme é que me faz dizer que ele não te merece.
Emerald entrou na sala. Olhou atentamente de um para o outro, desconfiada.
— Cedar me ligou, ele não vem agora.
— Eu sei.
— Ele também te ligou?
— Ligou.
A mulher encrespou os lábios e Clara não imaginou o motivo.
— Você está pronta para ir?
— Me dê alguns minutos.
Emerald saiu da sala. Clara passou por Painting para guardar a última caixa. Ele saiu da frente e manteve distância. Ela trancou o armário.
Encarou Painting.
— Eu respeito o que você sente. Aceito que esteja próximo de mim. Mas precisa entender que eu amo o Cedar. Muito.
— Certo.
Saíram juntos da sala e o coração de Clara se compadeceu dele. Sabia o que era desejar alguém e se sentir rejeitado.
Encontrou com Emerald e partiram para o dormitório.

Cedar nunca ficara ansioso para uma videoconferência terminar. O Conselho deliberaria sobre as Homelands e ele precisava representar a colônia brasileira. Mas quando Justice encerrou a reunião ele desligou rapidamente o notebook. Clara o esperava.
Sentia que havia algo de errado com ela.
Como sempre, entrou no dormitório feminino e foi acompanhado por vários olhos, espécies e humanos.
Emerald estava sentada numa poltrona, lendo. Viu-o e se levantou.
— Cedar, posso ter uma palavrinha com você?
— Claro.
Emerald saiu do dormitório e ele a seguiu. A fêmea parou e o encarou.
— Você só compartilha sexo com Clara agora?
— Sim.
Ela deu um sorrisinho estranho.
— Então o que eu disse a ela fez efeito. - ele ficou em silêncio e Emerald prosseguiu. — Contei a ela que você foi o meu primeiro macho e foi muito cuidadoso. Acho que por isso ela escolheu você e não Painting.
— Como é?
— Ela e Painting tinham um interesse mútuo.- Cedar silvou e a fêmea ergueu as sobrancelhas. — Mas você foi o escolhido.
— O que queria me falar?
Emerald se aproximou e apoiou as mãos em seu peito.
— Faz muito tempo que você não compartilha sexo comigo. Se Clara pode ter dois machos, você pode ter outras fêmeas também.
Cedar rosnou e se afastou dela.
— Terminou o que queria dizer?
Emerald lhe deu um olhar magoado.
— O que as humanas têm que enlouquecem vocês? - ela tornou a se aproximar dele. — É porque são fracas e aceitam a dominação de um espécie?
— Recue, Emerald.
O queixo dela tremeu, porém ele a ignorou. Voltou para dentro do dormitório e foi direto para os aposentos de Clara.
Emerald estava certa? Clara o escolheu para tirar sua virgindade, mas também tinha interesse em Painting?
Rosnou novamente e abriu a porta do quarto.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora