Do Subúrbio... À Zona Sul

De Repente... Você

     Finalmente já era sexta-feira. Assim que pulei da cama abri as cortinas e dei uma boa olhada lá fora. O verde da mata que circundava quase toda a casa e o céu azul e sem quase nuvens me fez abrir um sorrisão. Eu havia combinado uma volta de lancha pela orla da cidade com um novo " amigo " e pela hora que acabara de ver no meu relógio de pulso, eu teria menos de uma hora para estar lindo e lindo lá na marina da cidade.

     Voei pro banheiro e de lá saí uns 22 minutos depois. Sunga, camiseta, bermuda preta, sandália, óculos escuros, chaves... Perfume pelo corpo todo... E fui encontrar com meu futuro Príncipe. Será? Será que esse cara seria mesmo o meu Príncipe? Foi o que pensei enquanto corria pela casa até chegar na Copa. Minha lindona Alice estava lá e sorriu ao me ver de pé tão cedo...

     _ Doente sei que não está. Agora... Por que de pé tão cedo meu lindinho? A beijei no rosto, senti o carinho da sua retribuição e disse:

     _ Tava cheio de tédio e resolvi dar uma volta de barco pela orla da cidade. Já viu como o dia tá lindo?

     _ Já sim, Eric. Seu irmão sabe que você tá indo dar essa volta?

     _ Acho que não. Eu não o vi desde... Olhei pro céu e fiz contas nos dedos das mãos... Desde a última vez que nos vimos há alguns dias atrás.

     _ Então você terá problemas se levar adiante esse plano de navegar por aí.

     Sentei, peguei um monte de cubo de melão, coloquei leite numa xícara e separei um pequeno sanduíche de queijo que ela com certeza fizera pra mim.

     _ Acho que não haverá nenhum problema, minha encantadora Alice. O mano nunca se importou com as minhas saídas.

     _ Você não está esquecendo de nada não, lindinho?

     A ruga na sua testa é que me fez ligar o alerta. Pigarreei e bebi um pouco do leite. Mordi o mini sanduíche de uma vez e disse:

     _ Quer falar logo o que você sabe e eu não... Por favor?

     Ela se posicionou atrás de mim, me envolveu numa delicioso e carinhoso abraço, pousou seu queixo na curva do meu ombro e disse:

     _ Hoje é a última sexta-feira do mês. Se bem lembramos, sua mesada será paga hoje após um dia todo de trabalho em alguma das empresas que compõem a Holding da família. Ou você não quer receber o seu " salário " meu lindinho esquecido?

     Parei de mastigar e várias coisas passaram pela minha cabeça na velocidade da luz. Eu fui praticamente intimado pelo mano sobre dar, pelo menos um dia a cada mês, alguma contribuição presencial nas empresas da holding, já que decidira deixar tudo nas mãos dele e viver sem tanta preocupação. Nas únicas duas vezes que esqueci de comparecer, ele cortou minha mesada e vivi praticamente a pão e água. Nem grana pra abastecer o carro eu tinha. Ele fechou todos os créditos dos meus cartões e vivi quase como um indigente. Respirei fundo. Bebi o resto do leite, virei meu rosto e disse com o olhar preso ao da minha querida Alice...

     _ Será que ele teria coragem...???!!! Ela nem me deixou terminar a frase e disse:

     _ Você ainda dúvida dele, meu lindinho? 

     Eu mesmo havia cavado a minha sepultura ao aceitar essa única condição que meu mano Eric impusera sobre minha participação na Holding Vital Couto, e consequentemente o repasse da minha gordíssima mesada. Sorri pra minha doce lindona e disse:

     _ Acho melhor correr né, Alice? A gente sabe que o mano odeia quando eu chego atrasado. Te amo, lindona. Faz um almoço caprichado porque quando voltar pra casa estarei faminto.