Presa e Predador... Será?

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     Ficamos lá nos encarando por um bom tempo. Ele era... Quer dizer, ele é realmente muito, mais muito lindo e cheio de confiança. Seu olhar parecia querer dominar não apenas meu corpo, mas também minha mente. Por fim eu respirei fundo e disse:

     _ Nunca conseguiria imaginar que você fosse o dono da casa noturna onde dancei uma única vez na vida e...

     _ Eu sei que você nunca mais dançou em canto nenhum, Fred. Calma, rapaz. Eu não estou te cobrando nada. Eu realmente gostei de você e gostaria de ser - pelo menos no início - seu amigo. Eu iria ficar cheio de bode se você simplesmente virar as costas e sair da minha vida... Novamente.

     _ Como assim... Sair da sua vida novamente?

     _ Esqueceu que acabei de dizer que já te vi pelo menos umas 03 vezes, e em todas elas eu fiquei realmente preso a você? Eu praticamente virei essa droga de cidade atrás de pelo menos uma pista sua... E nada. Você nem parecia ser real, e esse simples fato me deixou impotente... E eu odeio ficar sem saídas diante de seja lá o que for.

     _ Eu não posso ser acusado disso, eu...

     _ Eu não estou te acusando de nada. Estou apenas te dizendo como me senti por cada maldito dia sem saber nada de você. Vamos lá na cantina beber algo? Eles tem um suco de abacaxi com hortelã que você bebe jarras e jarras sem se importar com mais nada. Dito isso ele simplesmente virou-se e saiu. Acho que algo nele lhe deu certezas sobre mim, que nem eu mesmo tinha. Como não tinha nada pra fazer, e a minha natação havia sido totalmente comprometida... O segui.

    O lugar estava cheio de belos homens e mulheres que pareciam viver num outro mundo, e que sua vidas tinham ZERO preocupação. Havia pouco mais de 05 lugares vazios e ocupamos 02 deles assim que recebemos nosso pedido. Eu o observei atentamente, e na cara dura, até que seu olhar encontrou o meu e um monte de dentes brancos e retos me foram mostrados por ele naquilo que classifiquei como um belo sorriso másculo e sedutor...

     _ O que anda fazendo da vida, Fred? Pelo que me disse, dançar é algo que está completamente fora de qualquer cogitação... Não é?

     _ Está, sim Faruk. Quando falei seu nome, vi que seu olhar ficou mais fixo, penetrante e suas íris escureceram mais ainda. Os olhos dele brilharam com  satisfação, e também de prazer? É isso mesmo... Prazer em ouvir eu dizer seu nome com mais naturalidade.

     _ Apesar de lamentar sua decisão, pelo simples fato de saber que você é muito... BOM... Dançando... Também fico feliz em saber que buscou outros caminhos e que eles provavelmente deram certo. Acertei?

     _ Sim. Hoje eu posso dizer que tomei a decisão certa ao abandonar a velha vida e mergulhar numa nova estrada. Sorvi um pouco mais do delicioso suco que ele havia sugerido e o ouvi perguntar:

     _ Posso saber em que você trabalha, Fred?

     _ Claro. Trabalho numa empresa que organiza festas e recepções. Minha mãe é a grande mentora da ideia toda. Ela sempre batalhou muito e por conta de vários problemas  pessoais que tivemos num passado não tão distante, eu acabei indo parar na sua casa noturna. Só que isso deu uma tremenda confusão. Pode até não parecer, mas sou extremamente tímido e dançar naquele palco, naquela noite, foi algo... Libertador.

     _ Então mesmo admitindo que foi algo bom, você parou. Isso tá meio contraditório, não?

     _ Eu sei, mas...

     _ Desculpa, Fred. Não pense que estou te julgando, ou cobrando. Na minha cabeça, se algo está dando certo, eu simplesmente continuo e vou até onde puder. Você, não. Você, mesmo sabendo o que causou naquele dia, numa momento seguinte decidiu virar a página e mergulhou em outra coisa. Isso é no mínimo louvável... Fascinante... Surpreendente, e mostra o quanto que você é forte e determinado.

Do Subúrbio... À Zona SulWhere stories live. Discover now