Capítulo 1

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Ba Sing Se era grande demais.

O território da Nação do Fogo era vasto e ele já tinha viajado por todo o mundo àquela altura, mas Ba Sing Se era definitivamente grande demais.

Todos os dias, pessoas entravam e saíam pela porta da casa de chás. Algumas ele já reconhecia, outras não — era gente demais para lembrar.

As pessoas do anel do meio apreciavam muito o estabelecimento e, no fim da tarde, quase na hora de fechar, tio Iroh enrolava um pouco para que as pessoas do anel inferior que trabalhavam no anel médio pudessem passar por ali e pegar um chá por um precinho mais baixo, para terminar o dia bem.

Zuko nunca mais vira Jin, mas pensava nela uma vez ou outra; não porque gostava dela, mas por imaginar se ela estaria bem. Contudo, seus pensamentos sempre retornavam à Nação do Fogo, lembrando-se de um certo rosto pálido e entediado e olhos escuros levemente inexpressivos. Será que iria vê-la de novo? Quanto tempo será que levaria?

Foi em uma dessas noites que ele decidiu vagar pelas ruas do anel do meio, para espairecer e também para conhecer melhor a vida noturna daquele lugar. Não era uma pessoa muito sociável, mas estava entediado e curioso.

E foi assim que ele a conheceu.

Ele era um príncipe, acostumado às reuniões e festas da alta sociedade, então não sabia como as coisas funcionavam no distrito do entretenimento do anel do meio de Ba Sing Se. Mesmo sendo jovem demais para tal, entrou no primeiro bar que viu, que parecia bem agitado. Sentou-se, pediu um chá gelado (coisa que a atendente estranhou) e começou a observar.

Havia garotas dançando, homens tocando instrumentos e pessoas se embriagando. Não era como a confusão nos bares do anel inferior, mas não estava tão distante assim. Nada ali era explícito além da bebedeira, mas ele não pôde deixar de reparar nas jovens moças que dançavam olhando nos olhos dos clientes, que dirá nas moças que riam e cochichavam coisas no ouvido dos homens cujo colo elas ocupavam. Todas estavam bem vestidas, mas ele podia dizer que seus vestidos eram bem curtos, justos e tinham decotes reveladores.

E, depois de muitos minutos, ele reparou nela. Era definitivamente a garota mais jovem ali; ele poderia até dizer que tinham a mesma idade. Ela era a mais "coberta" no estabelecimento, usando um típico vestido longo da baixa aristocracia de Ba Sing Se, de estampa florida sob um fundo em verde bem escuro. Sua maquiagem era quase imperceptível, e os curtos cabelos cheios e cacheados eram tão escuros quanto o céu noturno, mas ela tinha olhos tão dourados quanto os seus próprios. Ela era de uma beleza simples, mas muito intrigante para ele.

Ele se perguntou o que ela estaria fazendo ali, entediada numa mesa qualquer de bar, exatamente como ele. E quando ele percebeu que estava encarando por tempo demais já era tarde, porque ela sorriu para ele e saiu de onde estava para sentar na mesma mesa que o rapaz da cicatriz.

— Boa noite — disse ela com sua voz melodiosa e tempestuosa ao mesmo tempo.

— Boa noite.

— É novo na região?

— Sim.

— Hm... E qual o seu nome?

— Lee. E o seu?

— Camélia.

Camélia?

— É, como a flor — ela explicou e abriu ainda mais o sorriso. — O que o traz aqui?

— Tédio.

— Imaginei, pela sua cara — riu.

Ela definitivamente era da idade dele, o que significava que nenhum dos dois deveria estar ali, ainda mais ela, que era uma garota desacompanhada. E ele teve dificuldade em esconder o choque quando ela simplesmente chamou a atendente e pediu duas doses de saquê sem levantar qualquer suspeita.

Uma história de Ba Sing SeOnde histórias criam vida. Descubra agora