Capítulo 3

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Eles não se viram por três dias, mas não foi por falta de procura da parte de Zuko, que a encontrou quatro dias depois, de noite, no mesmo bar. O hematoma no olho dela estava quase sumindo, mas ele percebeu que ela usava um vestido de manga longa pela primeira vez desde que se conheceram, e não estava frio.

A conversa rolava normalmente, e era engraçado para ele próprio perceber o quanto as coisas fluíram bem entre eles desde o princípio. Em nenhum momento ele foi rude ou fez algum comentário ácido, coisa que era de sua natureza, justamente por sentir-se confortável quando estava com ela, apesar de todas aquelas dúvidas e inquietações.

— Vai, pergunta — ela disparou.

— Pois não? — ele acordou dos próprios pensamentos e encontrou os olhos dela.

— Você tá olhando pro meu vestido desde que chegou. O que foi, não gostou?

O quê? Não, claro que não. Eu achei bonito, só nunca tinha visto você usando um vestido de manga comprida — o rapaz deu de ombros, desviando o olhar.

— Ah, entendi. Obrigada, então — ela riu.

Entretanto, por mais bonito que fosse o vestido e por mais intrigado que ele estivesse em relação a ele, Zuko não pôde deixar de reparar que Camélia olhava constantemente para o tio, que parecia nem dar bola para a presença dela ali, mas era como se ela estivesse preocupada. E ela estava.

— Quer dar uma volta? Hoje eu vou avisar, pra evitar transtornos — ela perguntou.

— Pode ser, mas só se não for te causar problemas.

— Relaxa.

Eles levantaram, ela avisou ao tio que estava saindo e os dois deixaram o bar, sentindo o silêncio invadir seus ouvidos. Não estava exatamente silencioso ali fora, mas era mais silencioso que dentro daquele lugar, e parecia que era a primeira vez que Camélia estava respirando direito desde que chegara.

Ela definitivamente morria de medo do tio. Além de querer saber o que ela tanto escondia, ele queria muito saber o que acontecia naquela pequena família disfuncional.

— Eu queria perguntar uma coisa.

— Sabia — ela riu. — E o que é?

— Você... O seu tio. O que tem de errado com ele?

— Como assim?

— Você tem medo dele.

Ela pausou os próprios passos, ficando imóvel no meio da rua pouco iluminada. Ele não tinha prestado atenção, mas enfim percebeu que ela estava abraçando o próprio corpo — Zuko tinha tocado em um tópico muito, muito sensível.

Ele se arrependeu imediatamente de ter feito aquela pergunta e aquela afirmação logo em seguida, não porque tivesse deixado de estar curioso, mas pelo efeito que teve sobre ela. Contudo, ela suspirou e perguntou:

— Como você ganhou essa cicatriz, Lee? — disse num tom levemente irônico.

— Eu te disse que foi num acidente numa cozinha, não disse?

— Disse. E teria sido realmente convincente se eu não soubesse que é mentira.

— Como pode ter tanta certeza de que eu tô mentindo? Eu sei que você também mente — o rapaz retrucou.

— Eu fico com as minhas mentiras e você fica com as suas... Príncipe Zuko.

Dessa vez foi ele quem congelou. Os olhos se arregalaram, as palmas das mãos começaram a esquentar e o coração dele acelerou.

Uma história de Ba Sing SeWhere stories live. Discover now