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O som do cartucho cheio de balas 9 milímetros sendo colocado dentro da pistola semi-automática de Amelia chamou a atenção de Liam que não conseguiu evitar de checar de canto de olho. Ela estava fazendo uma última verificação durante o caminho até a zona industrial no norte da cidade. O jovem sentiu seu coração apertar pela segunda vez naquela madrugada. A parceira tinha costume de andar armada, apesar de dificilmente disparar, mas se ela estava revisando era porque estava mais do que pronta para usá-la.

O couro do volante reclamou pelo aperto dele mais uma vez. Naquela hora, Amelia reparou, já que estava no banco do carona.

— Relaxa... — disse bufando. — Não pode ficar nervoso toda a vez que sairmos.

— Não é toda vez que saímos... — ele rebateu. Era só quando a vida dela estava em jogo.

Depois de alguns anos de amizade, ele sabia bem o quão instável ela poderia ser e era por isso que Gary concordava com ele sempre estar com ela.

Liam, diferente da morena, nunca foi o tipo de cara que se envolvia em confusão. Ficar em casa trabalhando com segurança cibernética, hackeando grandes redes sociais para ganhar uma grana... Esse era seu plano. E era o que ele pretendia com a Diamond Rose. Jamais imaginou que eles o achariam e muito menos que o recrutariam. O chefe já tinha decidido mandá-lo para a inteligência, com os outros "nerds", mas tudo mudou quando... Amelia. Ela era o evento de sua vida.

A química dos dois, sua sincronia... Era perfeita. Gary não podia separar sua melhor dupla de recrutas. Mesmo um sendo medroso e o outro maluco. Liam ainda lembrava do dia em que a garota foi promovida a número dois. O burburinho na organização foi intenso por semanas. Os rumores começaram desde nepotismo até prostituição. E óbvio que ela fez questão de achar cada um que falava essas coisas e arrebentar seu rosto até que tivesse dobrado de tamanho. Assim ela foi ganhando o respeito, e o temor, dos homens abaixo dela.

Durante as missões, a função de Liam era ser quem mantinha Amelia "sob controle". Claro que isso era algo utópico, não há como controlar uma alma selvagem. Mas ele conhecia aquela personalidade como a palma de sua mão, talvez até melhor, e sempre tinha uma maneira de acalmar os ânimos da amiga. E ela gostava disso. Sabia que quando perdia as estribeiras as coisas ficavam feias bem rápido e se não voltasse aos seus sensos poderia comprometer a organização, e erros eram inaceitáveis. Mas além de ajudá-la a seguir os planos com cautela, ele tentava ao máximo protegê-la. Para ele, não era sobre a família e sim sobre ela. Seu maior medo era que em algum momento ela perdesse a cabeça e se machucasse. Ou morresse. E ele sabia que isso era uma possibilidade latente.

— Você sabe que sei o que estou fazendo. — a voz da morena era calma e até um pouco ríspida, como se quisesse mostrar pra ele que estava bem.

— Eu sei? — perguntou ironicamente. Um sorriso brincalhão surgiu no canto dos lábios dele. Amelia revirou os olhos, fingindo estar irritada.

— Não enche...— resmungou.

Quando desceram do carro, do outro lado da rua do pequeno prédio comercial onde os servidores ficavam, o céu começava a ficar mais claro ao leste, indicando que eles não tinham muito tempo até o sol nascer e as calçadas começarem a encher. A garota bateu a porta logo depois de esconder a arma no coldre debaixo do braço esquerdo, sob a jaqueta de couro. Enquanto atravessava o asfalto, as mãos claras amarraram os cabelos, contrastando com os fios escuros. Liam apertou o passo logo depois de trancar o veículo antes que a perdesse de vista. Ao chegar próximo da entrada, o jovem já se colocou em alerta enquanto a parceira destrancava a fechadura eletrônica ao lado da porta de vidro. O edifício não tinha nenhuma identificação do lado de fora. Eram quatro andares com janelas escuras, uma estrutura um pouco velha, nada chamativo. Quem via de longe até poderia imaginar que algumas empresas tinham salas comerciais para seus funcionários ali. Por dentro era outra história. Os corredores que levavam aos escritórios eram claros e limpos, não havia nenhum rastro de que alguém frequentava o local diariamente. Já atrás das portas havia várias mesas, cubículos, computadores... Mas nenhuma companhia. Era tudo fachada.

Black HeartWhere stories live. Discover now