𝕍𝕀

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O quarto de Amelia ficava no décimo quarto andar. Lá era onde as pessoas de escalão mais alto da máfia ficavam. Gary cedia os melhores aposentos do prédio, geralmente com dois cômodos e banheiros grandes. Claro que todos poderiam ter suas casas fora dali, o que era o caso da garota e de Liam, mas era comum passar as noites ali em épocas mais movimentadas.

Nas primeiras vezes em que ele ficou naquele quarto sozinho com ela, seu coração deu sinais de que ia explodir ou parar a qualquer momento. Depois de tantas vezes, já estava acostumado. Ele não tinha mais esperança de que ela um dia fosse o ver como homem. Era como amar um gato. Uma paixão unilateral.

O ambiente era escuro, móveis pretos, uma grande janela que mostrava a cidade estava coberta por uma negra cortina pesada. Tinha um pequeno sofá moderno logo de frente para a porta, acompanhado de uma mesinha de centro com um tampo de vidro igualmente escuro e duas poltronas que combinavam com o conjunto. Atrás dos assentos, havia uma escrivaninha grande com um computador e dois monitores grandes. Por cima da mesa, tinha uma bagunça de documentos, pastas, fotos, arquivos... No canto dela, algumas latas de energético vazias e amassadas.

Na parede contrária tinha uma porta de vidro que levava para o quarto que estava decorado no mesmo estilo moderno e minimalista. Era tudo preto. Desde a parede até os tapetes. O que mais chamava atenção era a grande cama queen size, coberta por um edredom monocromático que parecia até bem confortável. Ao lado um grande guarda roupas de madeira fosca, com portas altas, até o teto. Próximo a janela, uma poltrona grande, com uma coberta cinza escura por cima. No chão, sobre os tapetes pretos, tinham várias roupas joagadas. Liam já sabia que ela era bagunceira, aquilo não o incomodava.

Amelia passou pela porta e a olhou, checando se a fechadura eletrônica tinha trancado. Tinha medo de que alguém pudesse entrar sem avisar.

— Senta na cama... Vou pegar o kit de primeiros socorros. — disse caminhando até o banheiro, acessível pelo quarto, que também seguia a mesma paleta de cores. Ali tinha uma banheira que Amelia nunca tinha usado. Talvez por não se julgar merecedora de um momento de auto cuidado.

Do armário de baixo da pia ela pegou uma caixa branca, plástica, com uma cruz vermelha em cima. Era grande, do tamanho de uma embalagem de sapatos. Quando voltou para o quarto, Liam parecia estar com dificuldades para tirar o paletó. Ele gemia baixo, tentando esconder a dor que estava sentindo.

— Ei, ei, ei... — ela se aproximou, largando o kit em cima da cama.

Ela foi delicada, puxando o tecido pelos braços dele, que tentava fazer o mínimo de barulho possível. Depois disso ela desabotoou a camisa e enquanto seus dedos iam descendo, o garoto não pode evitar a respiração acelerada. Nem seu coração aguentou quase batendo para fora de seu peito. Ele já havia imaginado aquela cena diversas vezes, mas não naquelas circunstâncias. Por alguns segundos a dor até sumiu, ele observava o rosto dela, tão perto... Seus lábios, seu cheiro... Sua cabeça ficou leve e ele apreciou aquela proximidade. Ela era gentil enquanto terminava. Quando sua pele foi exposta, ela pode ver a gravidade da situação.

— Onde foi que você se meteu? — tinha um olhar um pouco triste no rosto de Amelia. Ela estava preocupada e isso fez o garoto se sentir um pouco melhor. Eram raras as ocasiões em que ele tinha a atenção dela.

A pele clara das costas dele estava manchada com um grande hematoma e um corte profundo coberto de sangue já seco. O ombro direito também estava inchado e roxo. Pelo resto do torso haviam diversos machucados, arranhões não tão profundos. Ele ficou imóvel deixando ela examinar seu corpo. Tinha a expectativa de ver desejo em seus olhos.

— No telhado. — ele respondeu, tentando parecer calmo.

— Você caiu do telhado, por acaso? — Amy perguntou ironicamente, como se quisesse chamar a atenção dele por não falar a verdade.

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