79 | Está cercado.

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Acordo assustada com barulhos de fogos sendo disparados, um atrás do outro, muito barulho. O Henrique já está de pé, se vestindo rapidamente.

— Droga! — corre até onde ele esconde as armas.

Há tanto tempo que isso não acontecia, que até esqueci o que significa. Invasão.

O radinho dele apita e como ele está correndo carregando as armas, eu pego e aperto o botão.

— Oi, o Alemão está se arrumando — informo.

— Avisa para ele que é a polícia — escuto muito barulho de fundo. — As coisas estão complicadas. — escuto alguns tiros.

Quando vou responder, o Henrique para na minha frente com o fuzil nas costas, então entrego o radinho para ele.

— O L1 disse que é polícia e a situação não está boa — repasso o que escutei.

Ele me puxa para um abraço e deposita um beijo na minha cabeça, sinto uma certa preocupação na expressão dele.

— Vai ficar tudo bem, cuida das crianças — faz carinho na minha bochecha.

— Eu te amo, toma cuidado — aconselho, com o coração na mão.

— Também te amo — me dá um rápido selinho e sai correndo.

Levanto e corro até o quarto do Pietro, encontro ele sentado na cama com uma cara de assustado e confuso, acordou provavelmente com os barulhos fortes de fogos e tiros.

— Vem, meu amor — pego ele no colo.

Vou com ele no colo até o quarto da Isabela, o qual é o único a prova de balas e com uma tranca especial, nós o fizemos para ser um quarto do pânico, em emergências como essa. Não é reconfortante saber que sua casa precisa de um quarto do panico.

Coloco o Pietro na cama com a Isabela e ativo a tranca do quarto, volto para perto deles e me aconchego em um canto da cama, fazendo carinho no Pietro até que ele volta a dormir.

Eu não estava pronta para isso agora, tenho tanto medo em saber que ele está lá fora no meio de tudo isso. Sinto a sensação de preocupação, com a impotência e isso me faz chorar.

— Mãe, o que está acontecendo? — o Pietro acorda mais uma vez, meio atordoado.

— Nada, meu amor, está tudo bem — puxo ele para o meu colo. — Vai ficar tudo bem.

Faço carinho nele, por longos minutos, sinto meus olhos pesarem e quando estou quase caindo no sono, escuto um barulho de coisas sendo jogadas e me assusto, desperto rapidamente. Os barulhos ficam cada vez mais fortes, até que alguém tenta abrir a porta, mas devido à tranca, isso não é possível.

A pessoa não desiste e continua sacudindo a porta, tentando forçar ela a abrir e sinto meu corpo inteiro se arrepiar de medo.

— Essa porta está trancada, tenente! — um homem grita do lado de fora.

Merda, polícia.

— Não importa, acabamos de pegar o que viemos buscar — escuto outra voz masculina responder.

Depois disso, escuto os passos indo embora e ficando cada vez mais distantes até não dar para ouvir mais nada, o silêncio reina de repente.

O que deve estar acontecendo lá fora? Não saber de nada me deixa desesperada.

Pego meu celular para procurar alguma notícia e o que vejo não me agrada nem um pouco, ao contrário, me desespera.

Alemão

— Está cercado — o PM aponta o fuzil para mim.

MERDA! MERDA!

— Ou solta a arma, ou leva um tiro na cabeça! — ele se aproxima mais.

Percebo que não tem para onde correr, nem o que fazer, olho para todos os lados em busca de ajuda ou alguma salvação, mas não avisto nada. Percebo que não tem jeito e jogo a minha arma no chão.

QUE CARALHO! Não devia ter ficado aqui sozinho, muito arriscado, agora eu me ferrei, muito.

 ME FERREI PARA CARALHO!

— Boa escolha — ele pega a arma do chão, sem desviar o fuzil de mim.

Aparece outros deles a minha volta, estou completamente cercado e um dos vermes vem até minhas costas e me algema, apertando a algema o mais apertado possível, provavelmente para me machucar.

— Esperamos muito por isso, Alemão — dá uma risada de orgulho.

De surpresa, recebo um soco no rosto, não sinto dor porque a dor pior é a raiva da minha burrice me corroendo por dentro. Imagina a reação da Victoria quando receber a notícia. QUE ÓDIO!

Sou arrastado por eles até o camburão e me jogam na parte traseira, como se eu fosse um animal e fecham a grade.

— Antes de te levar para a delegacia, vamos ter uma conversinha — ele bate na grade que nos separa.

A única coisa que consigo pensar agora é neles, como será para a Victoria vai aguentar essa barra sozinha e ainda ter que dar uma explicação para as crianças. Sabia que um dia eu estragaria tudo para ela, ou melhor, que a minha "profissão" estragaria, mas não achei que seria tão cedo.

Logo dessa vez que tenho todos os motivos que sempre quis para voltar para casa.

Passo o caminho todo preocupado com a minha família e quando me deu conta, já estou sendo arrastado para fora do camburão em uma mata. Olho em volta e só tem a estrada de areia de onde viemos, arvores e mato.

— Hora de se divertir — me joga no chão.

Já sabia que no dia que eu fosse preso, não seria uma prisão qualquer, aprontei demais com eles todos esses anos e a polícia geralmente guarda bastante rancor.

Sou atingido por vários socos e pontapés, que sinceramente, não me afetam muita coisa, porque minha cabeça está completamente longe. Minha cabeça está lá no morro.

— Isso é por toda dor de cabeça que você nos deu — dispara um tiro contra mim.

Sinto a bala perfurar meu ombro, uma dor que eu já passei muitas vezes e talvez, posso declarar que já estou "acostumado". Não sinto muita coisa, além do sangue, escorrendo do meu braço.

— Agora teu papo é com a justiça — eles me puxam para o camburão novamente.

Meu braço não para de sangrar, sujando tudo a minha volta.

— Agora que vamos tomar o comando da comunidade — um deles dá risada. — Acho que vou conduzir uma visitinha mais demorada na sua casa — um deles fala rindo.

— Eu não faria isso se fosse você — tento parecer calmo.

Mas por dentro, estou irritado para caralho, se eles encostarem um dedo na minha família, sou capaz de qualquer coisa.

— Não está no direito de exigir nada — debocha. — A puta que ele tem em casa é muito gata — comenta com os outros.

Aí se eu tivesse uma arma nesse momento, não sobraria um para contar história. Não me importo em falarem de mim ou me agredirem, mas a minha família não. Na minha mulher, que eles não encostem!

Victória

Isso não pode estar acontecendo. 

NÃO! NÃO!

Estou em meio a um ataque de pânico, quando meu celular toca.

— Alô — atendo tentado controlar minha respiração.

— Você está bem? — a Milena parece estar tão ruim quanto eu.

— Levaram ele, Milena, ele está preso — choro, em desespero.

— Tenta ficar bem, daqui a pouco estou aí — ela desliga.

O que farei aqui sozinha? O que falarei para as crianças? Estou completamente perdida, só queria um pouco de paz, estava indo tudo tão bem.

A Nova MoradaWhere stories live. Discover now