3 | Idiota.

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— Alemão, o dono do morro e da casa também — levanta da cama. — Vim conversar contigo sobre o aluguel.

— Como você entrou aqui? — continuo assustada.

— Você escutou a parte do sou dono da casa? Tenho uma chave reserva. A casa, a princípio, não era para ser alugada — continua tranquilo.

— Você devia pelo menos avisar antes de entrar assim. Pensei que mal cheguei e já iria morrer — suspiro e ele ri.

Sorriso bonito. Caralho. Mas a carinha de homem que não presta é um sinal vermelho.

— Sou a Victoria. Tem como você me esperar na sala? Só vou trocar de roupa e já vou — ele me olha de cima a baixo e morde o lábio.

E só depois, obedece meu pedido e sai do quarto. Fecho a porta do quarto e vou até o armário.

Que cara safado! O descarado nem disfarçou.

Procuro uma roupa mais apresentável no armário e me troco. Sigo para a sala e ele está sentado no sofá assistindo televisão. Ótimo, é folgado também.

— Já podemos conversar — chamo a atenção dele para mim.

Me sento no sofá ao lado dele.

— Quanto é o aluguel? — quero resolver isso o mais rápido possível.

Quero ele fora dessa casa o mais breve.

— Geralmente os aluguéis são de quatrocentos a quinhentos reais, porém como essa casa era minha particular — faz uma pausa para pensar e volta a falar. — Faço por seiscentos reais para você — meus olhos se arregalam.

— Acreditei que seria mais barato — fico frustrada.

— Não é a filhinha dos papais milionários? — é sarcástico.

Idiota! Com essa cara, claro que tinha que ser.

— Se você sabe de quem sou filha, você já sabe da história — sou grossa.

— Esse é o valor final para mim, não tenho como fazer mais barato — dá de ombros.

— Ta fechado, preciso da casa de qualquer jeito — mesmo relutante, me rendo. — Como falei, vou pagar três meses adiantado. Amanhã saco o dinheiro e te entrego.

— Beleza, mina. Leva lá na boca para meus vapores e tá tudo certo.

— Tá bom — concordo, mesmo sabendo que vou ter que descobrir sozinha a onde fica isso.

E um silêncio estranho se instala.

— Tô vazando então — quebra o silêncio. — Deu meu horário.

— Eu nem te ofereci nada para beber ou comer. Aceita algo?

Tento ser educada, mesmo querendo me livrar dele o mais rápido. Vai que ele abaixa o preço do aluguel mais para frente.

— Tô de boa — levanta.

Levo ele até o portão. Quando pisamos o pé na calçada, a menina que esbarrou em mim mais cedo está em pé ao lado de um carro. Acredito que deve ser o carro dele.

— Que porra e essa, Alemão? Essa daí quase quebra meu braço esbarrando em mim mais cedo e agora quer roubar você de mim. Mal chegou e já que levar corretivo! — tenta vir para cima de mim.

O Alemão entra na minha frente a tempo e segura ela pelo braço.

— Em primeiro lugar, fala baixo comigo que você não ta falando com qualquer um. Segundo, não fode que eu não sou seu homem e nem porra nenhuma — ele lança um olhar fulminante pare ela.

Ela fica raivosa, sinto o sangue dela fervendo e ela me olha como se quisesse me matar.

— Eu ainda acabo contigo piranha! — aponta o dedo para mim.

Dou um sorrisinho para ela.

O Alemão arrasta ela pelo braço até o carro estacionado.

— Entra na porra do carro! — ele solta ela e vem até mim novamente. — A gente se vê por aí.

— Uhum — torço para não acontecer.

Volto para dentro de casa e tranco tudo. Visto novamente meu pijama e deito para dormir. Amanhã procurarei emprego com a ajuda das meninas.

Não consigo dormir e fico perdida em pensamentos. O morro. O Alemão. As meninas. A Raquel e a Catarine. Muita informação para um dia só, mas gradualmente vai tudo escurecendo.

A Nova MoradaOnde histórias criam vida. Descubra agora