II

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    Segui em direção as portas da entrada pensando no que poderia fazer para descobrir se eram pessoas que realmente precisavam de ajuda ou soldados disfarçados. Então tive a ideia de fazer reconhecimento por voz antes de abrir e deixar que entrassem.

    - Escutem! Entre vocês, há mulheres ou crianças? Peço que os mesmos se identifiquem! - disse próxima a porta, em uma tentativa de que se houvessem mulheres e crianças o grupo seria de fato de pessoas comuns.

    - Por favor! Nos ajude! Temos crianças pequenas conosco. - disse uma voz feminina do outro lado da porta.

    Aquela voz sem dúvidas era de uma mulher, aquilo me balançou o suficiente para não pensar duas vezes em abrir e deixar que entrassem. Mal sabia o erro que tinha cometido. Quando destranquei a porta veio um chute e a empurrou sobre mim, que acabei caindo para trás, após levantar minha cabeça e olhar para à frente havia pelo menos oito soldados inimigos entrando, trazendo com eles reféns. Aquilo era desumano, usar civis como tática de guerra para invadir outros lugares, e ainda por cima havia uma mulher que carregava um bebê em seu colo.

    - Prendam ela! - disse um superior entre os soldados.

    Vinheram dois dos seus subordinados e amarraram meus braços para trás com uma corda enquanto os demais escoltavam três mulheres e uma criança para dentro do convento. Fui puxada para cima quando o mesmo homem que liderava o grupo se aproximou.

    - Diga, freira... quantos de vocês tem aqui dentro? - perguntou ele em um tom sério.

    Permaneci em silêncio para que não descobrissem sobre as outras irmãs que estavam escondidas, não queria sequer imaginar quais atrocidades poderiam fazer a elas caso as pegassem. Porém, também precisava mentir e deixar meus princípios de lado ou jamais perdoaría-me por colocá-las em uma situação daquela.

    - Mais ninguém... eu evacuei todos os que estavam aqui dentro por precaução antes de abrir a porta, para que pudessem fugir se talvez fossem soldados inimigos. - respondi tentando persuadí-lo.

    - Espera que eu acredite nisso? Que uma freira seria capaz de tomar tais atitudes nessa situação, e que simplesmente evacuaria todos que estavam aqui dentro por um motivo no mínimo duvidoso? - ele perguntou desacreditando em minhas palavras.

    - Não espero que acredite... ajudar o povo do nosso país é o meu dever, assim como qualquer outra pessoa que mereça ser chamada de justa. - respondi o encarando com firmeza.

    - Justa... hahahahaha! Justa. Não existe pessoa justa, freira. Apenas aquelas quais suas escolhas se relacionam com as ideologias de terceiros ou de uma moral social invisível. Se há justiça no mundo, então até o mal pode ser justo, não é? Já pensou como isso parece vazio e só aponta indiretamente uma semelhança entre o pensamento de duas ou mais pessoas? Então, onde está a verdadeira justiça? A verdadeira justiça quase nunca se apresenta entre esses mamíferos imundos que andam e defecam sobre a terra... e hoje, você vai entender sobre isso. - disse ele se aproximando do meu rosto e passando sua mão no meu cabelo.

    - Fale o que quiser, mas enquanto me conta sobre suas ideias, as pessoas que eu salvei se distanciam ainda mais de todos vocês, o meu papél aqui está feito. - respondi a ele tentando induzí-lo para que fosse atrás das pessoas que supostamente eu havia evacuado.

    - Veremos então. Façam reconhecimento no local! Vasculhem tudo! Peguem o que for necessário! - ordenou ele aos seus soldados.

    Passaram seis soldados por mim e adentraram pelos corredores do convento, naquele momento rezei em minha mente para que a porta estivesse bem fechada e não conseguissem entrar. O líder deles tinha se sentado a poucos metros de onde eu estava e começava a se limpar com um pano e uma garrafa de água. Outro soldado vigiava as reféns que também tinham sido amarradas, menos a que carregava uma criança. Até que dois dos que foram vasculhar retornaram e se aproximaram do seu superior.

    - Encontramos a dispensa, senhor, mas ela está trancada por dentro, a suspeita é de que há pessoas lá dentro. Como devemos prosseguir? - perguntou o soldado.

    - Vamos perguntar à nossa ilustre anfitriã, ou estaríamos sendo indelicados em sua casa. Diga, freira, prefere abrir aquela porta ou prefere que nós a arrombemos? - perguntou o líder deles com um sorriso em seu rosto para mim.

    Não tive outra escolha há não ser acatar suas ordens, algo me fazia acreditar que os meios que poderiam usar para abrir a dispensa talvez incluíssem a morte das minhas irmãs no processo. Levaram-me até a porta e então falei com Fiodora sobre a situação e pedi para que a abrisse, assim quem sabe os danos seriam menores. Meu peito apertava como se houvesse uma corda passada no meu torso e estivesse sufocando minha respiração, rezando para que ainda existisse o mínimo de ética entre os nossos inimigos a fim de que não fizessem mal contra minhas irmãs.

    Puxaram a porta por dentro e os soldados entraram apontando suas armas para à frente dispostos a matar caso houvesse qualquer sinal de hostilidade lá dentro. A suspeita era de que pudesse haver soldados feridos ou qualquer outro indivíduo armado, entretanto, apenas encontraram várias freiras no lugar. Relataram a situação para o seu superior que estava ao meu lado diante da porta e escoltaram todas para fora.

    - Escutem todas! Montaremos uma base aqui por quatro dias. Vocês compartilharão conosco seus mantimentos e obedecerão minhas ordens, não faremos mal a nenhuma de voçês, a menos que mereçam punição. Particularmente, eu não gosto de matar freiras, mas se tentarem comprometer o meu grupo, estarão pedindo para que eu tome medidas como esta. Agora vocês podem ir orar ou fazer o que as freiras fazem no seus dias comuns, menos essa aqui... ela se mostrou muito audaciosa tentando me engarar, por isso ficará sob supervisão dos meus soldados. - disse o líder deles apontando para mim.

    - Por favor, libere nossa irmã! Ela só estava pensando no bem de todas nós. - exclamou Ravínea.

    - Está decidido! Agora... se me dão licença, hoje ainda não tive o meu dejejum. Soldados, levem-as daqui. - disse ele se sentando em uma cadeira.

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⏰ Last updated: Apr 02 ⏰

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Minha Doce GrinaldaWhere stories live. Discover now