Laura

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POV LAURA


Ontem depois da minha crise de choro a minha irmã ficou o tempo inteiro comigo. Ela não fez muitas perguntas, apenas perguntou se eu queria conversar e eu só neguei com a cabeça. Quando a noite chegou toda aquela angustia pareceu tomar conta de mim novamente e eu quase não consegui dormir.

O dia acabou de amanhecer e antes que meu despertador tocasse pra escola eu já estava de pé. Procurei não fazer barulho pra não acordar a Julinha e levantei, eu sentia minha cabeça doer, e o meu corpo quente, ignorei o que estava sentindo e decidi tomar banho. Abri o chuveiro e fiquei ali observando a água cair, eu tentava fugir dos meus pensamentos e das sensações que eles me causavam, eu me sentia sufocada, entrei embaixo do chuveiro e então tentei aliviar meu coração chorando. 

Eu sempre fui uma criança feliz. Tenho bons pais, condição financeira boa, estudei nas melhores escolas e nunca me faltou nada. Eu morava na praia e nas férias eu saia da escola direto pra barraquinha de pipa, impossível não ser feliz desse jeito.

Algumas pessoas que não me conhecem de verdade me olham e me julgam como uma menina mimada pela irmãzinha. Eu não concordo com isso. Mas confesso que também não ligo que falem. Aprendi com a mana que as coisas tem a importância que nós damos a elas, eu julgo que esse tipo de pensamento sobre mim não me cabe, então não me importo com eles.

Eu cumpro com as minhas obrigações na escola, no inglês e dentro de casa. Respeito a minha irmã, os meus pais e procuro sempre estar em dia com Deus. Esse último é o mais importante. Desde muito nova aprendi dentro de casa que não importa quem seja o adulto, devemos respeitá-lo. Acho que por isso sempre me calei sobre as coisas que o Gustavo fez comigo. Respeito. Quando as agressões começaram eu tinha 4 anos. Eles chegaram para as férias de verão na Ilha dos namorados e nesse dia eu estava um pouco impaciente, queria porque queria que a Lu me levasse à praia, insisti bastante no assunto até que meu irmão me olhou feio e disse pra eu ficar quieta. Lembro que a Lu me pegou no colo e disse que depois iríamos, o Gustavo por sua vez, reclamou que minha irmã fazia todas as minhas vontade e por isso eu era essa criança mimada. Ele esperou todos irem pra cozinha pra me maltratar. Me puxou pelo braço e me arrastou pra varanda, eu não lembro ao certo o que ele me falou aquele dia, mas lembro perfeitamente do quanto eu fiquei assustada e com medo, quando ameacei chorar ele me deu um tapa nas costas mandando eu ficar calada.

Eu era apenas uma criança de 4 anos, qual criança nessa idade consegue segurar o choro? Ainda mais um choro de medo? Abri o berreiro e a Lu veio correndo de dentro de casa. Ela me pegou nos braços perguntando o que havia acontecido e eu apenas afundei o rostinho em seu pescoço, chorei tanto que dormi. Eu não sei qual justificava ele deu pra minha irmã. Não sei se ela o questionou. Só sei que daquele dia em diante ele só parou quando mudamos pra São Paulo.

Quando eu soube que minha irmã iria embora eu entrei em desespero. Por dois motivos: como eu viveria sem ela? Quem iria me proteger do Gustavo? Se ele já driblava a mamãe e conseguia me levar pra passar os finais de semana com ele com ela em casa, imagina quando a Lu fosse morar fora. Eu não podia ficar naquela casa sem a minha irmã, a minha mente gritava isso o tempo inteiro, eu gritava isso dentro de casa o tempo inteiro, nada parecia adiantar. Até que o meu corpo começou a dar sinais.

FLASHBACK ON

- Laulau, levanta que tá na hora do banho! - minha irmã sentou na cama me chamando, alisou meus cabelos e eu virei pra ela fazendo que não com a cabeça - Vai pequena, tá na hora de acordar - insistiu

- Eu não quero ir, mana - resmunguei - A minha cabeça tá dodói - falei e abracei as pernas dela

- Laura, você tá quentinha, espera a mana rapidinho que vou pegar o termômetro pra ver essa temperatura - saiu apressada do quarto e eu sentei na cama, não demorou 2 segundos e eu vomitei tudo que tinha no meu estômago, fiquei assustada e comecei a chorar

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