Capítulo 6

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Colie
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Minha barriga roncou de novo três vezes em dez segundos, novo recorde. Bem que podia ter um o campeonato no orfanato. Um disputas de quem tem a barriga mais feroz e monstruosa. As meninas finalmente chegaram. Kadna atrás de Fier, com um prato de mingau em mão. Comi o mais rápido possível sem pensar no sabor. Aghata também estava com elas, os cabelos castanhos e encharcados de suor faziam sombra nos olhos, protegendo do sol ardente. Entre a franja se estendiam antenas tão longas quanto o rosto e da sua cintura saía uma cauda ainda mais longa que a de Fier. E de cada ombro, um pouco acima das asas, um braço de louva-a-deus dragão. Os pedaços de exoesqueleto verde musgo, quase preto, brilhavam como metal.

- E aí? - Kadna perguntou enquanto seguíamos Fier e Aghata em direção ao bosque, as duas juntas carregando uma caixa de vidro de mais um de um metro.

- Minha pele ainda tá ardendo, mas pelo menos não tô mais com fome!!! – sorri.

O bosque foi como um banho de água fresca, interrompendo o calor. Meus pés descalços se refrescavam sobre as folhas úmidas e mortas no chão. O vento ali não era mais um instrumento de cozimento, mas sim refrescante e ainda forte o suficiente pra fazer meus cabelos esvoaçarem. Fechei os olhos pra sentir a brisa suave dançando entre as folhas, tão fresco quanto a terra úmida sob meus pés. Então de repente algo me fez tossir minhas tripas ao encostar na minha língua, quando abriu os olhos uma aranha caía da minha boca

-  ECA!!! Que nojo, cara - continuei tossindo pra garantir que não tinha nenhum resquício do bicho asqueroso. -  Credo! Eeehmm!!! Coisa horrorosa! Eu não acredito que isso encostou em mim!!!

Esfreguei a língua na manga da camisa...

- Sério? – resmungou Kadna se abaixando pra pegar a aranha e pondo-a no viveiro.

- É sempre assim? – perguntou Fier rindo da minha infelicidade.

- Toda hora – retrucou Kadna revirando os olhos.

- Acho que aqui tá bom... – falou Fier.

Então paramos esperando a escorpião que fechava os olhos e respirava lentamente. No chão, entre meus pés uma lagarta andava lentamente na direção de Fier, assim como dezenas de outros insetos ao nosso redor. Peguei o bicho verde entre os dedos e o levei até o viveiro, até então só com a aranha. Os cientistas nunca foram muito claros com relação a como esse troço de chamar insetos funcionava, apenas diziam que envolviam os feromônios que as mutações proporcionavam. Mas eles não me enganam. Eu sei que eles dão umas cebolas pra Fier, e quando ela soltava um peido, os bichos vinham. É a única explicação pro cheiro que ficava no ar. Caramba, é uma boa teoria. Vou patentear.

- Tá sorrindo por que, 106? – me perguntou Fier colhendo uma centopeia do tamanho da sua mão.

- Eu sou um gênio!!! – retruquei enquanto pegava um Besouro-Glorioso, verde brilhante.

- Olha, 106, que legal!!! – Kadna  falou sorrindo enquanto escondia alguma coisa na mão.

- O quê?

Abriu a palma pra revelar uma larva branca do tamanho de um dedo.

- Uma cria de besouro rola bosta igual você!!!

- Eu não sou uma besouro rola bosta – resmunguei cruzando os braços.

- Achei que você fosse uma mistura de todos os besouros – falou Fier.

- Exato! – pelo menos alguém me entende.

- Então você tem DNA de rola bosta correndo nas suas veias – a escorpião sorriu.

Dama De Ferro (EM EDIÇÃO)Where stories live. Discover now