Capítulo 9

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Casa de Davina Ryan. Barking, Londres. Inglaterra.

Noor não foi a primeira pessoa a mencionar a máfia albanesa para Lestrade. Rudolf o introduzira, no passado, a alguns representantes. Ávidos para modernizar a criptografia deles, eles eram desconfiados, faziam tudo em família e raramente procuravam ajuda externa.

Se aquele wanker está pedindo nossa ajuda, algo de muito errado está acontecendo no seio da máfia albanesa. E isso, mate, é ruim para os negócios. Seja nostalgia ou os tempos sombrios, Lestrade ouvia na mente as palavras do dono da Dragon's Breath ao alisar a mesa de madeira do escritório de Davina.

Eles ajudaram a velha guarda a proteger seus bens do eterno olho da justiça. Promotores e investigadores bufavam em seus cangotes, fruto da vida extravagante da nova geração. Rolex, carros importados, exibição nas redes sociais... Ermal e seu conselho enfrentavam um problema sério.

Todavia, enquanto esperava no escritório de Davina, jamais imaginou uma mulher no topo do poder deles. Os tradicionalistas e céticos sempre foram contra mulheres assumirem cargos de chefia. Para eles, o lugar delas era a cozinha e no lar. Sem contar que Davina era britânica, sem os valores da cultura albanesa.

Uma pitada de curiosidade surgiu. Ele tinha que conhecer mais sobre a mulher por trás da lavagem de dinheiro daquela facção.

Sentado, com as pernas cruzadas, retirou sua pasta dos ombros e olhou o decoro. Os porta-retratos evidenciavam a passagem de Davina pela Albânia, fotos dela com o conselho e alguns passatempos. Parecia ter experiências com paraquedismo, alpinismo e corrida de resistência.

Contando com as aulas de defesa pessoal também.

Atrás da grande e confortável poltrona era possível enxergar a entrada da rua, o caminho tomado pelas crianças e, claro, a maldita van, a mesma que vira em Whitechapel. Quantas vans escuras existiam em Londres? Quantas delas eram uma Sprinter sem placa? A paranoia voltou a lhe atacar.

Mas seria mesmo paranoia quando era verdade? Engoliu em seco. Como eles sabiam que ele estava ali? Havia feito de tudo para evitar perseguições, mas o maldito veículo estava lá.

Era como se fosse rastreado por algo sobrenatural. Era a única explicação.

Benzeu-se e fez uma oração silenciosa. Um pequeno pai nosso. Não era muito religioso, mas vai que funcionasse? Doaria algo para a Igreja depois se as preces fossem ouvidas.

O tique-taque dos sapatos no linóleo anunciou a chegada de Davina. Em um casaquinho xadrez cinza, uma saia executiva curta e a meia-calça escura, ela demonstrava elegância, profissionalismo e um toque de sensualidade.

O sorriso não o enganava. Muito menos as roupas escolhidas a dedo.

— Me surpreende uma estrangeira ser a responsável pela movimentação do dinheiro da máfia albanesa.

— Sou herdeira de uma financeira e meu finado marido precisava de uma mãozinha para lavar seu dinheiro. — Ela pegou uma foto e sorriu. — Quando ele morreu, eu mantive a empresa de pé.

— Sem filhos?

— Não. — Ela passou para trás uma mecha fina de seus cabelos ondulados, que ia até um pouco abaixo dos ombros. — Minha enteada é casada com meu instrutor e ele não entende nada de negócios. Ela também não, fez moda.

— Ah... — Lestrade abaixou a cabeça em respeito. — Entendo.

Ela sentou na ponta da mesa e cruzou os braços.

O ChacalWhere stories live. Discover now