Capítulo 10

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Para Demétrius, tudo era conectado. Todos eram ligados, parte de um grande e imenso quadro chamado destino, cujo autor se chamava Deus, também conhecido em outras culturas como Alá. Tal autor não se escondia somente por trás da arte. O desgraçado também criou um fluxo harmônico, constituído de notas antagônicas chamadas pessoas.

De perto, com os olhos bem abertos, muitos o contestavam. Não viam um coreógrafo espiritual, trabalhando incessantemente. Os cientistas defendiam a existência de uma colmeia, sem rainha, criada a partir de escolhas fractais. As consequências nada mais eram que coincidências.

Ah... as malditas coincidências. Era pedir demais não ter olhos feitos para enxergar as contradições nesses acasos? Se pudesse, brindaria a Hercule Poirot e Sherlock Holmes por viverem nesta eterna maldição, de sempre ver a verdade por trás das suaves mentiras.

Talvez por isso estivesse sentado, comendo um bom e velho hambúrguer enquanto esperava a força-tarefa finalizar a operação em Whitechapel. Sem pena, desbaratou a organização de Rooster e adquiriu centenas de falsos documentos pertinentes a inúmeras investigações.

Também ignorou as ligações do MI-5. Provavelmente queriam saber da batida que sua equipe realizou em um lugar vigiado por outras operações. Não tinha saco para explicar o objetivo de apertar o cerco contra todo falsificador, sem contar as arapucas nas saídas da cidade.

Rooster teria seu trabalho de volta, sem problema, até seria um de seus clientes quando prendesse os criminosos responsáveis pelo massacre do Dragon's Breath.

Daria mais uma deliciosa mordida se não fosse um oficial esmurrando a janela de seu pobre volvo. Quase deixou cair a carne do hambúrguer no colo.

Arqueou uma sobrancelha e fitou com severidade o policial. O cara estava vermelho que nem um pimentão e parecia que iria explodir. Ele correu quantos quilômetros até chegar ali? Balançando a cabeça em negação, ele abriu o vidro, suspirando por ter que ficar no frio londrino e não no aquecedor de seu carro ligado.

— Senhor! — O oficial de nome Hamilton praticamente gritou em seu ouvido. Doeu — Senhor! Eu tenho boas notícias!

— Tenha calma. — Recriminou Demétrius, comendo mais um pedaço de seu sanduíche. — E relate de maneira coerente o que quer que seja que...

Hamilton, em um ato completamente deselegante para a criação que teve, deu um tapa na mão de Demétrius, o que fez com que o delicioso e saboroso sanduíche caísse em seu colo.

A cara de espanto de Demétrius logo deu lugar a um furor nunca visto. O Inspetor-Chefe da polícia metropolitana e líder daquela força-tarefa sacou um revólver de seu coldre de ombro e apontou para o queixo de seu subordinado.

— Eu sou um amor de pessoa, doce até. — A voz estava ritmada, leve, escondendo a fúria emanada pelos seus olhos. — E por mais que eu seja péssimo de mira, dessa distância, nem Deus, nem a Rainha me farão errar.

— Achamos a van. — Hamilton ignorou as ameaças.

— O quê?

— A Sprinter Negra, que saiu de forma suspeita daqui de Whitechapel momentos antes de nossa batida. — Demétrius, ainda puxando Hamilton pela gola, fitou a mão esquerda do rapaz. Nela, um tablet com imagens da van atravessando a cidade e estacionando na região de Barking. — O senhor nos disse para checar a respeito dela e do Audi.

Demétrius grunhiu.

— Avise a força-tarefa. Deixe Strike a par de suas descobertas!

Demétrius empurrou o pobre coitado para o asfalto e retirou a sirene de um compartimento. O velho e confiável volvo rugiu, ansiando por mais uma perseguição nas ruas apertadas e adoráveis daquela cidade cinzenta.

O ChacalWhere stories live. Discover now