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As Fúrias rodeavam os baluartes, lá no alto, nas trevas. As muralhas externas da fortaleza brilhavam negras e os portões de bronze com dois andares de altura estavam escancarados.

De perto, viram que as gravações nos portões eram cenas de morte. Algumas de tempos modernos - uma bomba atómica explodindo sobre uma cidade, uma trincheira cheia de soldados usando
máscaras de gás, uma fila de africanos vítimas da fome aguardando com tigelas vazias -, mas todas pareciam ter sido gravadas no bronze havia milhares de anos.

Dentro do pátio havia o jardim mais estranho que viram. Cogumelos multicoloridos, arbustos venenosos e plantas luminosas fantasmagóricas cresciam sem a luz do sol. Gemas preciosas supriam a falta de flores, pilhas de rubis grandes como um punho, aglomerados de diamantes brutos. Aqui e ali, como convidados de uma festa que foram congelados, havia estátuas de jardim da Medusa - crianças, sátiros e centauros petrificados - todos sorrindo grotescamente.

No centro do jardim havia um pomar de romãzeiras, suas flores alaranjadas brilhando como néon no escuro.

— o jardim de Perséfone — Annabeth disse — continue andando.

O cheiro ácido daquelas romãs era quase irresistível. Tiveram um súbito desejo de comê-las, mas uma mordida de um alimento do Mundo Inferior e nunca mais poderiam sair. Percy puxou Grover pra longe, pra impedi-lo de colher uma delas, grande e suculenta. Subiram os degraus do palácio, entre colunas negras, passando por um pórtico de mármore negro, para dentro da casa de Hades. O vestíbulo tinha um piso de bronze polido que parecia ferver à luz refletida das tochas. Não havia teto, apenas o teto da caverna muito acima.

Todas as portas laterais eram guardadas por um esqueleto com trajes militares. Alguns usavam armaduras gregas, outros, uniformes ingleses de casacas vermelhas, e havia ainda os que vestiam roupas camufladas com bandeiras americanas esfarrapadas nos ombros. Carregavam lanças, mosquetes ou fuzis. Nenhum deles os incomodou, mas suas órbitas ocas os seguiram enquanto andavam pelo vestíbulo em direção ao grande conjunto de portas no extremo oposto.

Dois esqueletos de fuzileiros navais americanos guardavam as portas. Eles sorriram para eles, com lançadores de granadas atravessadas no peito.

— sabem de uma coisa — Grover murmurou. — aposto que Hades não tem problemas para despachar vendedores de porta a porta.

— como Ashley podia frequentar esse lugar tão jovem? — Luke questionou incrédulo.

— Bem, gente — Percy falou. — Acho que devemos... bater?

Um vento quente soprou pelo corredor e as portas se abriram. Os guardas deram um passo para o lado.

— acho que isso significa entrei-vos — Annabeth falou.

Lá dentro a sala era exatamente como no  sonho de Percy, só que dessa vez o trono de Hades estava ocupado.

Diferente de quando recebeu a filha, Hades estava em sua forma de deus, com seus três metros de altura, mantos de seda preta e uma coroa de ouro trançado.

Ele reclinava-se em seu trono de ossos humanos fundidos parecendo flexível, elegante e perigoso como uma pantera.

Percy teve uma sensação estranha, seguida de pensamentos de que Hades deveria dar as ordens. Sabia mais do que eles. Devia ser seu mestre.

A aura de Hades estava os afetando, assim como acontecera com a de Ares. Hades tinha um olhar intenso, o mesmo tipo de
carisma hipnotizador e maligno que via em grandes vilões de história.

Percy questionou se Ashley realmente era filha daquele cara. Agradecia por ela ter puxado a mãe dela.

— você é corajoso de vir até aqui, filho de Poseidon — Hades disse. — depois
do que me fez, você é muito valente, sem dúvida. Ou talvez seja simplesmente muito tolo.

Percy hesitou por um momento, então deu um passo à frente. Sabia o que tinha de dizer.

— Senhor e tio, trago dois pedidos.

Hades ergueu uma sobrancelha. Quando ele chegou mais para a frente em seu trono, rostos sombrios apareceram nas dobras dos seus mantos negros, rostos atormentados, como se o traje fosse feito de almas dos Campos da Punição pegas ao tentar escapar, costuradas umas nas outras.

— Só dois pedidos? — Hades disse. — criança arrogante. Como se você já não tivesse recebido o bastante. Fale, então. Acho divertido esperar um pouco para fulminar você.

Annabeth pigarreou, cutucando Percy quando ele pareceu se distrair olhando pro trono menor na sala.

— Senhor Hades — Percy começou. — Olhe, senhor, não pode haver uma guerra entre os deuses. Isso seria... ruim.

— Realmente ruim — Grover acrescentou, querendo ajudar.

— Devolva o raio-mestre de Zeus para mim — ele disse. — Por favor, senhor, deixe-me levá-lo para o Olimpo.

ASHES, Luke Castellan - PJOWhere stories live. Discover now