Leandro 🏀

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É difícil achar uma pessoa, mesmo em uma cidade pequena. E isso é, no mínimo, frustrante. Pelo menos para Júlio, principalmente quando se anda de um lado para o outro com uma bola de basquete surrada e bastante pesada, perguntando de casa em casa se eles conheciam algum Leandro – nome escrito em péssima caligrafia na bola.

— Não, meu filho. Pior que não conheço. — Dona Odete, a senhorinha mais fofoqueira do bairro e a última esperança do garoto, falou com um olhar perdido, parando de molhar as plantas. — Mas porque você quer saber desse tal Leandro? Tem certeza mesmo de que ele mora por aqui?

— Tenho, sim senhora. Quer dizer, pelo menos eu sei que ele morava aqui. — Suspirou, se sentando no batente da casa dela para olhar a rua.

— Não quer me dizer mais do que você sabe sobre esse Leandro? Eu posso fazer um esforço nesse minha mente de velha e tentar puxar alguma coisa. — Ela colocou o regador no muro da casa e se apoiou na parede perto de Júlio.

— Eu não sei muito. Só sei que esse é o nome dele, que ele provavelmente jogava basquete e que ele andava com a minha mãe — comentou passando a mão pelas tranças já desgastadas. Definitivamente precisava fazer algo em relação a elas antes de se mudar.

— Espera, andava com sua mãe? Nos tempos da adolescência? — Júlio assentiu. — Deus do céu… calma. Ela era cercada por vários garotos, mas tinham cinco que eram os xodós dela.

Aquilo acendeu algo em Júlio, aquela era uma parte da vida de sua mãe que ele nunca tinha sido informado. Pior, nunca tinha visto nem sombra desse assunto sendo mencionado em casa.

— Poxa… Leandro… Leandro… Lean…. — A senhora arregala os olhos e olha para baixo, encarando o rapaz. — Você tá falando do Lion?

— Eu… tô? Não sei. Acho que sim?

— Deus do céu, garoto! — Ela riu, exibindo as rugas ao lado dos olhos. — Era tão mais fácil se você tivesse dito algo antes.

— Então, você conhece o Lean… Lion?

— E como! Ele namorou uma das minhas filhas por um tempo. Mas eles não vingaram muito. Lion era muito… solto. E minha Kamila queria medicina, então precisava se concentrar. Eles não deram muito certo.

— Mas ele era mulherengo ou algo do tipo?

— Que nada, meu filho! Aquele ali se apaixonava e ficava dois meses só pensando naquela garota antes de tomar atitude. Quando ele e a Kami terminaram, ele levou uns quatro meses até aparecer com outra.

— Ele não… Como posso dizer isso? Ele não teve nenhum envolvimento com minha mãe, não é?

— Por quê? Tá com medo da possibilidade de que ele poderia ser o seu pai? — Ela riu ainda mais solta. — Não se preocupe não. Nenhum dos meninos com quem a sua mãe andava tentaram algo com ela. Mesmo que seu avô jurasse de pés juntos que todos davam em cima dela.

— Vovô realmente era muito ciumento com ela, né? — Se levantou, ficando frente a frente com a senhora.

— Em um ponto quase doentio. Ele era muito… paranoico em relação ao que sua mãe fazia. Por isso ela foi pra uma escolacatólica. — Olhou para cima, quase como se conseguisse ver a imagem de Melissa com o uniforme da escola. Ela abaixou o rosto e olhou para o rapaz. — Mas agora sabemos que isso não funciona. Afinal, se funcionasse, eu não estaria conversando com você não é, filho?

Ela riu, levando a mão ao rosto dele e dando batidinhas muito de leve apenas para provocá-lo.

— Então… ele não mora mais aqui? — perguntou vendo a senhora voltar para perto do canteiro de rosas.

As histórias que o vovô roubou Where stories live. Discover now