Capítulo 03

26 9 2
                                    

Raul esticou-se quando o seu turno finalmente havia acabado de atender uma idosa que sofria com graves problemas respiratórios mas felizmente estava se recuperando.

— Café? — O enfermeiro fintou a pessoa que entrava no local onde somente eles conheciam e também aproveitavam para ir quando precisassem descansar.

— Se eu tomar mais um não durmo mais tarde — Respondeu bocejando e levantou-se pronto para ir receber o recém-chegado.


O homem aproximou-se de Raul que desviou-se ao perceber as intenções dele.


— Adam! — Indagou passando a mão pelo seu rosto, estava cansado e sem paciência para aturar as cantadas dele.

— Ainda sem chance? — O homem alto, com o cabelo castanho escuro, mordeu o lábio inferior tentando reprimir o seu desagrado, perguntou decepcionado pela rejeição do outro.

— Você é o meu melhor amigo, Adam e isso não vai mudar — Raul respondeu encostando na parede fria mesmo o aquecedor estando ligado, levou a mão até o cabelo do mais alto e o afagou as madeixas castanhas.


Adam encurralou o homem retinto, o segurando pela cintura tentou novamente beijá-lo porém foi novamente rejeitado.


— É por causa da minha idade? Nós até transamos e você quis então porque não aceita namorar comigo? — Questionou esfregando o nariz contra a bochecha do outro.


— Eu não sinto nada além de carinho por você. Sabes como eu sou e não é por você ter idade para ser o meu filho — Adam soltou o menor quando escutou aquilo, ele odiava saber que não despertava interesse em alguém mesmo sendo atraente.

— O apartamento que indiciou é óptimo — Complementou fugindo sorrateiramente dos braços de Adam que fingiu nada aconteceu.

— Eu sei. O meu irmão é o dono do prédio e o Max pode viver a vontade por lá — Disse seguindo o homem negro que ia em direcção ao vestiário para trocar de roupa e poder trocar de turno.

— O Max adorou e tem o novo vizinho, ele parece ser amargurado e sem vida que levei um pedaço de bolo para ele — Adam balançou o dedo em frente ao amigo.

— O seu optimismo e bondade vão te levar para a cova, Raul — Interveio quando aqueles olhos castanhos vívidos que encantavam até a mais cruel das criaturas.

— Não seja estraga prazeres. O mundo é cheio de amargura e sofrimento, que mal tem eu ter esperanças que algum dia mude e mesmo que não mude, saber que posso melhorar o dia de uma pessoa é o suficiente para mim — Raul respondeu enquanto caminhavam entre o corredor totalmente branco do enorme hospital onde trabalhava.




Adam continuou calado observando as pessoas andando de um lado para outro no ambiente silencioso que no começo o causava arrepios.

— Pois espero que os meus pacientes pensem como você — Disse quando entraram no vestiário.

— Também espero. Amanhã irei trazer algumas coisas para as crianças e idosos, vai querer alguma coisa? — Falou pegando as suas coisas dentro do seu cacifo e não deveria esquecer o frio congelante do lado de fora e felizmente o inverno estava passando.

— Não venha trabalhar amanhã. A Ortega irá cobrir o seu lugar enquanto descansa e não vou querer nada — Respondeu Adam colocando a sua bata branca.


Raul não teve tempo para responder pois Adam saiu logo de seguida, podia não gostar do clima tenso entre eles quando o maior insistia em falar sobre um assunto delicado como aquele.


Suspirou profundamente antes de ir pegar o elevador que o levaria para a parte de baixo.

Encostou as costas na parede, exausto, o seu trabalho era óptimo e ele adorava mas sempre manter um sorriso e ser inabalável para ganhar o sorriso sincero dos pacientes era uma recompensa que valia muito para ele mesmo que cobrasse tanto de si mesmo.

Fechou os olhos, inalando o ar fresco da noite e respirou fundo antes de sair do elevador e ir procurar um táxi ou ônibus que o levasse para casa.

A luz do sol batendo contra o seu rosto o fez sentir tão vivo, mesmo sendo um homem de trinta e cinco anos, as vezes sentia que a sua alma ainda continuava jovem.

Chamou um táxi que prontamente veio atendê-lo, era caro? Sim porém chegaria mais cedo em casa e não precisaria ter que escutar um monte de gente reclamando.


— Ben? — O homem negro disse quando viu o loiro parado ao lado de sua porta como se estivesse o esperando.

— O que está fazendo aqui? — O loiro simplesmente olhou para si sem dizer uma palavra porém estendeu uma marmita para o menor.

— Para mim? — Raul perguntou surpreso e logo o seu sorriso angelical se abriu enquanto recebia a marmita, algo que não passou despercebido por aqueles olhos azuis sem vida.

Benjamin ainda pensava que aquilo era uma actuação perfeita para um amador, o loiro acreditava veementemente que Raul não era quem mostrava ser mesmo as informações dizendo o contrário da sua opinião, ainda precisava confirmar.

— Quer entrar? — O retinto convidou surpreendendo o loiro que pensou outra coisa porém aceitou, estava sem sexo há tempos então porque não aceitar?

Max foi a primeira coisa que viu quando entrou dentro do apartamento de Raul, o pastor alemão latiu antes de pular nos braços do seu dono que o recebeu com uma chuva de beijos e carícias atrás da orelha.

Benjamin notou o ambiente decorado com móveis pintados a cores vívidos e algumas flores mesmo dentro de vasos continuavam vivas e transbordando a vida.

— Pode sentar, eu já volto — O sofá afundou quando Jones descansou o seu grande corpo contra a superfície macia.


Max, o pastor alemão veio sentar ao lado de Benjamin, as suas orelhas apontadando para o alto agora estavam levemente caídas, o seu focinho preto encostou na perna do loiro e ele fechou os olhos caindo no sono.

Quinze minutos passaram enquanto Benjamin somente observava o ambiente estranhamente reconfortante para a sua vista mesmo não estando habituado a um lugar tão convidativo, não desgostou do lugar.


— Desculpa, eu precisava de um bom banho — Raul disse segurando duas chávenas que pareciam ter alguma coisa quente dentro, pelo aroma, reconheceu o chocolate de longe.


O loiro recebeu o chocolate quente ainda sem dizer uma palavra enquanto olhava para o retinto, ele trajava um moletom que ficou folgado no seu corpo e junto de calções que deixavam as suas pernas por fora.

Raul chamou o pastor alemão que se levantou dando espaço ao dono para sentar, assim que o enfermeiro o fez, Max se deitou nas suas coxas voltando a dormir.

— Você é assim com todos? — O enfermeiro fintou confuso o homem com a voz ríspida, parecia estar sussurrando quando falava, aquilo faria qualquer um subir nas nuvens.


— O que quer dizer, Ben? — Benjamin deu mais um gole no chocolate quente encarando fixamente os olhos castanhos.

— Irritante, barulhento e bonzinho, pessoas como você não vivem muito por um motivo, sabia? — Respondeu desagrando o enfermeiro que quis retrucar a altura, entretanto o loiro ficou de pé.


— Esse jeitinho bondoso só vai te criar problemas — Raul deixou a chávena e seguiu o loiro que abriu a porta se deparando com Adam segurando um bouquet de flores.

O menor ficou sem entender o porquê Jones tinha parado até seguir para onde ele estava olhando e ver o seu amigo que havia ficado no hospital.

— Quem é você? — O médico ignorou completamente o retinto e retorceu a boca em desprezo para com o loiro que estava totalmente indiferente.

— Depende de quem quer saber — Benjamin respondeu num tom calmo que irritou o outro.

— Sou o namorado dele — O loiro não quis comprometer a sua missão por causa de um homem imaturo e explosivo como aquele, por isso o afastou do caminho e seguiu em total silêncio de volta para o seu apartamento.

SOMBRA E LUZWhere stories live. Discover now