Parceiros - Offgun

85) Descanse em paz

Antes da pólvora, a arma protagonista de muitos milênios chamava-se faca. A navalha sempre fez mais estrago que um punho, e dessa forma tornou-se um instrumento perfeitamente eficaz, que aos poucos deixou de ser tão explorado quando surgiram os cabos e gatilhos.

Mas Jumpol sempre foi um homem apegado à origens distantes e costumes inexplorados. Ele sabia portanto, que para uma faca ser considerada boa para arremessos sua ponta deveria ser pontiaguda e extremamente afiada, seu cabo deveria variar entre quinze a vinte e cinco centímetros dependendo do que você desejasse perfurar e o quão longe planejava penetrar. Um tronco por exemplo exigia mais força, então um cabo longo era a melhor opção, mas a carne não era tão resistente quanto a madeira.

Off encarava seu próprio reflexo na lâmina polida, enquanto que a outra mão segurava um pano branco antes usado para limpa-la. Seus olhos eram tão afiados quanto as extremidades daquela faca, e isso era um charme mediante ao rosto pálido. Ele deixou o instrumento sobre a mesa e encarou a janela, estava chovendo no fim daquela noite.

Em seus anos como policial da linha especial ele se deparou com um montante de estudos relacionados a psicopatia e o modo de operação. A maioria dos assassinos cujo traçam seus movimentos buscam fazer isso em temporais, pois, a chuva e outros acréscimos naturais podem dificultar a análise do crime, implicando nas evidências. A perícia costuma ter dor de cabeça em cenários desse tipo.

Aqueles determinados como psicopatas tem obviamente a habilidade apática e mórbida de planejar um bom assassinato. Como por exemplo examinar a estrada que um antigo policial costuma atravessar toda manhã após sua demissão, um local de pesca particularmente afastado da cidade, e vazio no período das três as sete da manhã. Eles também costumam ter uma boa mira, o suficiente para atingir o calcanhar de alguém com duas facas lançadas no ar e impedir a vítima de andar. No entanto, ela não estaria proibida de gritar, então ele deveria estar ali para cobrir a sua boca e arrasta-lo para dentro da pequena mata.

- Quem é você? Por favor... por favor não faça isso, eu dou o que você quiser, pode pegar qualquer coisa!

- Quem sou eu? - Questionou, afiando uma navalha na outra enquanto se aproximava do homem debilitado, que tentava se arrastar ao chão em meio a lágrimas misturadas com a chuva: - Você me conhece, mas é uma honra que tenha se esquecido. - Disse parcialmente ajoelhado para falar com a vítima. Pouco antes de levantar-se outra vez, e de seu pequeno suporte ao qual arrastou consigo tirar um triturador médio. Fazendo o homem arregalar os olhos e tentar gritar, mas ninguém atendia: - Esse é um bom lugar para a pesca, atrai muitos peixes, principalmente em dias de chuva. Esturjões, tetra... e os carnívoros.

Quando se trabalha no ramo, se aprende principalmente como funciona uma investigação. A primeira coisa que a perícia busca são pegadas, então não use sapatos mas faça questão de cobrir seus pés, a segunda são as digitais, então tenha a certeza de usar luvas grossas e uma touca para impedir que qualquer fio seja deixado para trás, a quarta são marcas de pneu, então não vá de carro até a cena de execução. Mas existe algo mais importante nisso tudo: o corpo. Quando algo é triturado, ossos, dentes e cabelo permanecem intactos, então trate de ao menos retirar os dentes e o couro antes. Depois, livre-se da carne, talvez alimentando peixes carnívoros em um lago próximo, em seguida limpe bem o que foi usado para executar o crime. Queime o cabelo, quebre os dentes e o restante dos ossos, transformando-os em poeira, jogue no mesmo rio. Sobre as roupas, lave-as bem, e deixe em um brechó grande e lotado.

Além disso, trate de matar alguém que ninguém se importe em procurar.

- Você está atrasado. - Gun choramingou ao agente que havia acabado de chegar na delegacia. Ele parecia alegre e renovado, sua aparência estava impecável, roupas bem passadas, cabelo bem arrumado em um puro aspecto de limpeza: - E está lindo. - Sussurrou com franqueza, quase como se o elogio fosse inevitável.