Capítulo 5 - surto surto ahhhh

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[Narrado por Ben]

Ouço batidas na porta enquanto ainda tento me recuperar do pesadelo recorrente. Parece que ainda consigo ouvir os sussurros infernais sobre minha cabeça e, pior, consigo enxergar na minha frente os olhos de Eric me olhando, como se preparando para se defender do meu ataque. Balanço a cabeça em negação e ouço novamente batidas na porta.

— Ben? — É a voz de Eric do lado de fora.

— Pode entrar.

As portas do quarto se abrem de uma vez e Eric aparece no corredor, na penumbra.

— Ei! — Eric diz, se aproximando. Ele veste uma camisa branca amarrotada e uma calça preta, está descalço e com os cabelos muito bagunçados.

Vejo um guarda parado do lado de fora do quarto.

— Oi — Respondo, ainda sentado na cama, ainda sem assimilar meu sonho, ainda sem entender o que Eric está fazendo aqui agora.

— Você está bem? — Não respondo, olho novamente para o guarda lá fora e Eric percebe. — Ele estava nesse corredor e ouviu você gritando, então ele me chamou.

— Eu gritei? — Pergunto, apenas para Eric, mas é o guarda que responde:

— Sim, ah, o senhor chamava pelo príncipe. Quero dizer, pelo... rei.

— Tudo bem, Kord — Eric acena com a cabeça e Kord, um homem de no máximo 30 anos, vestindo o uniforme preto com dourado da Guarda, assente. Nem Eric, nem eu, nem os guardas ainda se acostumaram com a mudança, com a renúncia da rainha, então nem eles sabem como chamar Eric, nem eu sei como irritar ele usando seus títulos. Mas, no fim das contas, Eric só será o rei oficialmente depois da cerimônia de coroação, daqui a dois dias.

— Mas você está realmente bem? — Eric me pergunta, ainda de pé do lado da minha cama.

— Sim, foi apenas um sonho estranho. — Digo.

Olho novamente para o guarda parado na porta do quarto e Eric entende.

— Obrigado, Kord! — Eric diz, o guarda faz uma reverência, se afasta e fecha a porta do quarto. Ouço o som de seus passos pelo corredor; cada vez mais longe.

Eric se aproxima e se senta na cama na minha frente.

— O castelo está assustador demais?

— Muito, vou ter que passar a dormir acompanhado pelo rei.

Ele sorri e diz:

— Obrigado!

— Pelo quê?

— Por estar aqui.

— E como você viu, estou surtando! — Digo, e Eric sorri e eu o abraço. Espero que com o tempo eu consiga superar esse abobamento vergonhoso que eu fico quando vejo esse sorriso lindo dele.

Depois do casamento de Eric e do príncipe Joseph, que nunca chegou a acontecer, muito por minha causa e pela minha fuga (absurdamente heróica) das masmorras de Montero, Eric e eu temos nos visto muito menos do que eu gostaria, para ser sincero, o que faz sentido, no fim das contas. Voltei para as Terras Altas para arrumar minhas coisas e Eric voltou para Aurora, para arrumar suas próprias coisas e para se tornar rei. E, depois de idas e vindas, agora estou novamente em Aurora esperando para ver o garoto que eu gosto se tornando, de fato, um rei.

Ontem, Eric discursou para a população da cidade, falando sobre seu futuro reinado e, enquanto eu assistia, eu não conseguia deixar de pensar na ironia que minha vida se tornou. Se por um lado, fiquei achando fofo ver o Eric outrora assustado falando para uma multidão de gente com a voz forte e firme, por outro, achei engraçado pensar que, se alguém tivesse me dito antes que no futuro eu estaria ouvindo um discurso do futuro rei de Aurora, na cidade de Aurora, eu sorriria, faria uma piada e diria que isso era impossível.

A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do ReiWhere stories live. Discover now