Capítulo 7 - Vozes

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[Narrado por Eric]

Bem antes de sair da escuridão que tomou conta de mim e de abrir os olhos, minha cabeça se enche de vozes que se sobrepõem e, por mais que eu tente, não consigo entender o que falam. São muitas e elas estão desesperadas, e eu faço força para entender pelo menos o básico do que dizem, mas elas preenchem minha mente como se para tomar conta de mim e sei que se eu der alguma brecha elas conseguirão alcançar seu objetivo. A intensidade delas aumenta e continuo tentando me livrar das vozes e dos gritos que invadem minha mente; quando percebo que não vou conseguir segurar por muito mais tempo, sinto meu corpo se projetar para frente em cima da cama.

Ao abrir os olhos, demoro alguns segundos para enxergar alguma coisa com a luz fraca de dentro do quarto. Apenas alguns dos archotes estão acesos e o tremeluzir das chamas formam figuras que se movem de um lado para o outro pelas paredes do quarto e essa sucessão de movimentos me faz lembrar das vozes indistintas da minha cabeça. Sinto um arrepio estranho, mas não tenho tempo para pensar sobre ele.

Do meu lado direito, o rosto da minha mãe se ilumina perto de mim e ela sorri.

— Meu querido...

E, então, começo a relembrar de tudo (e de nada, considerando que me lembro de pouca coisa do que aconteceu). Lembro-me de despedir-me de Ben, Tamara e Enrique e de seguir para a sala do Trono, onde eu pegaria a capa do rei e...

— Como você está? — Minha mãe pergunta, levantando-se da poltrona onde estava e sentando-se num cantinho da minha cama.

— Eu... estou... bem — digo, sem nenhuma convicção, mas como não sei exatamente como me sinto agora, acredito que a resposta seja verdadeira, apesar de pouco precisa. — O que aconteceu?

Minha mãe franze a testa e passa a mão em meu cabelo molhado de suor.

— Não se preocupe, meu bem.

Pareço ouvir as vozes na minha cabeça novamente, mas finjo que são apenas fruto da minha imaginação, embora algo me diga que não são. Balanço a cabeça em negação, meio que instintivamente e minha mãe me observa.

— O que foi, querido?

— Nada não — minto, e a dor na cabeça aumenta. — E a coroação? — pergunto, tentando mudar de assunto e tentando não sucumbir à dor que lateja na minha cabeça.

— Também não se preocupe com isso por enquanto.

— E os outros?

— Estão todos bem, meu querido.

— Quem fez isso? — Minha cabeça parece girar.

— Ainda não sabemos.

— A segurança...

— Não fomos informados de nada.

— E Joseph?

A mulher que me criou enquanto tomava conta de um reino prestes a se dividir se levanta da cama, parecendo abatida. Ela passa a mão direita sobre o braço esquerdo enfaixado por conta da queimadura que ela sofreu quando a Rainha Luna resolveu atacá-la em pleno casamento meu e de seu filho.

— Nossas fontes confirmaram que Joseph estava em visita ao Porto de Tinveria — Passo a mão direita na minha têmpora direita, menos como sinal de descrédito ao que minha mãe disse e mais pela dor de cabeça que insiste em aumentar.

— E ele realmente... — paro de falar por conta do latejar da cabeça.

— O general Rik Llamas estava na Catedral, como deveria estar, e nenhuma de nossas patrulhas encontrou nada que pudesse ser uma ameaça a você ou à cerimônia de modo geral. Bombas foram plantadas em locais específicos do castelo, mas o intuito era confundir a guarda. Teoricamente não devia ter acontecido nada.

A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do ReiTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang