A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do Rei

Capítulo 6 - A Coroação

[Narrado por Ben]

Absolutamente tudo relacionado à preparação da cerimônia da coroação me deixa atordoado. Nos dois últimos dias, vejo pessoas andando de um lado para o outro dentro e fora do castelo de Aurora e vejo Eric muito menos do que eu gostaria, e quando o vejo, ele está correndo para fazer não sei o que, ou para resolver algum problema específico demais que não entendo, ou para se encontrar com um conselho de velhos que contrasta estranhamente com Eric; esse é o problema de gostar de um garoto que está prestes a se tornar rei, eu acho.

Entretanto, o que mais me preocupa não é isso, mas o pesadelo que continua me visitando em quase todas as noites desde que cheguei aqui para a coroação. Em todos eles, me aproximo de Eric com um aperto no coração e uma adaga nas mãos. Sei que, pelo menos conscientemente, eu não teria coragem nem capacidade de machucar o futuro rei, mas no sonho tudo é tão estranho que mal consigo compreender tudo o que acontece enquanto estou dormindo. Mas, no fim das contas, penso que talvez eu esteja dando valor demais a algo que pode não ser nada.

Existe uma equipe de preparação apenas para mim e a minha vontade é apenas de sair correndo daqui, embora eu não faça isso. Contra todos os meus instintos de autodefesa, continuo sentado enquanto uma mulher baixinha penteia meus cabelos pretos e mais curtos do que jamais foram, e um rapaz um pouco mais velho que eu organiza a roupa que devo usar na cerimônia de coroação. Tenho certeza de que pareço um bicho acuado, como na história dos meus possíveis animais de estimação, esperando apenas a oportunidade perfeita de dar no pé e sumir para onde ninguém vá me encontrar. Só que uma linha invisível me mantém amarrado aqui e essa linha entra no salão em que estou e sinto um buraco tão fundo quanto os Cânions de la Muerte em meu estômago.

Eric sorri para mim, enquanto os dois que me preparavam fazem uma reverência e saem do salão. O príncipe está absurdamente bonito, com a farda, as medalhas douradas e tudo mais, mas não digo isso. Pelo contrário, falo a primeira baboseira que vem à minha mente.

— Se eu soubesse que seria assim, eu teria deixado você naquela estrada...

O príncipe se aproxima de mim, e percebo que as palavras que eu disse anteriormente são a maior mentira que eu já disse. Ele está com uma farda de um vermelho escuro que contrasta com as medalhas e condecorações douradas e com uma calça preta.

— Desculpe-me por...

— Eric, se você continuar com essa mania sua de ficar pedindo desculpas por qualquer coisa, eu vou ter que cometer um crime contra a Coroa.

Ele sorri e sei que ele está pedindo desculpas mentalmente e isso faz com que eu queira abraçá-lo.

— Obrigado — ele diz, por fim.

Me aproximo de Eric. Ele dá um passo na minha direção e ouvimos duas batidas na porta pouco antes de ela se abrir e da Conselheira do Reino entrar. Me afasto.

— Eric, você já repassou todo o discurso?

— Sim, Lilian.

— E decorou a ordem dos acontecimentos da cerimônia?

— Sei que se eu errar, alguém estará lá para me dizer o que fazer, certo? — Eric brinca.

— Não é hora de brincadeirinha, menininho. De toda forma, depois de seu discurso, os primeiros cumprimentos serão ao rei de Tierrablanca, pois temos interesses diretos de aumentar a aliança com eles, considerando os problemas recentes com Victoria. Depois...

— Depois, os outros monarcas, os membros do conselho, depois a coroação, depois o desfile...

— Isso.