Capítulo Seis

5 1 14
                                    


Na ensolarada manhã de sábado, a mansão do conde pulsava com a agitação do esperado baile, meticulosamente orquestrado por ele e pela sua esposa, a condessa. O grandioso salão, imerso em uma atmosfera de elegância, estava prestes a receber as debutantes ansiosas pelo seu momento especial.

Entre a movimentação frenética, Ana Francisca, pela milésima vez, viu-se compelida a participar do evento que a incomodava. Enquanto isso, David, com passos apressados, percorria o imenso salão, imbuído na tarefa de finalizar os últimos detalhes das exuberantes decorações, colaborando com seus colegas para garantir que o ambiente refletisse a grandiosidade da ocasião.

- Senhor Castro. - exclamou a condessa com um toque de preocupação em sua voz - por favor, tome cuidado com esses vasos. Não queremos perder nenhum deles; estão meticulosamente contados para adornar cada canto do salão. Se perdemos algum, certamente haverá um vazio em algum recanto desprovido desse toque decorativo. - a condessa exibiu um sorriso um tanto ansioso, aguardando a garantia de David.

- Claro! Não se preocupe. - apaziguou ele, assegurando à mulher com confiança em sua expressão e postura.

- Obrigada. - agradeceu ela por fim, retirando-se com um gesto de gratidão.

O salão efervescente aguardava, e David continuava a desempenhar seu papel na tarefa intricada daquela manhã de sábado enquanto refletia sobre as cartas confiadas a Ana Francisca. Uma semana transcorreu desde a última vez que a viu no jardim da casa dela. As palavras trocadas naquele momento permaneciam como uma lembrança distante, deixando um vazio entre eles.

Em meio à solidão e melancolia, Ana encontrou conforto quando Joaquim, seu irmão, a convidou para uma estadia em sua casa. O cenário social da alta sociedade prometia uma série de bailes e eventos, agora sob a organização do conde. Joaquim vislumbrou nessa situação a chance de reviver os tempos passados ao lado da irmã e, ao mesmo tempo, auxiliá-la na busca por um marido adequado. Assim, nas entrelinhas dos eventos sociais, uma nova jornada começava para Ana, guiada pela esperança de encontrar não apenas companhia, mas também um parceiro compatível para o seu coração solitário.

Aproximar-se de Ana tornava-se um desafio para David, pois ela permanecia ausente de sua mansão há vários dias. Mesmo enquanto ele contribuía nos preparativos do baile na casa do conde, David continuava a residir na mansão de Ana, dedicando-se às infindáveis tarefas que pareciam ter se multiplicado uma vez que agora era a governanta quem coordenava tudo e isso resultava em uma dinâmica diferente, uma que David percebia como menos compassiva em relação aos empregados.

Recordando os dias em que Ana estava presente, ele notava a diferença na maneira como ela tratava os criados. Ana era uma pessoa benevolente, demonstrando empatia pelos empregados, evitando explorá-los e sobrecarregá-los com tarefas excessivas. Ao contrário da governanta e do chefe dos criados, Paulo, Ana preferia cultivar uma atmosfera de amizade, enxergando seus colaboradores não como simples "criados", mas como bons amigos. Essa diferença de abordagem destacava a falta de compreensão e humanidade na gestão atual da casa de Ana.

Apesar dos frequentes pedidos de Joaquim para auxiliar na mansão Rodríguez, David via-se impedido de se aproximar de Ana, consciente da inapropriação desse gesto. A frustração e raiva ferviam dentro dele, questionando por que ela não poderia encontrá-lo às escondidas, algo que ela sempre apreciava fazer em sua casa distante dos olhares curiosos dos irmãos.

No entanto, agora, Ana parecia ter mudado, ignorando-o completamente e recusando-se a direcionar-lhe sequer um olhar. A ausência de conexão visual deixava David ainda mais perplexo, e a sensação de ser ignorado alimentava a angústia que se instalava entre os dois. A complexidade do momento exigia dele não apenas lidar com os sentimentos conflitantes, mas também encontrar um equilíbrio delicado entre suas obrigações, desejos e as novas dinâmicas que circundavam a vida de Ana.

Uma Dama Incomum | Os Rodríguez - 4Where stories live. Discover now