Capítulo Nove

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Era tarde de quarta-feira e Ana Francisca repousava serenamente sobre a cama, os olhos fixos no teto artisticamente emoldurado por uma escultura intricada. Uma melodia silenciosa pairava no ar, ecoando os ecos do baile do último sábado. As recordações dançavam em sua mente, entrelaçadas com a sombra da discussão acalorada com seu irmão, Tomás. As palavras trocadas ainda reverberavam no silêncio do quarto. O lampejo da segunda carta da avó de David ecoava em sua memória, suas linhas carregadas de mistério e significado. 

Na penumbra do salão de baile, Ana Francisca entrou em uma intrigante conversa com Dominic Fernandes, o homem misterioso que se autodenominava barão. A revelação do título nobre surpreendeu Ana, pois o sobrenome Fernandes associado a essa posição era desconhecido para ela. Dominic, porém, explicou que sua ascensão era recente, e o antigo barão pouco conhecido.

Durante a troca de palavras, Ana percebeu uma conexão peculiar com Dominic, uma empatia que lembrava as interações com David. Descobriu que compartilhavam interesses comuns, como o gosto pela literatura. Dominic, diferentemente de alguns homens, acolheu sem julgamentos a paixão de Ana pelos livros, proporcionando um espaço para que ela se expressasse genuinamente. Enquanto as palavras dele fluíam suavemente na conversa, Ana captava nuances de um flerte e até insinuações para cortejá-la.

Um perturbador tumulto de emoções agitou o peito de Ana, diante da presença marcante de Dominic. Não era apenas a atração física que a intrigava, mas também a percepção de que ele representava algo mais. Sua posição na aristocracia e o título respeitável conferiam a ele um potencial como marido que Ana, de maneira prática, começava a considerar.

Os irmãos dela, por certo, ficariam envoltos em um orgulho genuíno ao saberem que Ana havia encontrado alguém que se alinhava aos padrões honrados da sociedade. Não era meramente sobre a beleza exterior, mas sobre a possibilidade de um parceiro com princípios sólidos e um título que ecoava respeito.

Contudo, pairava sobre Ana Francisca uma verdade inegável: uma conexão inexplicável tecida entre ela e o criado David. Foi ele, afinal, quem lhe concedera o primeiro beijo, acendendo a chama inaugural em seu coração. Antes mesmo de se aproximar, Ana já nutria uma admiração silenciosa por aquele jovem criado. A proximidade entre eles apenas intensificou o desejo de Ana de explorar essa ligação misteriosa. O segredo compartilhado entre eles era como um elo invisível, e a história intrigante de origem de David, prometida nas cartas por vir.

Dominic parecia, à primeira vista, ser o par perfeito para Ana, alguém que poderia iniciar uma família ao lado dela, seguindo os passos dos irmãos. No entanto, no âmago de seu ser, Ana reconhecia uma verdade inquietante: seu desejo verdadeiro residia em David. Apesar de seu coração apontar para o criado como a escolha mais autêntica, confrontava a complicada realidade imposta pelas expectativas sociais.

Os irmãos de Ana, em sua maioria, não demonstravam grande interesse por títulos nobres, alguns deles até se casaram com mulheres simples. No entanto, Ana conhecia as nuances de suas personalidades e, mesmo que não expressassem abertamente, sabia que insistiriam para que ela encontrasse um pretendente da aristocracia. Especialmente Tomás e Jonas, na visão deles, acreditavam que Ana precisava de alguém com estabilidade financeira para garantir seu bem-estar.

Decidiu, por enquanto, não adentrar demasiadamente nas complexidades que permeavam suas escolhas. Tudo ainda era novo e intricado, demandando tempo para analisar a dinâmica com Dominic. A próxima oportunidade de avaliação surgiria no próximo sábado, durante o baile na mansão do conde, proporcionando a Ana o espaço necessário para observar, refletir e compreender as nuances que envolviam sua interação com Dominic.

Nesse hiato de decisão, ela optava pela prudência, permitindo que o tempo agisse como um aliado na clareza das circunstâncias.

Os pensamentos de Ana giravam em torno da segunda carta de Beatriz, cujas palavras ainda reverberavam em sua mente. Enquanto caminhava pelo quarto em direção ao banheiro, a jovem carregava consigo a tensão das revelações e mistérios contidos na correspondência. O desejo por um banho relaxante tornava-se não uma busca por alívio físico, mas também um breve respiro mental diante das intrigantes mensagens que a carta carregava.

Uma Dama Incomum | Os Rodríguez - 4Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ