Capítulo Trinta e Três

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Depois da decepção dilacerante ao lado de David, a vida de Ana se transformou em um mar de tédio ainda mais profundo do que antes. A descoberta de que as jóias poderiam ter sido encontradas por outra pessoa apenas a afundou em uma desolação ainda maior. Enquanto David desaparecia mais uma vez, Ana se viu incapaz de buscar por ele. Ela decidiu que era hora de dar-lhe espaço, deixá-lo partir, pois sua própria jornada agora seguia por um caminho diferente.

O confronto com Tomás apenas complicou ainda mais as coisas. Sua presença constante era como a de uma águia vigilante, sempre observando-a atentamente. Na semana seguinte, Ana passou um tempo com Angelina escolhendo um simples vestido branco para o casamento. Apesar das insistentes sugestões de suas cunhadas por algo mais deslumbrante, Ana não sentia empolgação. O que antes era o ápice de seus sonhos agora se transformara em um pesadelo do qual ela desejaria despertar.

Ana se encontrava diante do espelho, observando sua reflexão enquanto uma criada habilmente arrumava seu cabelo. A sensação de dúvida pairava sobre ela, uma incerteza que a envolvia como uma sombra indesejada. Não estava completamente certa de estar tomando a decisão correta, mas o desejo de não decepcionar sua família falava mais alto.

O casamento seria discreto, reservado apenas para os membros da família Rodríguez, na pitoresca igreja de Monte Belo naquela manhã de sábado. Ao se casar com Dominic Fernandes, ela deixaria para trás o título de senhorita Rodríguez para assumir o de baronesa Fernandes.

- Baronesa Fernandes - ela murmurou para si mesma, testando o som das palavras em seus lábios. No entanto, ao se observar no espelho, uma careta involuntária se formou em seu rosto. Aquele título simplesmente não parecia combinar com ela, não capturava sua verdadeira essência.

Então, num sussurro quase imperceptível, ela tentou novamente:

- Baronesa Castro - disse ela, deixando o nome de David escapar por entre seus lábios - Senhora Castro - uma sensação de calor se espalhou por seu peito ao imaginar o sobrenome de David no seu nome de casada.

Ela suspirou, desviando o olhar para suas mãos entrelaçadas. Dominic, à distância, não era alguém repugnante, mas... algo dentro dela não conseguia se sentir confortável ao imaginar o que viria depois do casamento. Era como se algo estivesse fora do lugar, uma sensação estranha que a incomodava profundamente. No entanto, quando ela fechava os olhos e se permitia lembrar de todos os momentos em que David a tocara, uma eletricidade de desejo percorria seu corpo, despertando sensações intensas e indescritíveis. Era algo quase impossível de compreender - como poderia sentir tanto só de imaginar alguém?

- A senhorita está pronta - anunciou a criada, interrompendo os pensamentos de Ana, que abriu os olhos e se viu refletida no espelho à sua frente.

- Obrigada - respondeu ela, mas havia um leve tremor em sua voz, e ela se viu lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar de seus olhos.

- A senhorita está bem? - perguntou a criada, preocupada ao notar a expressão angustiada de Ana.

- Eu estou bem - respondeu Ana rapidamente, enxugando uma lágrima furtiva e forçando um sorriso para tranquilizar a moça.

- Não se preocupe, tenho certeza de que o barão Fernandes será um ótimo marido para a senhorita - tentou consolar a criada, mas suas palavras não conseguiram dissipar a angústia que se instalara no coração de Ana. Mesmo assim, ela forçou mais um sorriso, esperando que suas dúvidas e receios fossem apenas passageiros.

Em algumas horas, Ana já havia descido as majestosas escadas da propriedade de Joaquim e o aguardava no hall de entrada. Ele seria seu acompanhante até o altar. Seus irmãos e cunhadas já estavam na igreja, esperando por sua chegada tardia.

Uma Dama Incomum | Os Rodríguez - 4Where stories live. Discover now