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pov: Juliette

Nunca me senti tão sozinha na vida quanto essa noite. A casa só não estava mais silenciosa devido ao som extremo do meu choro compulsivo, que preenchia toda a solidão. Meu coração estava, de fato, dilacerado, quebrado, como nunca antes e talvez jamais voltasse a ser o mesmo. Havia me entregado de corpo e alma para Sarah, e confiei cegamente de que ela me protegeria de qualquer queda, e jamais ousei pensar que seria ela a me empurrar no precipício. E enquanto eu caía, divaguei por momentos nossos, cada etapa do nosso relacionamento , desde o reality até o fatídico dia. Dizem que quando estamos morrendo, a vida passa como um filme em nossa mente, e apesar de ter a total ciência de que o amor que eu sentia pela Sarah, jamais morreria, foi dessa maneira que eu me senti. A beira da morte. Caindo em queda livre, sem nenhum paraquedas.

Passei a noite inteira em claro, perdi o apetite e vaguei por pensamentos antagônicos. Ora pensava em todos os momentos bons que vivenciamos juntas, ora me torturava tentando imaginá-las juntas. Forçava a minha mente a reviver todos os nossos momentos juntas desde o dia em que Alicia apareceu em nossas vidas, tentava a todo custo reparar em detalhes que antes passaram despercebidos, e me sentia ainda mais idiota por novamente não perceber nada de diferente. Como eu pude ser tão besta?

Só percebi que já havia amanhecido pois a luz solar invadiu meu quarto, me despertando de um breve cochilo. E tornei a chorar, quando percebi que não era um sonho, e sim a minha nova realidade. As manhãs em que eu acordava mais cedo do que Sarah, ficava admirando-a dormir como um anjo envolta dos seus fios loiros, e que agora estavam castanhos escuros. Mas agora tudo o que me restava, era um espaço completamente vazio, na cama que antes era testemunha de nossas infinitas cenas de amor.

Meu coração foi arrancado do peito, e agora no lugar, havia apenas um eco, implorando pra ser salvo por aquela que o deixou em completa solidão. E mesmo que meu coração, meu corpo e minha mente implorem para tê-la novamente, eu jamais perdoaria tal falta de respeito comigo, e com a família que construímos.

— Alô. — Falei com a voz completamente  arrastada, devido a intensa noite de choro.

— Oi Ju, bom dia! É a Abadia, como você tá, minha filha? — Dona Abadia perguntou, com a preocupação evidente em seu tom de voz.

— Vou ficar bem! — Respondi, sem certeza alguma se, de fato, ficaria. — A Lua está bem? — Tentei mudar o rumo da conversa.

— Ela está bem, não se preocupe, querida. — Ela tentou me tranquilizar. — Mas eu estou preocupada com você.

— Eu vou ficar bem, não se preocupe comigo. — Pedi, sentindo a cabeça latejar a cada fala minha. — Eu sei que falei que deixaria a Lua o final de semana com vocês, mas eu preciso muito dela aqui comigo, vocês se importam se eu busca-la mais tarde? — Minha voz voltou a falhar, e a tristeza me invadir, mas não queria que Abadia percebe-se e me segurei ao máximo.

— É claro que não Ju, nós entendemos e remarcamos para outro final de semana.

— Obrigada. — Engoli mais um choro. — Eu só vou tomar um banho e busco ela.

— Ju? — Ela chamou.

— Hum?

— Vocês precisam conversar. — Ela começou. — Eu nunca me meti na relação de vocês duas, porque sei o quanto prezam pela privacidade, mas eu nunca vi vocês assim, minha filha. — Ela fez uma breve pausa, esperando alguma reação minha. — A Sarah nem sequer conseguiu dirigir até aqui, o Evandro teve que busca-la no meio do caminho. E a sua voz tá por um fio, provavelmente você também chorou a noite inteira. Eu jamais passaria a mão na cabeça da Sarah, e você sabe bem disso, mas eu realmente não acho que ela tenha feito algo com essa menina.

Sariette - Paixão de RealityWhere stories live. Discover now