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pov: narrador

Era completamente estranha a tensão formada onde antes só o amor fazia moradia. Como uma infeliz coincidência o céu havia amanhecido nublado, assim como estava o relacionamento de sariette, mas como combinado, Sarah havia ido visitar Lua.

— Porque você entrou? — Juliette perguntou ao ouvir a maçaneta da porta, e em seguida se deparar com a presença física daquela que sempre seria capaz de acelerar os seus batimentos cardíacos.

A paraibana estava com uma cesta nas mãos, recheada com diversas peças de roupas de Lua, enquanto a pequena garotinha dormia tranquilamente no andar de cima. Juliette havia sido surpreendida com a presença de Sarah adentrando na sala da casa, quando estava se dirigindo para a lavanderia.

— Porque eu tenho a chave? — Sarah replicou, mas talvez a obviedade em sua voz tenha sido facilmente vista como ironia.

— Você não mora mais aqui. — Juliette disse.

— Amor... Quando é que você vai pôr um fim nisso? — Sarah se referia a crise unilateral que estavam enfrentando.

— Eu já coloquei! — A paraibana respondeu, mas se referindo ao compromisso delas. — E guarda esse apelido pra usar com a Alicia.

— Juliette. — Sarah foi atrás da mulher que caminhava firmemente em direção a lavanderia, na tentativa de fugir dos seus próprios pensamentos sobre Sarah e Alicia juntas. — Já deu! — A ex-loira agarrou-a pelos braços, tendo finalmente os castanhos penetrantes direcionados pra si. — Apenas para e pensa! — Pediu, tendo apenas aquele cesto de roupa suja entre elas. Que ironia. — Você acha mesmo que eu seria capaz de me envolver com outra pessoa tendo tudo o que eu sempre sonhei bem aqui? — Os verdes penetrantes estavam focados nos castanhos, tentando passar a verdade que sempre foram fáceis de serem lidas.

— Talvez não tenha sido o suficiente pra você. — Respondeu Juliette, com a voz amolecida e carregada de tristeza por pensar nessa hipótese.

Sob um céu carregado de mágoas e incertezas, os olhares gelados e intensos revelavam um clima descomunal.

— Não diz isso, nunca mais na sua vida, Juliette! — Sarah pediu, mas o seu tom era como uma ordem direta e sem intenção de ter repetições. — Vocês são as melhores coisas que já me aconteceram, e meu coração é um lugar seguro onde vocês podem descansar tranquilamente porque jamais vão ser machucadas. Jamais! — As mãos suaves de Sarah encontraram o rosto moreno, e num gesto impensado seus polegares passaram a deslizar suavemente de um lado para o outro, numa carícia repleta de ternura. — Eu queria muito que as pessoas fossem boas de coração, que tivessem a mesma pureza que você tem no seu, mas infelizmente elas não são e o mundo é cruel, principalmente o mundo da fama, e eu tive a certeza disso quando essa garota começou a nos infernizar sem um motivo aparente, e eu esperava que a nossa relação fosse forte o suficiente pra não restar sequer um pequeno terço de dúvida de que eu jamais te trairia, mas eu também entendo que a Alicia tá usando armas poderosas pra nos atingir, e eu vou descobrir como. — Sarah soltou uma respiração mais pesada do que o normal. — E também sei que isso realmente mexe com a sua cabeça, aliás, com a de qualquer um, mas Ju.. sou eu, a mulher que dorme todas as noites ao seu lado, e que mesmo assim sonha com você. — Os castanhos estavam fixos no verdes, e não haviam desviado em nenhuma fração de um segundo. — Eu sou completamente realizada ao seu lado, você me proporciona sentimentos intensos e únicos. — Os respectivos olhares se perdiam nos respectivos lábios, que mesmo com certa distância imploraram para serem pressionados um contra o outro, eles se atraiam feito um ímã. A distância, que antes era considerável, foi ficando cada vez mais curta, ao ponto de sentirem a quentura das respectivas respirações.

— É... — Juliette estava sem palavras diante da declaração de Sarah. Seu peito subia e descia com mais intensidade, revelando a aceleração dos seus batimentos cardíacos. Suas pupilas dilatadas eram facilmente vistas diante dos verdes que estavam tão próximos. Suas mãos suavam e ansiavam para agarrar a cintura de sua esposa. Seus lábios suplicaram para tocarem os de sua esposa, e foi o que ela fez. Matou a maldita saudade que sentiu daquela boca na sua. A saudade invocou uma mistura de sentimentos nostálgicos, ternos e melancólicos, e sensações de calor no coração e no corpo inteiro, uma mistura de felicidade e tristeza, um desejo intenso de reviver momentos e criar novos, e uma sensação reconfortante de estar perto da pessoa amada.

Num ato impensado, Juliette acabou por largar o cesto de roupas sujas no chão, e agarrou a mulher à sua frente, dando ainda mais intensidade aquele beijo voraz, carregado de nostalgia, Sarah chutou o cesto para longe, sem desgrudar dos lábios de Juliette. Mas no andar de cima, uma pequena garotinha acabou despertando, e chamou atenção de suas mães com o seu choro agudo, implorando para ter a presença física delas. E infelizmente o casal precisou se afastar, com muito custo e contra suas próprias vontades, estavam com a respiração acelerada e com ainda mais anseio de prosseguir com aquele beijo.

— Dessa vez ela tá te chamando. —  Acabaram por rir do comentário, mas aos poucos o sorriso se desfez e voltaram a se encarar com os olhos brilhando, e sem a certeza de que a crise chegou ao fim. — Vai lá ver ela... Eu.. Eu preciso — Disse Juliette, desnorteada. — É... Lavar essas roupas.

Sarah até queria tocar uma última vez com seus lábios nos dela, mas se limitou em fazer uma última carícia com seu polegar na face da esposa. Tinha medo de que qualquer gesto fosse capaz de fazer aquele momento chegar ao fim.

A ex loira subiu aquelas escadas saltitando, como uma adolescente que ganhou atenção do affair. Sarah encontrou a garotinha que também enchia seu coração de alegria, sentada no berço, e o choro de Lua cessou no exato momento em que seus olhos encontraram as iris esverdeadas de sua mãe, seu choro deu lugar a um sorriso carregado de felicidade. Com muito esforço, a pequena garotinha conseguiu ficar de pé no objeto, e usou uma das suas rechonchudas mãos para agarrar-se na madeira do berço, enquanto fechava e abria sua mão livre, numa tentativa de chamar sua mãe pra mais perto.

— AÍ MEU DEUS! — Sarah exclamou diante da nova descoberta da filha.— Você é tão esperta, meu amor. — Disse s aproximando do berço, e envolvendo Lua em seus braços, num abraço quase sufocante para a pequena, que tentou se desvencilhar dos mais novos fios escuros de sua mãe que insistiam em voar pelo seu rosto. — Eu te amo tanto, passarinho. — Declarou, em meio a sessão de beijos depositadas nas bochechas rosadas de Lua.

A risada de Lua ecoava pelo ambiente, afastando quaisquer resquício de sentimentos negativos, aliás atraia os mais positivos possíveis. Como um ímã, Juliette foi atraída para aquele mesmo ambiente, mas se limitou em ficar na plateia, apenas observando aquela cena que sempre enchia seu coração de ternura. Aquela garotinha era o mundo para aquelas mulheres, e aquelas mulheres dariam o mundo por ela.

Sariette - Paixão de RealityOnde as histórias ganham vida. Descobre agora