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Essa fic vai ser rápida ,porque ela já estava sendo feita,como sabem é uma adaptação/ tradução. Espero que gostem de verdade.

 Espero que gostem de verdade

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Wangji

Não estava preparado para o dia em que meu filho veio até mim e falou a verdade.
— Pai, quero ser escoteiro. Quero ir acampar. Quero me juntar aos Falcões.
Como todos os pais, eu gostaria que meu filho tivesse feito teatro ou moda como eu quando criança. Não acampar e sujeira. Mas, infelizmente, a vida não funcionava da maneira que pretendíamos.
— Ah — foi minha resposta eloquente ao meu filho Yuan. — Eu não sabia que gostava de natureza e outras coisas.
Era isso que os Falcões faziam? Eles usavam lenços no pescoço como minha avó e eram fãs de roupas bege. Eu me lembrava vagamente deles de quando eu era jovem. Meu irmão mais velho, Xichen, havia se juntado aos Falcões, mas desistiu alguns meses depois para jogar futebol.
— Posso? — Ele perguntou novamente.
— Um segundo. — Passei por ele no corredor da casa de Edith, de braços cheios com dois sacos de papel carregados. Ela era nossa vizinha e graciosamente cuidava de Yuan depois da escola em troca de mantimentos grátis do Market Thyme, o supermercado de classe média onde eu trabalhava. Eu teria dado a ela meus órgãos vitais por toda a ajuda que ela forneceu, especialmente quando ele era mais jovem e a creche estava fora do meu orçamento.
Edith me deu um beijo na bochecha. Seu marido havia morrido há muito tempo, mas ela preenchia seus dias com hidroginástica, voluntariado e Pilates online. Yuan e eu guardamos as compras e troquei duas lâmpadas na cozinha dela.
Ela estudou meu rosto, alisou uma ruga emergente em minha testa.
— Wangji, querido. Parece muito cansado.
— Verdade. — Quando você trabalha em dois empregos e criava um filho sozinho, o cansaço era normal.
— Você não precisa fazer isso sozinho.
Esse já era o código para encontre a porra de um marido. Não, obrigado, prefiro ficar com a exaustão perpétua.
Eu segurei sua mão e consegui dar um sorriso irônico. — Também te amo.
     

Um sopro de nostalgia me recebia toda vez que eu entrava em minha casa. Era a casa onde cresci. Quando meus pais faleceram, uma década atrás, eles deixaram para mim e meu irmão. Xichen estava na costa do Alasca trabalhando em uma plataforma de petróleo, então era essencialmente toda minha. Eu não tinha feito muito para atualizá-la – isso exigia dinheiro e tempo. Felizmente, o papel de parede e os painéis de carvalho estavam voltando à moda.
— Então, os Falcões? — Joguei meu avental Market Thyme sobre uma das cadeiras da cozinha. Uma pilha de pratos sujos me lançou um olhar maligno da pia.
Yuan jogou a mochila sobre a mesa e tirou um folheto. A emoção explodiu em seu rosto. Ele era jovem o suficiente para ainda não ter aprendido como controlar suas emoções.
Mas caramba, ele era um ótimo garoto. Quando me tornei pai, nove anos atrás, não sabia que era possível amar uma pessoa ou qualquer coisa tanto quanto amava meu filho. A cada ano que envelhecia, Yuan revelava novas camadas para si mesmo. Pude observar como sua personalidade se formou bem diante dos meus olhos.
Mesmo sendo adotado, eu via partes de mim nele. Em seu sorriso torto e cabelo bagunçado, em seus olhos curiosos e risada sincera.
Mas não via interesse pela natureza e roupas bege em mim.
Ele entregou o folheto, que mostrava meninos e meninas fazendo uma fogueira e armando uma barraca.
— Você pode brincar com fogo e amarrar todos esses nós malucos.
Uma vez fiquei com um cara na minha vida passada que adorava me amarrar em nós malucos. Ele era dos Falcões?
— Legal — eu disse.
— E você pode obter insígnias por realizar diferentes conquistas.
— Legal. Gosto de conquistar.
— Há reuniões semanais em que fazemos atividades divertidas e depois vamos acampar a cada poucos meses. Nós vamos para a floresta com nada além de nossas mochilas e temos que sobreviver por um fim de semana apenas com nosso conhecimento sobre o meio ambiente.
Eu duvidava muito disso. Sourwood era uma pequena aldeia com muitas famílias abastadas. De jeito nenhum isso funcionaria com os pais e as crianças que não podiam ficar seis minutos sem seus telefones.
Inferno, nem eu.
— Então, posso fazer isso? — Seus olhos ficaram super arregalados. Sua esperança e entusiasmo tocaram meu coração.
Yuan raramente era convidado para festas de aniversário, brincadeiras ou festas do pijama. Quando perguntava sobre a escola, ele não falava muito e falava menos ainda quando perguntava sobre amigos. Isso partiu meu coração regularmente, e sempre me perguntei se a falta de vida social dele era por minha causa. Não éramos ricos como muitos de seus colegas de classe. Eu não podia comprar para ele os aparelhos e roupas mais recentes. Os pais de outras crianças eram médicos, executivos, empresários, advogados. Eles não estavam embalando mantimentos e assumindo estranhos shows de locução.
Então, quando Yuan finalmente me procurou sobre uma atividade em que ele poderia brincar e fazer amigos, ele perguntou se poderia fazer isso?
— Caramba, sim, pode fazer isso!
O rosto de Yuan se animou em um grande sorriso, seus dois dentes da frente destacados, como os de um texugo, saindo do céu da boca. Ele envolveu seus braços magros em volta do meu pescoço.
Em minha mente, revirei minha agenda para ver como seria difícil levá-lo a essas reuniões semanais. Fosse o que fosse, eu faria funcionar.
— A primeira reunião é amanhã.
— Ele quicou na cadeira. — Com o líder escoteiro Wuxian.
Assim que ele disse seu nome, folheei para o final do folheto onde o rosto de Wei Wuxian  sorriu para mim, transformando minha alegria em raiva como um interruptor de luz.
— Esse cara é o líder dos escoteiros? — Apontei para o rosto esculpido de Wuxian com aqueles familiares olhos intensos, que sob qualquer circunstância normal eu acharia sexy, mas agora me causava repulsa, já que estava ligado a esse lixo de um ser humano. — Wuxian  é o líder escoteiro Wuxian?
Yuan assentiu. — Ele foi à nossa aula na semana passada. Ele parece legal.
Oh, ele certamente não era legal.
Ele era tão legal quanto refrigerante.
— Uh, pai…
Segui a linha de visão de Yuan até minha mão, onde o folheto se amassou em meu punho apertado.
— Algo está errado?
— O quê? — Joguei o folheto sobre a mesa da cozinha, onde ele caiu sobre um punhado de correspondências fechadas. Principalmente contas e anúncios. — O líder escoteiro Wuxian estará nesta reunião introdutória amanhã?
— Sim.
— Oh. Ótimo.
— Tudo bem?
Tudo bem? Bem, anos atrás, fiz um pacto comigo mesmo de não xingar na frente do meu filho. Eu queria dar um bom exemplo.
Mas eu estava pronto para jogar essa regra pela janela porque Wei Wuxian  era um idiota que, nas palavras de nossa senhora e salvadora Britney Spears, poderia comer merda e pisar em Legos.
Por que a única pessoa que está no caminho da felicidade do meu filho tem que ser esse cara?
Acalmei minhas emoções como um adulto. — Claro, está tudo bem!
Não estava tudo bem.
     
Troquei de turno com um colega de trabalho para poder acompanhar Yuan à reunião dos Falcões na noite seguinte, que estava sendo realizada no Centro Comunitário Arden MacArthur. Meus amigos e eu o chamávamos de Centro Comunitário Bea Arthur porque toda cidade deveria ter um edifício importante com o nome de uma Mulher bem-sucedida. Inferno, Sourwood tinha um prefeito gay que também era um amigo pessoal. (humildemente + gabando-se.)
Toda vez que eu dirigia por Sourwood, a cidade parecia cada vez menos familiar para mim. Ainda era a pitoresca cidadezinha ao longo do rio Hudson, em Nova York, a cerca de noventa minutos de Manhattan. O melhor de dois mundos. Mas novas lojas continuaram surgindo; casas antigas continuavam sendo demolidas em favor de novas e grandes. Minha casa ficava no lado mais antigo da cidade, em oposição ao lado novo com empreendimentos sofisticados. Embora a cidade estivesse crescendo rapidamente – impostos baixos sobre a propriedade e escolas públicas de alto nível eram como jogar gasolina no fogo
– Sourwood ainda mantinha o charme de uma cidade pequena.
Dirigimos pelo centro de Sourwood, uma estreita rede de ruas cheias de lojas fofas com as montanhas e o rio ao fundo.
Se você tivesse me dito que eu estaria morando em Sourwood com um filho há uma década, eu teria dito que você estava drogado. Depois de passar meus vinte anos vivendo a vida artística e de namoro na cidade de Nova York, percebi que precisava de uma mudança. Enquanto eu estava fazendo trabalho de locução para comerciais, pular de cama e viver em prédios sujos perdeu seu brilho. E entre meus pais falecendo e eu entrando nos meus trinta anos, tive vontade de ter um bebê. Eu queria ser pai e começar uma família. O Sr. Certo não tinha aparecido, mas eu não ia colocar meus sonhos em pausa esperando por ele.
Yuan era um menino de dois anos em um orfanato e me apaixonei no segundo em que o vi. Algo clicou em mim e eu estava pronto para mudar tudo em minha vida para cuidar dele, inclusive voltar para minha cidade natal, onde ele poderia ter uma vida boa. Arranjei um emprego na Market Thyme, que oferecia seguro saúde e horário flexível, e aceitei trabalhos de locução para ganhar dinheiro extra. Não era muito, mas valeu a pena. Eu queria que ele tivesse uma vida boa, mesmo que agora isso significasse ter uma interação social com o saco de vômito humano conhecido como  Wei Wuxian .
— Estamos atrasados? — Yuan olhou pela janela do carro. O reflexo das luzes da rua e das vitrines das lojas brilhava em seu rosto.
— Um pouco, mas essas coisas nunca começam na hora. — Entramos no estacionamento Bea Arthur.
Eu secretamente amava o Bea Arthur Center porque era um prédio dos anos 90. Do carpete verde caçador e das paredes azul-petróleo à tipografia datada na sinalização e nos painéis de madeira das paredes, era uma cápsula do tempo. Eu tinha atuado em peças e feito aulas de arte aqui quando tinha mais ou menos a idade de Josh.
— Está pronto? — Desliguei o carro. Yuan não desafivelou o cinto de segurança rapidamente.
— Você ainda quer fazer isso?
Ele acenou com a cabeça que sim, mas a hesitação vincou sua testa.
Baguncei o cabelo dele. — Vai ser ótimo. E se não for, voltamos.
— OK.
E eu realmente acreditava nisso. Embora o escotismo não fosse minha praia, eu tinha grandes esperanças. Mantive essas grandes esperanças enquanto caminhávamos pelo longo corredor do Bea Arthur Center até a grande sala no final. Uma voz familiar ecoou contra suas paredes. Meu estômago revirou.
Eu não tinha certeza do que significava “cingir seus lombos”, mas senti que estava fazendo isso quando girei a maçaneta.
Wuxian andava na frente da sala. O peito e as coxas em forma esticavam o tecido do uniforme caqui dos Falcões. Pena que não pude apreciar a vista porque seus olhos se estreitaram para mim.
— Você está atrasado — ele disparou.
— Chegamos aqui o mais rápido possível.
— O que foi — ele checou seu relógio, — oito minutos atrasado.
Uau, esse cara. Tinha uma ideia de onde ele poderia enfiar o relógio.
— Achei que haveria bate-papo de antemão.
— Bate-papo? — Wuxian disse a palavra como se fosse um palavrão.
— Sim, você sabe. Um pouco de bate-papo pré-reunião, e então você focaria nas coisas.
— Não, Wangji. Não é assim que dirijo essas reuniões. Aqui está um lembrete para todos: quando digo que as reuniões do Falcão são todas as terças-feiras às seis da tarde, isso não significa seis e cinco ou seis e dez. Começamos às seis em ponto. A pontualidade é uma parte importante de ser um Falcão, como deveria ser para todos.
Ele ergueu uma sobrancelha em minha direção. Como tantos homens gays, ele parecia gostar de superioridade e ser um idiota total.
— Sim, bem mer... coisas acontecem.
Os pais na sala engasgaram. Uma colocou as mãos sobre os ouvidos da filha.
— Eu disse que coisas acontecem.  Eu estava orgulhoso de mim mesmo por não quebrar minha regra de não xingar na frente de Yuan.
Wuxian me lançou um olhar que poderia cortar vidro. — Vocês dois, por favor, sentem-se.
Naturalmente, as únicas cadeiras disponíveis estavam no meio de uma fileira, forçando Yuan e eu a fazer ainda mais uma cena ao nos desculparmos com outros aspirantes a Falcões e pais de Falcões críticos. Minha cadeira rangeu quando me sentei, não era para um homem do meu tamanho. Wuxian revirou os olhos com o som.
— E Wangji?
— Sim?
— Agradeceríamos se pudesse evitar os palavrões.
Abri a boca para me defender, mas Wuxian havia retomado sua fala.
Virei-me para o pai ao meu lado e sussurrei: — Eu disse que coisas acontecem.

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