XVIII. Um Colega de Classe [L]

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Wafula sabia que Radulf tinha um leque inteiro de ideias para usar e torturar o ladrão mentalmente no longo processo de convivência dele em Arcallis, afinal, a única exigência de Idris era que ele continuasse vivo, mentalmente estável talvez não fosse uma opção com Radulf por perto. Ainda assim, Wafula jamais iria pensar que, em qualquer situação imaginável, Idris concordaria com alguma das ideias de Radulf. Menos ainda aquela.

― Como é que é?!

Claro que não houve oportunidade para que Radulf desse uma explicação para a sua artimanha, logo a conversa dos dois foi prontamente interrompida pela única pessoa do reino que não tinha medo de morrer por interromper Radulf.

― Pai Rad, pai Rad, eu treina hoje com o pai Wafula e com o Raí! Eu vai treinar todo dia pra ficar forte que nem o pai Wafula, eu vai trazer o Raí também pra treinar e pra fazer os desenhos que o pai Wafula diz!

Como de costume, Dargan entrou no escritório parecendo um furacão, e Radulf só se afastou de Wafula para dar atenção ao garoto. Mas a voz dele não foi a única que invadiu o ambiente, logo outra voz infantil foi ouvida em meio a uma respiração um pouco ofegante.

― Não é pra correr dentro do palacete, Dargan, o Lorde Branimir vai brigar com a gen―!

Um garoto um pouco mais alto que Dargan, provavelmente em seus dez ou onze anos, de pele morena e cabelos curtos, entrou correndo atrás de Dargan com uma expressão de repreensão que sumiu imediatamente assim que o olhar dele cruzou com o de Radulf. A reação do menino foi o tipo de reação com a qual Radulf estava bem acostumado de qualquer morador de Arcallis: ele arregalou os olhos e a pele negra ficou tão pálida que ele podia ter mudado de cor. Radulf quase podia ver a alma do menino saindo pela boca ao lhe encarar, com um leve brilho nos olhos em um misto de puro terror e admiração.

― Ah, Rad, esse é o Anraí, que eu te falei. Eu trouxe ele pra acompanhar o Dargan nos estudos. ― Wafula anunciou, se aproximando do menino e pousando a mão grande no topo da cabeça de curtos cabelos dele. O menino quase desmontou sob o peso da mão de Wafula.

"Wafula disse que você quer entrar para o exército, mesmo sem idade?", Radulf gesticulou direto para o menino, que pareceu ficar ainda mais pálido e prender o ar. Provavelmente, porque ele não entendia nada dos gestos de Radulf, e claro que o conselheiro fez aquilo de propósito.

― Ele é! ― Dargan que se meteu a responder, depois de dar duas voltas no escritório e parar ao lado de Radulf, sacudindo uma espada de madeira de brinquedo. ― Ele quer ir no exército e treinar, como eu! Eu vai treinar com o Raí e com o pai Wafula!

Anraí olhou de Radulf para Dargan com ainda mais admiração, como se para ele fosse inadmissível que o menino tivesse mesmo entendido o que o conselheiro tinha gesticulado. Talvez fosse só invenção de Dargan, o que quer que Radulf tinha dito, mas o Conselheiro voltou os gestos para Dargan daquela vez.

"Vocês vão estudar aqui primeiro. Só depois que vão pra o treino do exército".

― Depois amanhã?

"Bem mais do que amanhã".

― Depois de dois amanhã?

Radulf não teve como responder com alguma seriedade, ele só riu e concordou com um aceno de cabeça.

― Então tá! Eu vai fazer desenho então agora, tá?

Radulf concordou com um aceno de cabeça e gesticulou que Anraí ia com ele também.

― Raí, a gente vai fazer desenho agora, tá?

"Você ainda não me respondeu, garoto" Radulf voltou a gesticular para Anraí que ainda estava completamente perdido no rumo da conversa, ainda que admirado que ela tinha se desenrolado de alguma forma entre o Conselheiro e Dargan.

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⏰ Last updated: May 12 ⏰

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Um Silêncio de 15 AnosWhere stories live. Discover now