Capítulo 2 - O Ritual

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"Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia." Paulo Coelho

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Dois homens viciados em academia e esteroides estavam entre David e o bêbado, que seguia atrás com um grande sorriso no rosto. Não fazia muito tempo desde a investida sobre a linda moça, mas a embriaguez daquele prepotente ser havia desaparecido significativamente. David seguiu à frente com o queixo erguido, como se estivesse guiando os três às suas costas.

Ao atravessar o arco de saída do bar, David retirou um maço de cigarros do bolso e ao pendurar um sobre os lábios, acendeu um com um isqueiro Zipo. Respirou fundo e virou-se para os três homens que se aproximavam sem pressa.

- Conseguiu pelo menos o número de telefone dela? - perguntou o bêbado, enquanto batia com o dedo indicador na parte superior do maço de cigarros, finalmente puxou aquele pequeno cilindro de tabaco com os lábios.

- Ainda não! - David arremessou seu isqueiro para o bêbado e deixou escapar um sorriso. - Mas conseguirei na próxima semana ao relatar como consegui quebrar a cara de cada um de vocês.

O guarda-costas, de olhos verdes, do bêbado riu como uma gaita de fole desafinada:

- Thomas, você acha mesmo que este pedaço de cipó retorcido consegue mesmo quebrar nossas caras? - disse ele ao bêbado. - Na boa, essa não é uma história plausível, é melhor inventar algo mais pé no chão, se é que você me entende.

Sem hesitar, David soprou um turbilhão de fumaça no rosto do zombeteiro, seus olhos esverdeados ficaram vermelhos na mesma hora.

- Você não pode estar falando sério - David disse com um olhar triunfal àquele guarda-costas. - Se eu estiver cansado para te bater, chamo a tal da rinite para me ajudar.

Foi nesse momento que Thomas, o bêbado, e Guilherme, o segundo guarda-costas, gargalharam alto.

- Pô, Vini, não pensei que você ficaria tão mal - disse David sem tom de brincadeira ao ver que seu amigo não parava de esfregar os olhos. Ele, então, se aproximou mais do amigo e, antes que pudesse falar qualquer outra palavra, o mesmo executou um soco, mas cessou antes de atingir o nariz de David. A quase vítima, em reflexo, fez um movimento para trás, mas não tirou o sorriso do rosto.

- Nessa eu te peguei, malandro - disse Vinícius sorrindo, fingindo que seus olhos inchados e avermelhados estavam ótimos. - Se bem que a história ficaria bem mais plausível se você chegasse à próxima semana com um olho roxo.

Resumindo, David e Vinícius não eram amigos. Ambos tinham amizade com Thomas, o bêbado que não estava, de fato, bêbado. A causa principal desta guerra fria era que Vinícius costumava fazer brincadeiras sem graça com todos à sua volta a todo o momento, mas somente David tinha coragem suficiente para revidar, principalmente quando descobriu sobre a forte rinite alérgica que ele possuía.

Os quatro conversavam na extensa calçada de frente para a balada. Muito jovens recheavam as calçadas com suas conversas, roupas de marca e bebidas alcoólicas agarradas aos dedos. Os carros desfilavam nas ruas e seria impossível o motorista não estar usando um protetor auricular devido à altura do som. Guilherme, um dos marombas do grupo, tinha olhos azuis, um nariz pequeno e um apelido que ele odiava (por isso, os amigos insistiam em usá-lo): cebola. Ele ganhou esta carinhosa alcunha por causa do seu antigo corte de cabelo e mesmo depois de ter optado pelo aparador de barba nível zero. O outro praticante de academia, Vinícius, era o típico playboy que já morou por um tempo na Europa, já esquiou na neve e já chorou para o papai lhe comprar um carro novo, pois o seu não tinha ar-condicionado. O piercing em sua sobrancelha tremia enquanto ele encarava David.

O Olhar de CaronteWhere stories live. Discover now