Capítulo 36 - Sedução Fatal

16 1 4
                                    

____________________

"O único modo de evitar os erros é adquirindo experiência; mas a única maneira de adquirir experiência é cometendo erros."

Autor desconhecido

____________________


— Onde está o David?

Foi a primeira frase de Anne depois de mais de três horas de viagem. Gabriel a escutou e ficou feliz em escutar a voz dela, mas a pergunta em si pungiu sua alma. Engoliu em seco e respondeu com calma.

— Ele está com Elliot. Vamos nos encontrar com eles em alguns minutos... — Gabriel sentiu-se obrigado a continuar a conversa para se livrar-se daquele maldito silêncio e sem pensar direito, prosseguiu com outro assunto. — Você está apaixonada pelo David?

A pergunta não assustou Anne. Na verdade, ela manteve a mesma expressão robótica e inexpressiva que começara havia pelo menos três dias. O chiar irritante do vento sobre a janela antecipou a frase mecânica de Anne:

— Você está apaixonado pela Estela?

Aquela pergunta foi mais dolorosa e abrupta do que um acidente vascular cerebral. Gabriel olhou para sua irmã com um olhar sombrio, como se ela acabasse de dizer que era uma extraterrestre e teria de levá-lo para Marte. Por que ela fez isso, questionou Gabriel para si mesmo.

— Como assim, Anne?

— Eu gostava mais da Júlia.

Embora ela ainda falasse mecanicamente, a resposta foi sincera. Gabriel começou a tremer. Ele segurou a vontade de dizer a mentira de que Estela era Júlia, pois ele tinha consciência de que não era verdade. Ele não falava sobre o assunto com ninguém e não ia abrir uma exceção agora somente para afastar o silêncio.

Como ele não respondeu nada, o silêncio se instalou ainda mais pesado e quase asfixiante. Anne não mostrou nenhuma aversão para o calar do irmão e prosseguiu com os olhos estatelados e sem foco.

— Chegamos... Vou lhe ajudar a sair...

Gabriel abriu a porta e deu a volta até o banco do passageiro. Ele retirou o cinto dela e a ajudou a sair como se ela estivesse enferma, com dificuldade de locomoção.

Anne olhou à volta, mas não pode enxergar a cidade interiorana de nome Votuporanga. Estavam no centro e entravam em uma casa que ficava em frente à única praça. Pessoas humildes olhavam para os visitantes invasivamente e na sequência conversavam entre si para discutir sobre qual família eles pertenceriam.

Ao atravessar o pequeno portão de menos de um metro e meio, avançaram sobre um quintal bem cuidado e entraram em uma cozinha que cheirava a bolo de banana e chá de hortelã. Sentado sobre a mesa estava Elliot, concentrado no manuseio do garfo sobre o bolo suculento e cheiroso em seu prato.

De repente, Letícia apareceu de uma passagem sem porta e se assustou ao mirar em Gabriel e Anne que apareceram do nada. Ela disse um olá sem graça e sentou ao lado de Elliot.

— Onde estão os prisioneiros? — perguntou o irmão.

— UM EM CADA QUARTO! OS REFÉNS ESTÃO DORMINDO. DEMOS UNS COMPRIMIDOS PARA ELES DESCANSAREM E NÃO POSSO GARANTIR SE VÃO ACORDAR NOVAMENTE. EM RELAÇÃO A DHERICK, ESTÁ ACORDADO ATÉ AGORA, ATÉ HOJE. NÃO O DEIXAREMOS DORMIR ENQUANTO NÃO NOS FALAR COMO FUNCIONA O CÂMBIO...

Gabriel estava mentalmente fraco. Sabia que se continuasse a utilizar o Fluxo de maneira desmedida, correria grande risco físico e mental. Mas o que ele poderia fazer? Dizer não? Eles já fizeram o mais difícil, não podiam desistir. Ele tinha esperança de que em breve não teria que ficar mais diretamente contra os Quânteros e poderia voltar à vida como era antes, com sua irmã e sua amada...

O Olhar de CaronteWhere stories live. Discover now