Capítulo 6 - Bar Medieval

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"Crianças e loucos dizem a verdade. Por isso, se educam as primeiras e se encarcerar os segundos."

Sofocleto

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De maneira alguma estou dizendo que as segundas-feiras são boas, mas esta em especial, para David, foi uma das piores.

Os gritos de Guilherme, em súplica pelos dois braços quebrados, ainda ricocheteavam na mente de David. Vinícius decidiu que o levaria a outro hospital e não naquele do qual estavam próximos, pois com o início do incêndio na casa ao lado e como eles estavam vestidos como mendigos, a polícia logo poderia fazer perguntas, o que não seria nada bom para os jovens. Dessa forma, Guilherme ficou gritando por muito, mas muito tempo mesmo.

Por mais incrível do que pareça, a mente de Guilherme estava ainda pior do que os braços fraturados:

- Vocês estão marcados e serão buscados pelo Senhor da Morte. Vejo vocês no inferno! - O consciente de Guilherme repetia a ele próprio, sem piedade, as palavras do velho amaldiçoado.

Mas, afinal, o que de fato aconteceu naquela casa ontem?

A noite foi bastante longa e o grupo pôde conversar e chegar a uma conclusão. Caronte apareceu no quarto deles, ponto. O problema foi que o ritual não foi executado de forma correta e talvez os instrumentos não estivessem completos ou não fossem adequados. Dessa forma, o senhor da morte ficou bastante irritado e puniu o grupo que o executava. Os moradores de rua dentro da casa perceberam o incêndio bem no começo e conseguiram fugir antes mesmo que o grupo percebesse.

Até essa parte, a explicação era bastante plausível, porém:

- E aquele velho maldito? Eu vi com meus próprios olhos ele se desintegrar e queimar o livro da Incisão.

Era óbvio: o que Guilherme viu não passara de uma armadilha de sua própria imaginação, mas não disseram isso para ele. Ultimaram que o medo que ele sentia fez com que imaginasse tudo aquilo e finalmente fecharam o caso, orgulhosos, até que, no dia seguinte ao do incidente, no período da tarde, David recebeu uma ligação:

- David, David, está me escutando? - Thomas se desesperou ao perceber que o sinal estava bastante ruim.

- Estou escutando, pode falar. - David foi para o fundo da loja para que nenhum cliente ou vendedor pudesse ouvir.

- Não passou nada na TV!

- Quê? Como assim? Fala logo aonde você quer chegar.

- David, a casa estava em chamas ontem! Não tinha mais ninguém nela. Quem apagou o incêndio? Só os bombeiros poderiam ter salvado a casa. Mas nenhum jornal e nenhum canal da TV não falou nada - berrava Thomas, descontrolado.

- Calma, brother. Talvez eles falarão nisso hoje à noite ou amanhã pela manhã. Vou passar lá na frente hoje para ver como está.

- Não precisa! - rebateu Thomas de imediato. - Eu estou aqui e tudo está normal, como ontem. Os moradores de rua entram e saem como se nada tivesse acontecido. Aliás, eu consegui enxergar algumas partes lá dentro e não há sinais de incêndio.

As palavras que Guilherme dissera na noite anterior visitaram a mente do cético David. Será que a culpa de tudo fora a bebida que ingeriram? A Senhora Morte manipulou a mente deles durante o incêndio ou estaria manipulando agora?

De repente, David escuta a clássica limpeza de garganta que significava que alguém o estava observando enquanto fazia algo de errado.

- Thomas, tenho que desligar. Estou trabalhando. Te ligo mais tarde. - Com um sorriso pálido, David baixou os olhos para não ter que olhar para o raivoso rosto de Bigode, o dono da Ovelhas Elétricas.

O Olhar de CaronteWhere stories live. Discover now